terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ele está entre nós!

Oo


Saudades


A verdade é que eu sinto saudades.
Muito mais do que as saudades do cheiro, do sabor, do tato, do som e da imagem, sinto saudades da sensação do coração pulando, de encontrar o lugar em que ninguém nos verá, de fazer algo (que todos vão saber) que só nós dois vamos saber, depois, que fizemos. Da brincadeira, da descontração, do olhar que toca no fundo da alma.
Perco de vista tudo o que me fez mal e fico pensando em tudo aquilo que não se realizou porque o matamos no dia-a-dia.
Fico com ares de pêsames pela conversa não tida, pelo sorriso não dado, pela mão não pega...
Eu sinto saudades dos teus cabelos, hora loiros, hora castanhos, hora negros... Dos sorrisos, hora abertos, gigantes, espontâneos, hora tímidos, olhando de baixo para cima, como um felino prestes a dar o bote, hora irônico e debochado...

O ponto é que sinto saudades de cada pequena coisa boa que me aconteceu. E como minha memória não tem espaço suficiente nem para o básico indispensável, as coisas ruins são eliminadas naturalmente, quase que instantaneamente. Não: o fato de eu não guardar rancor não é intencional ou por ser uma boa pessoa. 

Assim, passo uma boa parte da minha vida pensando nas coisas boas e imaginando o quanto teriam sido fantásticas, caso tudo se encaixasse perfeitamente.

Só que essas horas de boas lembranças me causam um mal estranho e diferente. Não lembro das coisas ruins e, portanto, não sofro duas vezes pela mesma coisa. Só que todos esses caminhos bons que foram soterrados a sete palmos me causam um penar muito grande. É quase como um luto por todas as coisas boas que não chegaram a acontecer, porque foram abortadas.

E isso é o que me faz refletir tanto antes de dar respostas definitivas; dizer um "não" é matar tudo o que poderia ter acontecido, caso tivéssemos dito "sim". Assim como dizer um "sim" mata toda uma linha de ações que aconteceriam caso nossa resposta fosse um "não".
Fico imaginando cada uma destas possibilidades quase como se fossem vidas paralelas, que acontecem enquanto eu estou aqui. Como se eu mesmo fosse uma linha alternativa dos outros "eu's", que deram respostas diferentes para as mesmas perguntas que eu respondi.
Acho estranho me achar uma probabilidade, só um dos volantes de mega-sena preenchidos, para cobrir todas as possibilidades.

Em algum universo paralelo, eu devo nunca ter saído de POA... Em outros, posso ter ido a bilhões de lugares diferentes de Criciúma... Posso estar morto, pobre, louco ou podre de rico. Isso tudo com eventos diferentes dos que eu criei na minha vida.

Mas, no final de tudo, é bom estar aqui, agora. Porque, de verdade, não importa onde poderíamos estar. Sentir-nos vivos com o que temos é sempre a melhor sensação possível.

Att.
Arthur Tavares
"Quando a necessidade e a perfeição são inimigas, há algo errado."

quinta-feira, 3 de novembro de 2011