domingo, 31 de março de 2024

Sobre a marcha do tempo e estar sozinho

Existe um momento em que todo mundo entende a inexorável passagem do tempo.

Porque, amigo, quer você tenha notado ou não, o tempo passa. E com o passar do tempo o progresso acontece. E por "progresso" eu não quero dizer "sair de uma condição pior para uma condição melhor". Não. A condição simplesmente se adapta aos novos usos e costumes. E não há absolutamente nada que você possa fazer para impedir que o novo pensamento assuma seu lugar.

Mais dia, menos dia, todos entendem que o tempo passa, que as coisas mudam e que a ÚNICA resposta possível é se adaptar às novas condições. Mesmo porque a alternativa é morrer.

A boa notícia é que você pode influenciar os novos usos e costumes. Você pode estar na vanguarda. Você vai errar, você vai acertar, ninguém nunca fez o que a vanguarda está fazendo. Mas a alternativa é deixar que as outras pessoas ditem os novos costumes e, portanto, as novas condições e circunstâncias.

Na minha vida, eu nunca me permiti assistir de camarote as mudanças feitas nas áreas que eu acredito serem importantes. Eu sempre estudei e ponderei sobre os assutos, sempre dei a minha cara a tapa, sempre levantei meu braço, sempre dei a minha opinião nas dicussões e sempre que pude arregacei as minhas mangas e fiz o meu melhor para que as coisas acontecessem.

E agora, com 41 anos, eu vejo que o tempo passou.
E eu vi a marcha do tempo passando quando notei que estou trabalhando com pessoas de 20 e poucos anos. Pessoas que nasceram quando a internet já estava consolidada. Pessoas que nasceram depois de 9 de setembro de 2001. Pessoas que nasceram depois que o Orkut foi lançado.

A marcha do tempo me pegou pois eu vi os buscadores nascerem. E eu me achava na vanguarda por saber usar palavras-chave e encontrar rapidamente a informação necessária. Eu me achava O CARA por saber criar sites e indexar as palavras-chave corretamente para aumentar as chances do site ser encontrado em buscas... mas isso lá no distante 2003. "SEO" não era algo sequer sonhado!

Os conceitos que eu tenho de internet passam por estudo sério, trabalho árduo, tentativa e erro e, enfim, progresso a custo de muito esforço.
Aí, hoje, eu sou jogado em organizações junto com pessoas de 20 anos que usam as mesmas ferramentas intuitivamente. Pessoas que cresceram com os conceitos que eu ajudei a criar, usando as ferramentas como se fossem as coisas mais simples do mundo.

Eu sei. Eu fiz o mesmo. O vídeo cassete da minha casa nunca ficou piscando "12:00": eu sempre deixei tudo perfeitamente configurado. Mas vai esperar o mesmo dos meus pais e avós?

Céus. Vídeo cassetes nem existem mais...

O que eu quero dizer é que o tempo passa.
E passa para todo mundo.
E nós, enquanto criaturas finitas, temos o tempo contado.
E se nós não tomarmos a responsabilidade da passagem do tempo nas nossas mãos, o tempo vai passar. E vai nos deixar pra trás. E tudo o que poderemos fazer é reclamar que o tempo passou e não fizemos nada.

Quando eu tinha 17 eu gritei bem alto em um círculo de pessoas, no meio de uma dinâmica, que minha principal característica era "mutação". Claro, eu queria ter dito "adaptabilidade". Eu mudo de acordo com a circunstância. E faço de tudo para a circunstância mudar de acordo com o que eu acredito.

No fim, são as duas faces do espectro político "progressismo" versus "conservadorismo".
Uma depende da outra, uma influencia a outra e nenhuma das duas está certa ou errada.
Parece a Dilma falando, eu sei. Mas se você prestou a atenção no texto viu que fez sentido.

Hoje é aniversário do meu pai.
Eu já não convivo com a minha mãe desde 2003.
Nesse mês de março decidi parar de conviver com meu pai, também.

Eu não aguento mais pessoas que não tomam em suas mãos as rédeas de suas vidas, não fazem seus sonhos acontecer, culpam o mundo inteiro por seus fracassos pessoais e passam a viver nas sombras do que poderia ter sido.
E, infelizmente, cada dia que passa eu só vejo mais e mais gente assim.

O tempo passa, as pessoas acham que tudo caiu do céu, não se esforçam para fazer acontecer e reclamam daquilo que resultou a sua falta de ação.

Frustrante.
E cansativo. Porque somos tão poucos que corremos atrás das realizações. Que fazemos acontecer. Aí a democracia faz com que a maioria vagabunda tome decisões que tiram dos poucos que fazem e dão para os muitos que só reclamam. 

Certa vez eu falei que ia morrer sozinho, e tudo bem.
Eu nunca me senti tão sozinho como me sinto hoje.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Sobre Redes Sociais, Imaturidade e Alexandre de Moraes

 As redes sociais mostraram a verdadeira face das pessoas.

Não, eu não acho que o problema esteja na ferramenta.
Se nós verificarmos a evidência histórica, o problema NUNCA é a ferramenta em si, mas a PESSOA que está utilizando a ferramenta.

É o famoso "armas não matam, o que mata são as pessoas".
Um carro não atropela ninguém. Quem atropela é o motorista imprudente.
A diferença entre o remédio que cura e o veneno que mata é apenas a dosagem, prescrita e administrada por pessoas. Na dosagem errada, até a água pode te matar.

Sempre, sempre o problema são as pessoas.
Nunca, nunca o problema é a ferramenta.

Outro dia li um post bobo que dizia: "Lembra quando nós achávamos que o problema era falta de informação? Veio a internet e nós descobrimos que não é."

O problema nunca é a ferramenta.
Quando Gutemberg criou a imprensa e popularizou o livro impresso, as pessoas diziam que os escribas perderiam o emprego. Que os livros tirariam o foco das pessoas. E outros diziam que os livro ajudariam a disseminar o conhecimento. Quem usa os livros corretamente acaba lendo as grandes obras e enriquecendo seu pensamento. E quem usa os livros errado acaba lendo besteiras e acaba emburrecendo mais ainda.

O mesmo aconteceu com o rádio, com a TV e, é claro, com a Internet.

A mesma internet que pode te ensinar algo enriquecedor a cada dia, te oferece conteúdo emburrecedor talvez até em maior proporção.

O problema não é a ferramenta. O problema é a pessoa.

As redes sociais são uma ferramenta. Algo fantástico, inovador. Um experimento social que será lembrado por gerações. Você e eu somos as primeiras gerações a termos contato com essa revolução.

Estamos tateando e ainda falta muito para podermos dizer que estamos engatinhando nas redes sociais. Fenômenos como bolhas de assuntos, grupos de interesse, fazendas de manipulação de assuntos, etc... são muito novos. Praticamente ninguém está preparado para compreender a dinâmica das interações em redes sociais.

E esse texto é sobre um ponto que eu pequei por muito tempo.
E é o mesmo ponto que figurões como o Alexandre de Moraes peca: o contraditório.

Porque, veja bem, "quando você abre sua boca para falar algo sobre a natureza da realidade, automaticamente você faz um milhão de inimigos que já disseram - ou dirão - que a realidade era outra coisa completamente diferente. Expressar-se é, em resumo, uma atividade degenerada."

Cada um de nós vive em um nível de MATURIDADE.
Veja bem, você não discute com uma criança sobre decisões importantes do dia a dia. Se você deixar uma criança de 5 anos decidir sobre as compras para a casa, você terá um rancho de balas, doces, chocolates, salgadinhos, refrigerantes, iogurtes e talvez alguma fruta muito doce.

No seu ponto de vista, não existe inteligência nas escolhas de alguém que possui menos maturidade que você.
Do mesmo modo, quem tem mais maturidade que você julga as tuas decisões como imaturas.

Eu, antes, pensava que a inteligência importava.
Porém, não. Não se trata da inteligência, se trata da maturidade.
Hitler teve soluções extremamente inteligentes ao seu comando. Os foguetes que usamos foram desenhados e construídos primeiramente pelo esforço de guerra nazista. A propaganda nazisnta é aplicada ainda hoje em dia com eficácia certa.
Mas ao mesmo tempo, todas as soluções brilhantes foram usadas para fins completamente imaturos. Eugenia e supremacia de "raça" são conceitos infantis, tolos e torpes.

Sendo assim, discutir na internet é algo degenerado por princípio: como podem duas pessoas que jamais se viram discutirem algo?

Exemplifico: Imagine uma pessoa que leu livros e mais livros sobre determinado assunto. Fez exercícios, praticou, errou, acertou. Foi a encontros sobre o assunto. Assistiu palestras, fez cursos, tem certificações e diplomas. Praticou profissionalmente, resolvendo problemas reais de outras pessoas com seu conhecimento. Desenvolveu sabedoria sobre o assunto, sabendo exatamente qual ferramenta usar, quando e porque. Criou ferramentas e tecnologias sobre o assunto. Talvez tenha até escrito um livro sobre sua experiência. Quem sabe até tenha dado aulas sobre o assunto.

Agora imagine essa pessoa entrar na internet e falar algo sobre o assunto que domina.
E essa pessoa ser respondida por um adolescente que tem menos anos de vida do que os anos de carreira da pessoa.

Qual é a validade da resposta do adolescente sobre o assunto?
A resposta do adolescente sequer vale uma réplica?
Pensa bem, se você diz para a criança que o céu é azul e a criança responde que o céu é verde, vale a pena brigar? E se acontecer a briga, de quem é a culpa? Da criança ou do adulto que engajou em uma discussão com a criança?

Eu era esse adulto. Queria estar certo em redes sociais o tempo inteiro. Tem uma tirinha onde a mulher pronta para ir para a cama chama o homem que está no computador. E o homem responde "já vou, querida, tem alguém falando besteira na internet e eu tenho que mostrar que ele tá errado!".

Inútil.

É o mesmo com o Alexandre de Moraes e toda figura pública autoritária na internet: eles estão comprando brigas com ilustres desconhecidos, anônimos em todas as áreas de conhecimento.
Chega a ser ridículo o ego frágil: um bocó da conchichinha do sul sem a quarta série completa fala que o Alexandre de Moraes está errado e o Alexandre de Moraes vai lá usar o aparato legal para impor censura nas redes sociais.

Jamais vou dizer que Admirável Mundo Novo estava certo e teríamos que segregar pessoas por capacidade cognitiva.
Mas que seria bom ter redes sociais por nível de maturidade, isso seria bom demais. Separar ambientes para alfas poderem conversar, para os betas poderem trocar ideias, para os Gamas assistirem futebol, para os deltas ficarem falando de religião e da vida dos outros e para o episilons venderem e comprarem pornografia.

Poder conversar com adultos sérios em vez de estar sempre perto de algum indivíduo da quinta série seria muito proveitoso.

Meu único pesar é saber que eu não vou estar vivo para testemunhar o final disso. E serei um dos julgados pela aurora da internet. Estamos plantando as sementes do que será a sociedade no futuro. Criando as ferramentas e os humanos que vão utilizá-las no futuro próximo. Porém, não estamos dando a ética e a moral necessárias para os próximos humanos utilizarem corretamente as ferramentas.

Queria saber se vamos continuar indo para o caminho imaturo do autoritarismo, se vamos cair na besteira da Idiocracia ou se vamos conseguir encontrar o meio termo da liberdade individual.

Só sei que maturidade dá trabalho.
E o povo agora não gosta de trabalho.