segunda-feira, 18 de março de 2024

Sobre Redes Sociais, Imaturidade e Alexandre de Moraes

 As redes sociais mostraram a verdadeira face das pessoas.

Não, eu não acho que o problema esteja na ferramenta.
Se nós verificarmos a evidência histórica, o problema NUNCA é a ferramenta em si, mas a PESSOA que está utilizando a ferramenta.

É o famoso "armas não matam, o que mata são as pessoas".
Um carro não atropela ninguém. Quem atropela é o motorista imprudente.
A diferença entre o remédio que cura e o veneno que mata é apenas a dosagem, prescrita e administrada por pessoas. Na dosagem errada, até a água pode te matar.

Sempre, sempre o problema são as pessoas.
Nunca, nunca o problema é a ferramenta.

Outro dia li um post bobo que dizia: "Lembra quando nós achávamos que o problema era falta de informação? Veio a internet e nós descobrimos que não é."

O problema nunca é a ferramenta.
Quando Gutemberg criou a imprensa e popularizou o livro impresso, as pessoas diziam que os escribas perderiam o emprego. Que os livros tirariam o foco das pessoas. E outros diziam que os livro ajudariam a disseminar o conhecimento. Quem usa os livros corretamente acaba lendo as grandes obras e enriquecendo seu pensamento. E quem usa os livros errado acaba lendo besteiras e acaba emburrecendo mais ainda.

O mesmo aconteceu com o rádio, com a TV e, é claro, com a Internet.

A mesma internet que pode te ensinar algo enriquecedor a cada dia, te oferece conteúdo emburrecedor talvez até em maior proporção.

O problema não é a ferramenta. O problema é a pessoa.

As redes sociais são uma ferramenta. Algo fantástico, inovador. Um experimento social que será lembrado por gerações. Você e eu somos as primeiras gerações a termos contato com essa revolução.

Estamos tateando e ainda falta muito para podermos dizer que estamos engatinhando nas redes sociais. Fenômenos como bolhas de assuntos, grupos de interesse, fazendas de manipulação de assuntos, etc... são muito novos. Praticamente ninguém está preparado para compreender a dinâmica das interações em redes sociais.

E esse texto é sobre um ponto que eu pequei por muito tempo.
E é o mesmo ponto que figurões como o Alexandre de Moraes peca: o contraditório.

Porque, veja bem, "quando você abre sua boca para falar algo sobre a natureza da realidade, automaticamente você faz um milhão de inimigos que já disseram - ou dirão - que a realidade era outra coisa completamente diferente. Expressar-se é, em resumo, uma atividade degenerada."

Cada um de nós vive em um nível de MATURIDADE.
Veja bem, você não discute com uma criança sobre decisões importantes do dia a dia. Se você deixar uma criança de 5 anos decidir sobre as compras para a casa, você terá um rancho de balas, doces, chocolates, salgadinhos, refrigerantes, iogurtes e talvez alguma fruta muito doce.

No seu ponto de vista, não existe inteligência nas escolhas de alguém que possui menos maturidade que você.
Do mesmo modo, quem tem mais maturidade que você julga as tuas decisões como imaturas.

Eu, antes, pensava que a inteligência importava.
Porém, não. Não se trata da inteligência, se trata da maturidade.
Hitler teve soluções extremamente inteligentes ao seu comando. Os foguetes que usamos foram desenhados e construídos primeiramente pelo esforço de guerra nazista. A propaganda nazisnta é aplicada ainda hoje em dia com eficácia certa.
Mas ao mesmo tempo, todas as soluções brilhantes foram usadas para fins completamente imaturos. Eugenia e supremacia de "raça" são conceitos infantis, tolos e torpes.

Sendo assim, discutir na internet é algo degenerado por princípio: como podem duas pessoas que jamais se viram discutirem algo?

Exemplifico: Imagine uma pessoa que leu livros e mais livros sobre determinado assunto. Fez exercícios, praticou, errou, acertou. Foi a encontros sobre o assunto. Assistiu palestras, fez cursos, tem certificações e diplomas. Praticou profissionalmente, resolvendo problemas reais de outras pessoas com seu conhecimento. Desenvolveu sabedoria sobre o assunto, sabendo exatamente qual ferramenta usar, quando e porque. Criou ferramentas e tecnologias sobre o assunto. Talvez tenha até escrito um livro sobre sua experiência. Quem sabe até tenha dado aulas sobre o assunto.

Agora imagine essa pessoa entrar na internet e falar algo sobre o assunto que domina.
E essa pessoa ser respondida por um adolescente que tem menos anos de vida do que os anos de carreira da pessoa.

Qual é a validade da resposta do adolescente sobre o assunto?
A resposta do adolescente sequer vale uma réplica?
Pensa bem, se você diz para a criança que o céu é azul e a criança responde que o céu é verde, vale a pena brigar? E se acontecer a briga, de quem é a culpa? Da criança ou do adulto que engajou em uma discussão com a criança?

Eu era esse adulto. Queria estar certo em redes sociais o tempo inteiro. Tem uma tirinha onde a mulher pronta para ir para a cama chama o homem que está no computador. E o homem responde "já vou, querida, tem alguém falando besteira na internet e eu tenho que mostrar que ele tá errado!".

Inútil.

É o mesmo com o Alexandre de Moraes e toda figura pública autoritária na internet: eles estão comprando brigas com ilustres desconhecidos, anônimos em todas as áreas de conhecimento.
Chega a ser ridículo o ego frágil: um bocó da conchichinha do sul sem a quarta série completa fala que o Alexandre de Moraes está errado e o Alexandre de Moraes vai lá usar o aparato legal para impor censura nas redes sociais.

Jamais vou dizer que Admirável Mundo Novo estava certo e teríamos que segregar pessoas por capacidade cognitiva.
Mas que seria bom ter redes sociais por nível de maturidade, isso seria bom demais. Separar ambientes para alfas poderem conversar, para os betas poderem trocar ideias, para os Gamas assistirem futebol, para os deltas ficarem falando de religião e da vida dos outros e para o episilons venderem e comprarem pornografia.

Poder conversar com adultos sérios em vez de estar sempre perto de algum indivíduo da quinta série seria muito proveitoso.

Meu único pesar é saber que eu não vou estar vivo para testemunhar o final disso. E serei um dos julgados pela aurora da internet. Estamos plantando as sementes do que será a sociedade no futuro. Criando as ferramentas e os humanos que vão utilizá-las no futuro próximo. Porém, não estamos dando a ética e a moral necessárias para os próximos humanos utilizarem corretamente as ferramentas.

Queria saber se vamos continuar indo para o caminho imaturo do autoritarismo, se vamos cair na besteira da Idiocracia ou se vamos conseguir encontrar o meio termo da liberdade individual.

Só sei que maturidade dá trabalho.
E o povo agora não gosta de trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário