quinta-feira, 6 de julho de 2017

Homem Aranha: Homecoming

Então essa semana eu fui lá assistir o novo filme do Homem Aranha.
Duas vezes.

E, para as três pessoas que sempre reclamam que eu só escrevo resenhas falando bem dos filmes, novamente um filme do Homem Aranha me decepcionou profundamente.

Eu sei, eu sei, é complicado para mim. Eu li todas as publicações do amigão da vizinhança lançadas no Brasil entre 1989 e 2002. O aracnídeo foi um amigo durante minha adolescência. E tanto conhecimento do herói faz com que eu note detalhes que destroem qualquer adaptação do cabeça de teia para a telona.

Começando pelo óbvio?
O maior poder do Peter é o sentido de aranha.
É um poder quase mágico. Consiste em uma "previsão instintiva do futuro próximo". O corpo do Peter reage antes que o pensamento consciente tome conhecimento do que aconteceu. É um poder muscular, visceral. Tal qual uma aranha parece "notar" que vai levar um tapa e consegue fugir ilesa, o sentido de aranha permite ao Peter "notar" perigos e evitá-los instintivamente. O Homem Aranha esquiva de balas melhor do que o Neo. O Homem Aranha não é pego de surpresa por um amigo que está no quarto dele.
Esse poder dá ao Peter CONFIANÇA.
Sim, Peter Parker é um fodido. Pobre. Tia doente. Hostilizado no colégio. Tudo de errado que pode acontecer com a vida de alguém, acontece na vida do Peter. 
Mas quando o Peter veste a máscara, o sentido de aranha dá ao Peter a confiança para sair esmurrando criminosos pela cidade. E o Peter usa isso como VÁLVULA DE ESCAPE da sua vida fodida. É uma terapia, quase um vício. Um sonho de qualquer adolescente. Poder descontar todas as frustrações do dia a dia prendendo bandidos.
Quando o Peter está vestindo seu uniforme, ele vira um debochado. Um piadista. Não é só legal ver os golpes acrobáticos que o Homem Aranha executa para prender os bandidos. Ler as piadas que o Homem Aranha faz enquanto luta é sensacional. Toda a parte depressiva da vida do Peter recebe o contraponto do herói fanfarrão.

Seis filmes, amigo.
A Sony fez SEIS FUCKING FILMES.
E, exceto a cena do ladrão de carro do Espetacular Homem Aranha 1, em NENHUM desses filmes nós vimos o Homem Aranha de verdade nas telas. São horas, horas e mais horas de problemas pessoais, problemas com a família, problemas no colégio, no trabalho, em relacionamentos, etc... e NENHUMA cena de um palhaço acrobático dando tapas em bandidos enquanto os ridiculariza.

Isso. É. Muito. Frustrante.

Homem Aranha: Homecoming é uma história de adolescentes.
Quase um seriadinho bobo de colégio.

Temos um jovem Peter Parker sobrecarregado com seu sendo de responsabilidade, tentando desesperadamente provar seu valor para Tony Stark.
Temos o "melhor amigo gordeenho que não pega ninguém".
Temos o "cara que só incomoda o personagem principal".
Temos a "gostosona do colégio".

Um aparte para Lis Allen.
Ela foi o primeiro interesse romântico de Peter nos quadrinhos. Ela era namorada de Flash Thompson e NUNCA deu bola pro Peter. Ridículo o modo como ela se joga pra cima do Peter no filme. Ridículo descaracterizarem a personagem em sua personalidade e até em sua cor. Mais ridículo ainda transformar Lis "Allen" em Lis "Toomes", definindo que o Abutre é o pai da menina. Não era necessário destruir a personagem desta forma. Poderiam ter criado outra personagem. Nós, fãs, não ficaríamos brabos, muito pelo contrário! 

E temos a Zandaya.
E aqui está a prova que não precisavam ter desfigurado e estuprado a personagem Lis Allen: criaram uma personagem totalmente nova para a Zandaya interpretar.
Se alguém aí souber porque a Zandaya tem um personagem no filme, por favor me avise.
Absolutamente TO-DAS as cenas da personagem dessa menina são dispensáveis para o andamento do filme. Algumas cenas da Zandaya são tão desconectadas do roteiro que eu fico me perguntando se há como exigir esses minutos da minha vida de volta para a Sony.

Bem. Eu não vou gastar mais tempo falando dessa menina e de seu personagem inútil.

Se for para passar raiva com esse filme, vamos passar raiva com um aspecto crucial: Homem Aranha: Homecoming é um FILME DE PASSAGEM.

Hulk, Homem de Ferro, Capitão América: O Primeiro Vingador, Thor, Homem Formiga e Dr Estranho são filmes de apresentação de personagens.

Homem de Ferro 2, Homem de Ferro 3, Thor Mundo Sombrio e Capitão América Soldado Invernal são filmes de sequência. Estendem o universo, ampliam os personagens.

Vingadores, Vingadores: Era de Ultron, Guerra Civil e, agora, Homem Aranha: Homecoming são filmes de passagem. Filmes que contam histórias necessárias para ligar pontos entre os demais filmes, criando o "Universo Cinematográfico Marvel".

Introduzir e dar um filme solo para o maior herói da Mavel em filmes de passagem é ultrajante.
A falta de respeito com o personagem Peter Parker é tão grande que temos duas ou três conversas que apenas citam a origem do herói. O Homem Aranha é - literalmente - "jogado" no meio do MCU. "Se vira aí, magrão".

Homem Aranha: Homecoming faz parecer que o Homem Aranha é um personagem menor, periférico no Universo Marvel.

Mas vamos falar das coisas boas do filme.
Sim, eu vi cinco coisas boas no filme:

1- Jennifer Connelly interpretando a Inteligência Artificial do uniforme do Homem Aranha.
Como vimos em Guerra Civil, Peter tem um uniforme horroroso. Tony cria um uniforme melhor para o Homem Aranha. O Uniforme está em "modo bicicleta com rodinha" e Peter hackeia o uniforme para liberar todas as suas funcionalidades. E uma delas é a Inteligencia Artificial interpretada por Jennifer Connelly. Os melhores pontos de comédia do filme estão entre o gordeenho Ned e a IA Karen.

2- Tia May.
De início eu achei complicado. Muito nova.
Mas então eu lembrei da tia May da primeira fase do Homem Aranha, lá na década de 60. E, sim, a tia May era uma senhora jovial. O corpo era castigado pela idade, mas os pensamentos eram jovens. A tia May daquela época jamais entendeu porque Peter se afastou dos amigos depois que o tio Ben morreu. Ela incentivava o Peter a sair com os amigos, fazia questão de fazer festinhas de aniversário para o Peter... inclusive foi a tia May e a tia Watson que por anos tentaram aproximar Peter e Mary Jane.
E é essa tia May que a Marisa Tomei interpretou na telona.
Sim, é estranho ver uma tia May tão nova e atraente. Mas o personagem está muito bom.

3- Interligação com o MCU
Sim, sacanagem dar um filme de passagem para primeiro filme solo do Homem Aranha.
Mas a MARVEL soube criar esse filme de passagem primorosamente. A interligação com o MCU é perfeita.
Apesar de não contarem a origem do Homem Aranha no MCU, as poucas cenas que tocam no assunto dão a entender que ocorreu o mesmo de sempre: Peter sendo picado por uma aranha radioativa, tio Ben morre, senso de responsabilidade, etc...
Mas a origem do Abutre ficou muito boa. Mostrar Adrian Toomes como alguém que está se aproveitando dos restos alienígenas de batalha para desenvolver tecnologias é interessante. Não foge muito da origem real do personagem - que só não envolve alienígenas no processo.

4- Michael Keaton.
Keaton tem uma presença de cena fantástica. Definitivamente é um dos melhores atores da sua geração. Se faltou algo nesse filme, foi o Homem de Ferro enfrentando o Abutre. Seria épico ver Robert Downey Jr e Michael Keaton em cena, juntos.

5- A SEGUNDA cena pós-créditos.
Sim. São duas cenas pós-créditos. Uma antes de rolar o nome da geral em fundo preto, outra DEPOIS.
E essa segunda cena é fantástica. 
Nem Deadpool, nem Guardiões da Galáxia me fizeram rir tanto. 
Fique no cinema até acabar a projeção. Não se arrependerá.


No geral, Homem Aranha: Homecoming não é um filme engraçado, não é um filme dramático e tem problemas sérios de adaptação de personagens. Para fãs de carteirinha, isso é o suficiente para não perder tempo assistindo esse filme em casa.

Mas o filme tem uma sequência muito boa (são quase duas horas e meia de duração e você não sente a hora passar), integração muito boa com o Universo Marvel e um elenco de peso que sustenta as deficiências da adaptação.

Em comparação com os cinco filmes feitos apenas pela Sony, Homem Aranha: Homecoming é disparado o melhor de todos os filmes do aracnídeo.

Entretanto, mesmo vendo apenas os pontos positivos do filme, Homem Aranha: Homecoming está muito atrás de Mulher Maravilha, Guardiões da Galáxia e Logan. Falta apenas assistir Thor e Liga da Justiça para confirmar o temor que eu tinha do Homem Aranha ser o pior filme de heróis do ano. (E esses dois precisam errar MUITO para serem ultrapassados pelo Homem Aranha.)


A partir daqui eu vou contar a história.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Nossos tempos

Sempre que falo sobre depressão eu inicio com esses lembretes IMPORTANTES:

1- Depressão possui muitas causas. O que eu estou falando não é verdade absoluta, é só uma tentativa de explanar uma das facetas.
2- Esse texto não é "receita de bolo". Se você se identificou com alguma coisa, não acredite cegamente no que eu estou falando. Procure ajuda especializada de qualidade.

"Beleza, Arthur. Então, se esse teu texto não fala tudo e, mesmo se acertar no caso, não deve ser usado ao pé da letra, porque tu estás escrevendo sobre depressão?"
Porque é algo que as pessoas precisam falar. Precisam ler. Nesse momento tem alguém deprimido que precisa de um "empurrão" para sair da depressão. Se eu acertar com uma única pessoa esse "empurrão" terá valido a pena todo o trabalho do texto.
E porque eu quero escrever.
Não quer ler, vá pra outro site.
Deixe de ser cuzão.
Obrigado.

É horrível não ter acesso ao que se precisa.
Talvez seja a pior coisa do mundo necessitar de algo para que sua vida seja possível e não existir a menor possibilidade de conseguir essa coisa.

Mas é igualmente perigoso ter acesso garantido e fácil a tudo que se precisa.
É talvez seja mais perigoso ainda ter qualquer coisa que se queira trazido até sua mão no momento que você quer, em bandeja de ouro.
São dois extremos que se unem em um único problema: a total falta de perspectiva.

O extremo de privação possui problemas óbvios e exaustivamente discutidos. Problemas, estes, que muitas pessoas se empenham dia após dia para sanar.

Mas o outro extremo - que é igualmente problemático - não é sequer citado rotineiramente.

"Arthur! Que pecado! Você está igualando o problema de alguém que não tem comida para se manter vivo com o de uma filha de magnata entediada???"
Acertei seu pensamento.
Vai.
Confesse.
(Acertar os números da Mega - que é bom - eu não acerto, né?)

Não, amigo. Pensando assim você jogou o problema da "acessibilidade ao que se quer" apenas ao aspecto econômico.
Não que o dinheiro não influencie, mas ele não é o principal e tão pouco o único nessa causa de depressão que eu estou tentando mostrar.
Sem falar que pensar assim eleva a barra do "problema do entediamento" apenas aos milionários. 

Nós, humanos, nunca tivemos tanto de tudo na história.
Pela primeira vez na história registrada temos menos de 20% das pessoas abaixo da linha da pobreza.
Isso significa que mais de 80% das pessoas têm acesso pelo menos ao básico para viverem.
Acesso a comida, água, agasalhos, abrigo, sexo, saúde, segurança, transporte, participação na sociedade, opções de lazer, etc...
Pessoas consideradas "pobres", hoje, têm mais acesso a conforto do que reis de alguns séculos atrás.
Através do nosso sistema de trocas - capitalismo - as pessoas são encorajadas a resolverem problemas das outras pessoas.
E isso cria um círculo de oferta de ajudas jamais visto antes.
As pessoas se especializam em um ofício e, assim, conseguem ajudar mais pessoas em menos tempo.

TEMPO.

Até o início do século 20 mulheres passavam a maior parte do seu dia empenhadas nas tarefas do lar.
E uma das tarefas que mais consumia tempo das mulheres era lavar a roupa.
Eram horas buscando água, ensaboando, esfregando, batendo, enxaguando, torcendo, pendurando e recolhendo roupas para famílias de 6, 8, 10 pessoas.
Com o advento de máquinas de lavar, o trabalho de horas diárias se transforma em alguns minutos alimentando a máquina, a máquina faz todo o trabalho pesado, mais alguns minutos para estender a roupa e, depois de secas, mais alguns minutos para recolher. (É algo tão fácil, mas tão fácil, que até homens - como este que vos escreve - operam todo o processo sozinhos. Muitos - como este que vos escreve - até dispensam auxílio de mulheres para o processo.)

E falar da máquina de lavar é só um exemplo.
Parvo.
Simplório.

Pense em quanto TEMPO a internet te poupa, todos os dias.

Lembre do tempo que não tínhamos todas as informações do mundo na palma da nossa mão, há uma googlada de distância.
Todos os dias temos acesso a tantas maravilhas que facilitam o nosso trabalho e, assim, nos poupam TEMPO precioso.
Nunca antes na história desse mundo as pessoas tiveram tanto TEMPO livre.
A escassez de tempo era, definitivamente, uma praga.
Não ter acesso a tempo era uma coisa desastrosa.
Imagine, por um segundo, quantas mentes brilhantes perdemos porque a pessoa estava empenhada em cortar lenha para aquecer a casa no inverno ou colhendo trigo, moendo, usando a farinha para fazer pão, etc... Mas, hoje, o excesso de tempo também se mostra algo prejudicial.

Desde sempre o ser humano anseia por OBJETIVO.
As principais questões filosóficas persistem por milênios:
"O que somos nós?"
"Qual é o nosso propósito?"
"Fazemos parte de um plano maior?"
"Qual o nosso papel no Universo?"

Milhares, milhões, bilhões, cada um dos seres humanos que já pisaram nesse mundo tentaram responder essas perguntas.
Mas muitos não tiveram TEMPO de se importar com elas.
A fome era grande e a necessidade de cuidar da plantação era maior.
A necessidade de não dormir na chuva e no frio eram maiores do que responder as dúvidas primordiais.
Hoje, com acesso a todas essas facilitações, muitos seres humanos têm TEMPO em suas mãos.
Tempo que, se não for devidamente direcionado para algo útil, se torna uma maldição. (Pense que há tanto tempo disponível que as pessoas estão inventando absurdos como "a Terra é plana", "vacinas causam autismo", etc...)

E em um mundo que entrega as soluções para as nossas necessidades muito rápido, o tempo que cada um possui parece eterno.
O homem médio quer tudo na mão.
Quer tudo já.
Quer exatamente aquilo que sonhou.
Quer mais perfeito do que jamais imaginou. 
Comida. Roupas. Carro. Casa. Reconhecimento. Sexo.

Um pequeno capítulo sobre "sexo" nesse contexto: Hoje é EXTREMAMENTE FÁCIL obter sexo.

E quem está falando isso é um homem, chato, baixinho, nerd, acima do peso, cheio de manias chatas, fora dos padrões de retardados medianos.
Agora você imagine o quão fácil é obter sexo para o homem "mauricinho-bombadão-frequentador-de-balada-sem-nada-na-cabeça".
Agora você imagine o quão simples é ter sexo para uma mulher.
Agora você imagine o quão simples é conseguir sexo para uma "mulher-capa-de-playboy".
Agora imagine essa mesma princesa malhada sendo lésbica e indo à uma festa...

Relacionamentos sempre foram uma causa de tristeza e depressão por histórias de amor que não conseguiram se concretizar.
Hoje, imagine você ser um pobre diabo apaixonado...

Estamos na era dos "contatinhos": cada pessoa mantem dúzias de pretendentes no seu telefone.
São conversas e mais conversas no whatsapp.
É um verdadeiro "menu" de sexo.
Algumas pessoas têm tantos "contatinhos" que passam os ANOS sem nenhum compromisso firmado.

A falta de foco afasta a pessoa do trabalho do dia a dia, necessário para alcançar seus objetivos.
Conheço pessoas com 35 anos, ainda solteiras, cujo sonho de adolescente era casar e ter filhos. Simplesmente porque não conseguem escolher um parceiro para trabalharem o sonho que tinham. Querem um "parceiro pronto". Que seja um "príncipe encantado" ou "princesa de fábula" "de fábrica". Não cogitam passar pelos percalços do dia a dia. Não suportam o primeiro sinal de discordância.

E muitas dessas pessoas sequer conseguem manter a tal fidelidade: começam o projeto com um contatinho, mas os demais continhos estão lá no celular, chamando a todo minuto.

A facilidade em obter o que se deseja tira o aspecto do trabalho árduo para obter o sucesso.
E, sem o trabalho árduo, a conquista se torna banal.

Não vale a pena consertar a relação com o "príncipe encantado"; é mais fácil terminar tudo e chamar o próximo da lista para sair.
A cerveja no final do dia já não tem mais o sabor de vitória. Ela é barata e abundante. A cerveja precisa ser especial. Puro malte. Artesanal. Suada. Sangrada.
O churrasco do final de semana não é mais aquela conquista de uma semana exaustiva. É direito adquirido. Estranho é o dia que não tem churrasco. Porque não tem churrasco hoje? Que fim do mundo!!!

Uma sequência de conquistas banais cria uma vida banal.
E como essas facilidades estão espalhadas pela sociedade, a banalidade se repete ao infinito.
Não há sequer como reclamar da falta de desafio da própria vida, pois as demais pessoas possuem o mesmo vazio.
E aí você imagina o efeito manada agindo e algumas pessoas lutando até mesmo para conseguir obter a mesma vida vazia que os amigos possuem, achando que isso é "sucesso".

Eu não sei quanto a vocês, mas esse vazio crônico cria vidas ocupadas e sem objetivos.
As pessoas, tais quais zumbis, levantam, trabalham, estudam, comem, namoram, bebem, viajam, etc... de modo automático.
Parece que a vida passa por essas pessoas, não que essas pessoas passam pela vida.

Milhões de fotos lindas para apresentar em redes sociais e o vazio da espera paciente por likes, olhando para a tela do celular no escuro da noite.

E quando a pessoa se vira para contemplar o império que construiu... Pra quê? Por quê?

A vida SEM ACESSO é dura, mas traz consigo PERSPECTIVA. A pessoa precisa correr atrás do que necessita.
A vida COM MUITO ACESSO, quando mal orientada, remove a PERSPECTIVA da pessoa.

E eu não sei quanto a vocês.
Mas, pra mim, esse vazio de "não saber o que fazer amanhã" é pior até do que a certeza da forca ao amanhecer.
Suga a alma não ter a mente ocupada com um problema para resolver.
Corrói o espírito não ter utilidade.
Cada hora desperdiçada se torna uma prisão, aonde as barras se arrastam fazendo "tic-tac".
Ver alguns desejos sendo atendidos tão rapidamente quanto o tempo de espera para entregar a pizza e outros tão distantes quanto o sonho de ser um roqueiro famoso alimentam a ansiedade.
A ansiedade força os planos perfeitos por horas das horas vagas acumuladas.
E todo esse pensamento impede que o primeiro passo seja dado.
E por não dar o primeiro passo, os planos lá do futuro não mostram o menor sinal de estarem se aproximando.
Então põe-se os planos em dúvida.
E não sabemos o que fazer amanhã.
E aí você lê novamente esse grupo de frases.
E de novo.
E mais uma vez.

Aí, quando você chega na beira do precipício da loucura, você olha lá pra baixo.
Opa, é só a luz do celular.
O whatsapp tá aberto.
Você tá falando com 8 contatinhos ao mesmo tempo.
"Ok, vem aqui em casa, hoje. Traz pizza. Meia coração, meia o que você quiser."
"Tá, amanhã a gente se vê."
"Tá, sábado no sushi"
"Pô, parabéns pelo namoro."
"Cê tá ficando? Poxa, vamos nos ver mesmo assim!"
"Pode ser um café, sim! Bom falar contigo!"
"Oi sumida! Sonhei contigo ontem..."
"Só semana que vem. Vamos falando!"