terça-feira, 15 de setembro de 2015

Capitalismo é sobre o AMOR

Vou começar esse texto com essa palestra, aqui.


Se você assistiu a palestra, já aviso que só vou tentar explicá-la, aqui. Provavelmente vou complementá-la com um pouco do meu conhecimento. Mas basicamente falarei sobre o que ele falou.

No Brasil, temos a visão de que "Empresas só querem o lucro".
Aliás, temos a visão de que o "o trabalhador é sempre explorado".
Temos, também, as visões de que "o consumidor só quer se dar bem" e que "o consumidor é sempre roubado".

Todas essas visões convergem para o mesmo ponto: "O Capitalismo é ruim."

Mas a verdade é que o capitalismo é sobre AMOR.

Explico.

Vamos começar com o básico. Vamos começar lá na época aonde os humanos nem tinham uma caverna para chamar de "sua". Aonde éramos coletores/caçadores. Nômades, procurando árvores com frutos ou correndo atrás de manadas.
Enquanto a comida existia, as pessoas naturalmente iam se reproduzindo. Conforme fomos desenvolvendo métodos para vivermos mais, a quantidade de humanos foi aumentando. Primeiro fizemos sistemas de defesa contra predadores. Depois, fizemos armas para caçar os predadores. Depois, passamos a caçar e comer melhor. Depois, passamos a ter mais tempo para cuidar uns dos outros.


Conforme nossa expectativa de vida aumenta, nossa população aumenta junto. E quando a população aumenta, precisamos de mais comida para manter todos os indivíduos. E na sociedade nômade, a comida não é de ninguém. É de quem chega antes. Notando a grande quantidade de pessoas e a limitada quantidade de alimento, a tragédia dos comuns ocorre. "Farinha pouca, meu pirão primeiro", como diz o velho ditado.


Então um nômade (Chamado de "Bob" pelo palestrante) pensou: "E se eu caçar e não matar um animal? E se eu colocar umas cabras em um cercado? E se eu ordenhar essas cabras, tomar seu leite, fizer queijo, manteiga, etc... E quando eu quiser carne, posso matar um dos seus filhotes!"

Isso é uma pessoa trabalhando para atender a SUA PRÓPRIA necessidade. Segundo Maslow, a primeira necessidade. A primeira forma de amor: o amor próprio.

Acontece que muitas vezes os outros nômades olharam as cabras de Bob e pensaram: "porque Bob pode ter cabras e nós não?" E os outros nômades atacaram Bob. Mataram Bob. Roubaram e comeram suas cabras, o leite, a manteiga, o queijo, as peles, etc... 

E isso aconteceu milhares de vezes na história da humanidade.

Até que o capitalismo primordial aconteceu.

Em certo momento, Jim - outro nômade - viu as cabras de Bob e, em vez de pensar em roubar Bob, pensou: "o que Bob precisa, não tem e trocaria pelas cabras?" O momento mágico em que Jim notou que poderia atender a necessidade de Bob para ter a sua própria necessidade atendida... Esse momento foi crucial para o desenvolvimento da humanidade como um todo. Porque, aqui, passamos a dividir o trabalho. Aqui, passamos a ver o outro como alguém valioso para nós.
Nesse momento, Jim criou duas formas de amor: A que atende às necessidade de segurança e às necessidades sociais, tanto do Bob quanto dele próprio.

Jim passou a plantar cereais, legumes, verduras e frutas. E sempre que queria leite, manteiga, carne ou peles, fazia uma cesta com os melhores frutos e os oferecia em trocas com o Bob.
E o próprio Bob, quando queria cereais, legumes, verduras e frutas, fazia sua cesta com leite, manteiga, carne peles, para oferecer em trocas com Jim.

Claro que existiam problemas nisso. Comida estraga. Não serve de moeda de troca por muito tempo.
Sem falar que é complicado mensurar quantas maçãs valem um pernil de cabra.

Aí entrou o dinheiro. E que invenção maravilhosa o dinheiro!
O dinheiro nos permite mensurar o trabalho que levamos para conseguir algo. Somamos os custos dos produtos necessários para a produção com o reconhecimento do esforço (gorjeta) que o outro tem pelo nosso trabalho e BANG! Temos o preço do nosso produto ou serviço.
O dinheiro nos permite guardar esse trabalho efetuado de modo quase eterno! Eu tenho uma maçã que não vou comer porque não estou com fome agora. Você está com fome agora e quer minha maçã. Eu aceito o metal dourado que você tem em troca da minha maçã. Amanhã, quando eu estiver com fome, eu posso usar esse metal dourado para comprar uma maçã de você ou de qualquer outra pessoa! O trabalho que eu tive para produzir a maçã foi preservado. E eu posso utilizar esse trabalho no momento que eu quiser para obter uma outra maçã tão boa quanto a que eu te vendi. E eu posso, inclusive, comprar algo que não seja uma maçã. Posso comprar uma pêra, uma banana, qualquer coisa.

E essa desigualdade no tratamento das relações que é importante frisar.
O amor não é sobre todos sermos iguais. Se todos fossemos iguais, não haveria necessidade de amor.
O capitalismo, assim como o amor, se fundamenta na desigualdade entre os relacionamentos. Precisamos de avaliações diferentes sobre a mesma situação para nos interessarmos pela troca.

O exemplo da xícara de café.

Hoje pela manhã eu acordei com vontade de uma xícara quente de café.
Hoje pela manhã, o dono da lanchonete acordou sabendo da quantidade de pessoas que querem uma xícara de café. O dono da lanchonete saiu da cama mais cedo, antes de mim. Ele se deslocou até a sua lanchonete. Limpou equipamentos. Moeu grãos, ferveu a água, passou o café.
Quando eu cheguei na lanchonete, o café estava pronto.

E nesse momento mágico, uma relação de desigualdade foi estabelecida. O dono da lanchonete gosta da xícara de café que ele fez. Deu trabalho. Mas ele prefere mais os meus R$2,00. Eu adoro meus R$2,00. Foi difícil conquistá-los. Mas eu prefiro mais a xícara de café do dono da lanchonete.

Não é uma troca zerada, como os comunistas gostam de dizer. É uma relação em que o dono da lanchonete está transferindo carinho pelos clientes, na forma de trabalho. E os clientes estão reconhecendo esse esforço na forma de dinheiro para o dono da lanchonete.

Todas as trocas que fazemos, todos os dias. São necessidades suas que estão sendo atendidas por outras pessoas.

Pessoas que pensaram na frente. Pessoas que tomaram empréstimos, criaram uma estrutura... Totalmente no escuro. Sem saber se todo o esforço que estavam tendo teria algum impacto na vida das outras pessoas.
Pense em toda a estrutura de criação de um carro. São anos de estudos de tendências de mercado. De desenvolvimento de designe. De peças. Testes de viabilidade, desempenho, de segurança... Criação de estruturas para atender às necessidades da produção do carro. Geração de empregos. Desenvolvimento de estratégias de marketing. São anos de esforço e dedicação para um carro estar parado na concessionária quando você passar.

O que garante que esse carro vai te interessar?
O que garante que a pipoca quentinha no carrinho do pipoqueiro vai te interessar?
O que garante que qualquer esforço que tu fizer vai atender às necessidades de outra pessoa?

Nada.

É só um ato arriscado de amor.
E esse é a última forma de amor que existe no capitalismo.


Sem o trabalho das pessoas, não existiria nada. NADA. N-A-D-A.

Seríamos um grupo de macacos que vive no máximo 30 anos, andando pra lá e pra cá procurando frutinhas e cabras para comer.

Fazer alguma coisa pela sociedade. Participar do desenvolvimento do nosso mundo. Contribuir ao menos com um quinhão para construir um mundo melhor para nós mesmos e para as próximas gerações.
Segundo Maslow, esse é o último tipo de necessidade. E lembre-se: se preocupar em atender uma necessidade é amor.

E se o capitalismo é algo tão bom assim, porque ele não funciona em muitos lugares?
Porque o capitalismo parece tão cruel aqui mesmo, no Brasil?

Justamente porque tiramos o aspecto de reciprocidade das relações.
Porque o brasileiro gosta de trocar o pagamento em dinheiro pelo esforço feito, por entidades como "favor", "solidariedade" ou outros meios.

E isso é ridículo, porque nós trabalhamos muito, por aqui. São muitas pessoas para atender necessidades. Existe trabalho por todos os lados, por aqui.

O que acontece para que não haja dinheiro nas transações? Porque nós temos que depender de outras entidades para reconhecer o esforço de quem atende nossas necessidades?

Porque, no Brasil, nosso governo retira cerca de 70% do que produzimos de nós, através de impostos.
Esse dinheiro nos faz falta no nosso dia-a-dia. A sensação é de que não existe dinheiro no mercado. Vivemos em uma sensação de recessão constante.

Somos tão mal acostumados com dinheiro corrente, que não sabemos lidar com "dinheiro no bolso". Nossa última década mostrou isso bem direitinho: a China comprou nossos produtos e inundou nosso mercado de dinheiro. Com muita produção, os investidores internacionais passaram a colocar seu dinheiro no nosso país. Com dinheiro no bolso, simplesmente saímos comprando qualquer bobagem que nos colocavam na frente. Pior do que crianças!

Não satisfeitos em gastar o dinheiro que tínhamos, passamos a PEGAR DINHEIRO EMPRESTADO!!!
Gastamos o dinheiro emprestado... E agora temos que pagar o empréstimo. Mas sem a China comprando da gente. Sem o dinheiro dos investidores externos.


Ainda se o governo nos desse serviços que atendessem às nossas necessidades... Mas não. O governo nos tira 70% do nosso dinheiro. Não atende nenhuma das nossas necessidades. E nos obriga a cuidarmos de 100% das nossas necessidades com 30% dos nossos recursos.

Empresas não são criadas. Necessidades não são atendidas. As pessoas não conseguem participar da construção do nosso mundo. A sociedade como um todo fica mais pobre.

Isso é a realidade. Nua e crua. Toda relação de trabalho é sobre amor. É sobre uma pessoa tentando atender a necessidade de outra... E a outra pessoa reconhecendo o esforço da primeira através de dinheiro.

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