terça-feira, 29 de maio de 2012

Complexo de Princesa

Meninas que gostam de se arrumar possuem o "complexo de princesa".

Basicamente, passam a infância inteira sendo tratadas como se fossem bonecas. Aprendendo a tratar tudo como um conto de fadas. Mergulham nas brincadeiras de se arrumar, arrumar a casa, arrumar as bonecas. Uma verdadeira obsessão por deixar tudo belo e perfeito. Quase como se a aparência de tudo ao seu redor simplesmente refletisse a si própria.

Cheguei nessa conclusão porque fiquei imaginando os motivos de uma mulher afirmar que o modo como se veste influência a sua auto-estima. Fiquei imaginando o porquê. O mecanismo. Qual a lógica que faz uma roupa bem ajustada e um visual mais arrumado aumentarem a confiança pessoal feminina.

Como sempre, olhei para dentro de mim. Ali estão todas as respostas de que preciso para as perguntas que busco no exterior.

Eu, enquanto homem, aumento minha auto-estima efetuando coisas. Sinto-me ímpar quando noto que faço coisas bem feitas. Mais ainda, quando noto que eu faço melhor do que qualquer um à minha volta. Entretanto, minha auto-estima supera qualquer barreira quando vejo que ninguém mais consegue fazer o que eu faço extremamente bem feito.

A sensação de poder resultante me faz sentir a pessoa mais importante do mundo, nem que seja por alguns poucos segundos. Eu contemplo o resultado do trabalho que efetuei e me vejo refletido nele. Utilizo minha realização como um espelho que mostra só o que há de melhor em mim.

Não há como não me orgulhar de algo notável que eu faça. Não há como não me orgulhar de mim mesmo, por ter feito algo notável.

E esse é um momento tão meu, tão íntimo, que, mesmo querendo mostrar para o mundo inteiro minha criação, eu faço pouco caso de qualquer elogio. Não preciso deles. A mera contemplação do que fiz já é suficiente. Aliás, elogios não surtem efeito nenhum nesse momento para mim. Costumo ficar envergonhado e, assim, perco toda a satisfação que o momento me dá.

Então, notando isso que acontece em mim, adaptei para as mulheres.

As meninas aprendem, desde sempre, a deixarem tudo arrumado. Limpo. Cheiroso. Lindo. Seus brinquedos são cheirosos, limpos, delicados, coloridos e bonitos. As brincadeiras que participam são igualmente sistemáticas, metódicas, de organização, de cuidados e de emoções.

Meninas são talhadas para verem o resultado externo bonito, como realização perfeita.

A isso eu chamo de "complexo de princesa". Para que uma menina sinta-se realizada, ela tem que ver algo bonito. Não importa que não funcione direito. Que o bolo não esteja delicioso. Que as gavetas da casa estejam desorganizadas. Que a sujeira esteja sob o tapete.

Se o que ela construiu, se o bolo, se a sala, se a sua roupa e o seu visual estão bonitos... elas estão felizes. Sentem-se realizadas.

O mundo inteiro das mulheres pode estar de cabeça para baixo. Suas situação financeira pode estar um caos. Pode estar sem trabalho, namorado, amigos, etc... Pode não ter nada do que queria. Mas, se o seu visual está legal... Ela está bem. É um começo. A auto-estima está realizada porque ela vê um resultado rápido no espelho. E vê refletida toda a capacidade de arrumar e deixar tudo o que ela quiser, belo.

Essa ideia satisfaz, inclusive, a pergunta que me deixou inquieto por muito tempo: porque mulheres casadas se arrumam? Afinal de contas, já conquistaram seus maridos, não é? Para que elas se emperiquitam todas, para ir a algum lugar? Simples. Porque isso satisfaz o seu complexo de princesa. Elas sentem-se mais poderosas. E acabam re-conquistando seus maridos, a cada vez que se embelezam.

Esse complexo é o início da briga da Marcha das Vadias. Elas querem o direito de andarem com as roupas que julgam aumentar a sua auto-estima, sem serem importunadas.

Creio que as mulheres esquecem que, para sentirem-se melhor ao satisfazer o complexo de princesa, elas acabam plantando armadilhas para os homens. Sim, infelizmente os homens se atraem por coxas, bundas e peitos. Fazer o que, né?

Aí, volto ao texto que escrevi no domingo. Para não chamar de hipocrisia essa história toda, chamo de falta de bom senso a Marcha das Vadias.

Talvez o ponto final seja criar as meninas de forma mais moderna. Educando-as para serem competitivas, para enfrentarem as dificuldades do mundo de uma forma mais direta. E não criando "mamães-faxineiras-princesinhas-do-papai", como a grande maioria faz.

Sim, grande maioria, porque existem muitas mulheres por aí que não precisam se vestir como vadias para ter sua auto-estima ampliada. Que fazem dos resultados de suas carreiras os balizadores para determinar o grau de satisfação que têm consigo próprias.

13 comentários:

  1. O mundo inteiro das mulheres pode estar de cabeça para baixo. Suas situação financeira pode estar um caos. Pode estar sem trabalho, namorado, amigos, etc... Pode não ter nada do que queria. Mas, se o seu visual está legal... Ela está bem.

    Nossa você generalizou MUITO. Como disse, é todo um conjunto, as mulheres senten-se realizadas por pelo trabalho que fazem, o fato de elas estarem em cima de um salto, e com um batom vermelho é só um complemento para que elas se sintam mais bonitas e bem consigo mesmas! Ou vai diser que não te chama a atenção uma mulher bem arruma? Chama a atenção de qualquer homem! E se a mulher tiver desempregada, só em casa, se sentindo uma inutil, não é o visual que a faz se sentir com auto-estima, isso é só um complemento! Isso não é "complexo de princesa", isso é se cuidar e gostar de si mesma!

    -Sim, grande maioria, porque existem muitas mulheres por aí que não precisam se vestir como vadias para ter sua auto-estima ampliada.

    Se arrumar, e se cuidar, não significa que a mulher seja uma vadia... eu mesma agora estou de calça preta social, com uma blusa de uniforme gola polo com todos os botões fechados, sem decotes, sem barriga aparecendo, sem coxas a mostra e mesmo assim me sinto bonita e bem arruma, nos pés tenho um sapato que eu gosto, um brinco discreto mais que é muito delicado, um relogio com muitas pedrinhas brilhosinhas, um maquiagem leve... Ok, sou uma vadia? Acho que não né... sou uma mulher que gosta de se cuidar e se arrumar para se sentir bem consigo mesma e fico muitissimo satisfeita ao ver que faço que eu faço muito bem feito!

    Mulheres que se cuidam e se arrumam, é diferente de vadias!

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  2. Pergunda em questionamento: O que seria uma vadia?

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  3. Se... fosse pra dar minha opinião, eu gostei muito do texto, porém achei que teria mais valor se tivesse sido escrito nos anos 20...

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  4. Não vou responder a ataques diretos, como o da "Turma". O texto propõe uma explicação para algo que o universo masculino não entende e o universo feminino não sabe explicar, com exatidão. Ataque como o que foi feito só mostra a capacidade intelectual da pessoa que teceu o comentário. Tipo de pessoa que prefere atacar do que debater, conversar. Prefere por a baixo uma ideia, em lugar de prestar argumentos para enriquecer o tema.

    Uma pena.

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  5. Respondendo à "Pergunta em questionamento" (uma das melhores redundâncias que já vi EVER), da Aline:

    "Vadia" é o termo que as próprias mulheres escolheram, a partir de um ataque direto de um policial Canadense, para o seu movimento. Sim, aquele que condena (como eu) a violência contra a mulher, só pelo que ela veste.

    Eu não gosto de hipocrisia. Falo o que vejo e sinto que acontece. Tenho a humildade para reconhecer que não compreendo a necessidade das mulheres em se vestirem tal qual vadias - o que é um dos principais pontos da discussão geral. Creio, também, que tenho inteligência o suficiente para formular teses, como a que originou esse texto. Creio que já está muito bem fundamentado para iniciar uma discussão.

    Creio que minha tese inicial foi tão bem fundamentada, Aline, que metade do seu post foi, apenas, repetindo o que eu citei neste texto e no texto que escrevi para a Marcha das Vadias, no domingo.

    Por fim, meu "exagero" foi uma figura de linguagem. Conscientemente e de propósito escrevi situações irreais, só para dar mais dramaticidade para a situação. Muito na esperança que o leitor se encontrasse em ao menos um dos exemplos, para que o texto tocasse o seu emocional.

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  6. O que me chamou atenção no seu texto num primeiro momento, não foi a necessidade de expor a sua tese com todos os argumentos para fundamenta-la, e sim a necessidade de afirmar-se como ser alheio a costumes culturais cultuados ao longo das decadas. Afirmar-se, sim, é importante, mas julgar-se melhor pode transparecer certa arrogancia, e por abaixo uma tese que poderia ser aceita inclusive por mulheres vaidosas. Faz sentido sim, e eu citei que poderia ser mais valioso nos anos 20, porque acredito que a educação mudou muito, no que se refere a função do genero feminino e masculino, e ao papel do homem e da mulher na sociedade... Fica confuso entender como alguem pode simplismente pode contemplar algo que fez "julgando" que ninguem poderia ser capaz de fazer melhor. Complexo de princesa? concordo, existe, na sociedade com vários nomes diferentes: maria chuteira, piriguete, tchutchuca...
    Não podemos contemplar uma situação usando a lógica em si e esquecendo o complexo contexto social que vivemos... Senao podemos cair no erro bobo de parecer uma pessoa que tem problemas de relacionamento...

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  7. Mais ataques pessoais... Se quiser continuar respondendo aqui, "Turma", tenha a decência de atacar o tema, não a minha pessoa. Pode ser?

    Por falar em "tema", acho que você está se perdendo.
    Como falei para a Aline, escrevi esse texto porque foi a resposta que encontrei para a afirmação feminina: "um visual bonito levanta minha auto-estima".

    Essa afirmação é um dos principais argumentos das participantes da "Marcha das Vadias". Aliás, quando falo "vadia", não estou dando minha opinião. Mesmo porque sou bem resolvido o suficiente para não rotular as pessoas pelas roupas que elas vestem. Estou, apenas, utilizando o termo que as próprias integrantes do movimento se auto-intitulam.

    Aliás, outra coisa que eu não sou, aqui, é hipócrita. Não sei em qual cidade você mora, mas em todas as cidades onde já morei (e foram muitas) sempre existiram meninas que não podiam sair de casa. Criação machista, rígida. Tenho vários amigos que passaram sua adolescência inteira escoltando suas irmãs, porque elas não podiam sair sozinhas de casa.

    E, se você notar bem, nos dois últimos parágrafos, arrisco uma conclusão dizendo que deveríamos abandonar esse tipo de criação retrógrada. Bem machista da minha parte, não?

    Por fim, declaraste-me um arrogante que está se auto-promovendo. Provavelmente porque eu abusei da figura de linguagem quando me citei. Aquilo ali foi só um exemplo, se você não entendeu. Fiz de propósito o exagero, para que ficasse marcado como nós homens elevamos nossa auto-estima. Sim, nós. Porque eu conversei vários amigos antes de escrever isso. Não que eu cubra todos os casos do mundo. Mas tenho certeza que a maioria dos homens se sente daquela forma.

    Por fim, ainda na arrogância, olhe novamente o nome do meu Blog, por favor. Diga-me se você espera algo diferente de arrogância, nos meus textos! Eles aparentam ser arrogantes, porque eu arrisco falar a respeito da natureza da realidade. E, toda vez que alguém faz isso ganha milhões de inimigos instantâneos, que já disseram que a realidade é outra coisa...

    Aí entra a coragem de você tentar criar algo, ou ser somente um crítico.

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    1. Olá...Não quiz parecer grosseira, muito menos atacar você. Só que em contrapartida do tema, acabou usando a si próprio como referencia de "universo masculino". Eu entendi bem, e sei o que é a Marcha das Vadias... Para provocar desconforto, as vezes temos que usar os extremos. A resposta que você encontrou, não responde somente a ala feminina, me entende? Foi isso que eu quiz destacar... e não são somente decotes e calças coladas... É O PODER que move o mundo. A mulher/homem, pode estar se sentindo extremamente poderosos usando roupas caras, sapatos de marca, carro de luxo. o Complexo de Princesa pode ser aplicado ao universo masculino como um igual. A percepção que vc teve de si mesmo para entrar no mundo feminino reflete uma parcela entre os homens, enquanto ao que se refere ao mundo feminino um outro extremo. Eu gostaria de um ponto final comtemplando a educação dos dois generos, criar pessoas capazes de enfrenar o mundo moderno longe dos preconceitos, e da ansia pelo Poder, pessoas capazes de discernir que TER não é igual a SER.

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  8. Sim, juro que lhe entendo, "Turma". Entendo tanto que, no final do meu texto, acredito que deixei claro que é fato inegável que existem mulheres criadas com pensamentos mais modernos. Aliás, acho uma pena elas não serem a maioria, pois conseguem mostrar que são tão boas quanto os homens em tudo.

    Utilizei a mim como exemplo porque - juro - não conseguia compreender esse fato. Assim como acho que existem muitos homens que também não compreendem.
    Escrevi de um modo que acredito ser mais didático para todos, só isso.

    Concordo completamente com você. Eu sonho com o dia que o SER supere o TER. Em que possamos deixar de lado as bobagens e nos concentrarmos em fazer o mundo realmente ser melhor.

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  9. Respostas
    1. O Ricardo Santana, acima, mandou-me "arrumar um trabalho" (e depois apagou o comentário, que corajoso!).

      Amigo, tenho três:
      Desenvolvedor de Software, Escritor e Blogueiro.
      Pretendo lançar um Vlog no próximo ano, configurando na minha quarta fonte de renda.

      Peço desculpas se eu tenho coragem de expor as coisas que penso. Esse espaço serve para eliminar a hipocrisia e debatermos pontos importantes, mesmo que eles pareçam "proibidos".
      Só há uma regra, aqui: todos devem educação para com as opiniões alheias. Nossas ideias podem brigar até a morte. Eu faço questão de ir tomar uma ceva com cada um de vocês, quando a conversa acabar.

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