quinta-feira, 3 de maio de 2012

Levar a Internet a Sério?

Verdade incontestável: até meus 13 anos, sequer existia Internet.

Não, eu não sei como vivíamos, naquela época. O mundo era, sim, um lugar tenso. Você, que nasceu nos anos "90", deve ver postagens e imagens - de pessoas com poucos anos a mais que você - saudosas de brincadeiras e coisas que "existiam antes e não vemos mais".

Sério, fazíamos tudo aqui ali porque não tínhamos internet. E até era legal.

Essa geração ("70" e "80") participou do início da internet. Quando falar com alguém pelo computador demandava um pouco mais do que abrir o navegador e acessar um site.

E, como qualquer coisa nova, nós crescemos escutando a desconfiança e o pré-julgamento dos nosso adultos. Escutamos muitas coisas a respeito da Internet. A maior parte baseada em medos irracionais.

Mas a pior coisa que eu escutava a respeito da internet é que ela "não pode ser levada a sério".
Basicamente, as pessoas levavam a internet como um mero brinquedo de crianças ricas. Algo de onde nada frutífero sairia. Que ficar horas a fio na frente de um computador, surfando na rede, era perda de tempo.

Não, não pretendo fazer um trabalho escolar de benefícios da internet, passando por dados estatísticos de vendas reais ou virtuais, efetuadas na internet. Não vou, também, mostrar como a comunicação eficiente e rápida faz com que bilhões sejam poupados e bilhões sejam ganhos, todos os dias. Não vou cair no óbvio em dizer que a internet é fonte de conteúdo somente limitado à capacidade de digitalização de informação.

Tudo isso é superado. Está na rede a tempo e é chover no molhado.

Eu quero colocar outro foco que todos sabem, mas pouquíssimos notam:

Há pessoas do outro lado.

Sim. Quando você entra em uma Rede Social é óbvio que há outra pessoa, do outro lado. Mas, mesmo vendo ali a foto da outra pessoa, há uma barreira intransponível na nossa mente. Uma barreira que começa no monitor de cada pessoa.

Eu tenho um texto, recortado de um jornal, onde o autor fala da barreira intransponível do telefone. Que, ao telefone, temos mais coragem de falar o que pensamos. Que, ao telefone, nós "desencorporamos" todo o nosso aparato social e conseguimos ser totalmente autênticos.

Há uma Teoria Evolutiva que explica esse hiato. Essa diferença comportamental entre estar em frente e longe do interlocutor.

Basicamente, nós, seres humanos, somos seres sociáveis. Com a socialização, aprendemos a nos comunicar. E, desde o primeiro grunhido que teve algum significado entendido, associamos a imagem de quem nos fala, à comunicação efetuada.

Duvida? Note como sabemos, exatamente, a distância de alguém, quando essa pessoa fala. Note como modulamos nossa voz, para parecermos mais agradáveis, quando falamos próximo ao interlocutor. Note como não notamos que levantamos a voz, em meio ao calor de uma briga.

Todos pequenos fatos do dia-a-dia que mostram que nosso aparato de conversação está intimamente ligado à imagem que temos da pessoa com quem estamos conversando...

Se o telefone dissociou a imagem da fala, os computadores dissociaram a fala da comunicação. Por muito tempo, o máximo que podíamos fazer era digitar os nossos pensamentos. Aliás, é o que mais fazemos ainda hoje! Esses pensamentos vão direto do seu cérebro para a ponta dos seus dedos, sem nem serem modularizados pelas suas cordas vocais!

É, o sonho de utilizarmos os computadores para vermos e ouvirmos as pessoas, a distância, já é possível. Mas mostrou-se uma ferramenta não tão útil. As vídeo-conferências não agradam a todo mundo. Afinal, você tem o resto da internet inteira para surfar, enquanto fala com seu amigo pelo Skype ou outro Team Speaker... Porque ficar parado, olhando para alguém no outro lado, que está sentado?

O primeiro problema que existe nessa dissociação é que estamos, a cada dia, perdendo mais e mais os nossos modos. Virtualmente, temos os famosos "valentões" e os "sofativistas" de internet. Gente que faz o mundo acontecer... no espaço entre o encosto da sua cadeira e a tela do seu computador. Sabem xingar e levantar problemas muito bem! Até incentivam os demais a fazerem algo! Mas, porque não vêm as pessoas que tocam, acham que podem ser diretos. Afinal, "é só no computador, mesmo"¹

Só que não. Essa falta de modos que a internet cria sai do virtual e inunda a nossa cultura. Porque, sim, vídeo-games e mundos virtuais nos preparam para a vida de verdade. E a preparação está sendo mal supervisionada e pouco orientada. Estamos aprendendo a dar "bom dia" no Twitter, mais para marcarmos que estamos presentes, do que para, realmente, saudarmos e desejarmos boas coisas para os nossos amigos.

E, quando a situação social exige que a pessoa seja educada, ela só tem como referência a educação virtual. E isso não basta. Porque as pessoas que estão a sua frente demandam tato social. Demandam que você saiba ser ameno. Que você saiba tratá-las, para que continuem sendo seus amigos.

A internet deve passar a ser levada mais a sério, sim. Ali, há todo um mundo. Bilhões de pessoas trocam experiências, conhecimentos e ideias todos os dias, como a humanidade nunca fez antes. Socializamos através destes teclados. Portas são abertas, amigos são feitos, negócios iniciam, casais se formam. Temos, todos, o desafio de sermos pessoas melhores e mais educadas no mundo virtual. Porque, assim, poderemos aproveitar esse tempo utilizado na rede para aprimorarmos mais o nosso lado "ser humano". 

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