Fui assistir à pré-estréia de O Hobbit, às 00:01 desta sexta-feira, com a resenha do livro pronta, no computador. A ideia era simples: chegaria (tarde) em casa, ajustaria os detalhes, colocaria minhas impressões sobre o filme, deixaria a emoção transbordar um pouco de mim para o texto e, em menos de meia hora, teria o texto para ser publicado.
O Plano era perfeito. Não tinha como dar errado, amigo.
É. Nunca errei tão feio na minha vida.
Primeiramente, se você não quer spoiler sobre O Hobbit, pare de ler agora. Clique nas propagandas, para ajudar este seu amigo que lhe escreve, e saia dessa postagem. Sério, tenho mais de mil e trezentas postagens no blog. Dê uma passeada entre os textos, vídeos, gifs e imagens, para controlar a sua ansiedade até a hora de ires assistir a O Hobbit.
Ok, se você chegou nesse parágrafo é porque ou já assistiu ao filme, ou não quer assistir ao filme, ou simplesmente porque tem tanta curiosidade que estragará – por sua conta e risco – a sua experiência com essa brilhante obra da literatura, adaptada para o cinema.
Já vou começar pelo mais bombástico e que já deixei transparecer nas primeiras frases: o filme não é fiel ao livro. Mas não é porque mudaram demais o que Tolkien escreveu. Não... O filme não é somente sobre O Hobbit, mas, sim, uma compilação onde prepondera O Hobbit e aparecem passagens de outros livros, como Silmarillion.
O filme gasta seus minutos iniciais para arrumar a descontinuidade: O Hobbit precede O Senhor dos Anéis. E, por isso, fez-se necessária a ponte entre os filmes. Assim, Frodo aparece no início do filme, que se desenrola nos dias anteriores à festa de aniversário de Bilbo.
Ao contrário do livro, o início do filme mostra a história da glória de Erebor, o reino sob a montanha. Mostra o quão esplendoroso tornou-se o reino anão. E, estendendo e detalhando o que é apenas citado no livro, mostra o ataque e a tomada da Montanha Solitária pelo dragão Smaug. Durante o confronto, é marcante a relação entre os elfos e os anões. Mesmo tendo atendido ao chamado, o exército élfico não entrou em combate com o dragão; essa omissão élfica é um dos motivos pelo qual os anões têm tantos preconceitos com os elfos – como Gimli demonstra para com Légolas, por exemplo. E, em uma excelente narrativa, mostra como os anões sobreviventes ficaram sem lar. Como eles procuraram subsistência entre outras raças. Como eles tentaram reconquistar as Minas de Mória, assoladas por Orcs. Nessa passagem, inclusive, Balin narra a morte do avô e do pai de Thorin, e como ele ganhou a alcunha de “Escudo de Carvalho”, ao lutar e decepar o braço do líder Orc. A partir desse momento, os anões se reuniram em torno de Thorin e dizimaram as tropas Orcs, mas não se pôde dizer que os anões venceram a batalha.
Depois da introdução, o filme começa com as mesmas cenas do livro, mas com diálogos mais objetivos. E, talvez pela falta da subjetividade dos pensamentos (que o livro utiliza muito), os diálogos pareceram mais plausíveis.
As usual, Gandalf está de passagem pelo Condado e interpela Bilbo. No livro, Bilbo convida Gandalf para um chá, durante a conversa, o que Gandalf interpreta como sendo um sinal para levar o Hobbit na jornada. Entretanto, no filme, tal convite não é feito e a escolha por Bilbo só é justificada mais adiante.
Passam os dias e, em uma noite, os anões chegam – um a um ou em pequenos grupos – à casa de Bilbo. No livro, Bilbo imagina que eram convidados de Gandalf para o chá e, por isso, até se esforça em atendê-los bem. No filme, a jornada é inesperada para Bilbo desde o momento em que o primeiro anão bate à sua porta. O jantar no filme é muito mais verossímil do que no livro. Bilbo preocupado com a pilhagem de sua bem servida e sortida dispensa, com sua mobília, louça e utensílios. Enquanto os treze anões e Gandalf estão mais preocupados com a diversão e com a missão que os reuniram. Particularmente, eu temia que as diversas músicas, que Tolkien descrevia com exatidão no livro, inundassem o filme. Mas Peter Jackson novamente não removeu essa característica, tão pouco deixou o filme enfadonho: as canções que os anões entoaram na casa de Bilbo ficaram com um extremo bom tom, dando vida à narrativa, tornando o encontro algo palpável de tão real.
Quanto aos motivos do encontro, Thorin Escudo de Carvalho, neto do rei de Erebor, reconheceu os sinais que Balin – o anão mais velho da empreitada – disse serem prenúncios da profecia sobre a queda de Smaug. Pássaros estariam retornando para a Montanha Solitária, onde Smaug já não era visto há sessenta anos!
O livro deixa claro que os anões achavam treze um número de mau agouro, para saírem em uma missão, mas no filme só deixam claro de que precisam de um ladrão para sua jornada. E, segundo Gandalf, Bilbo é perfeito: Menor que um anão, passaria despercebido. Seu cheiro não era igual ao de um anão, o que confundiria o dragão. Sem falar que Hobbits são silenciosos ao caminhar, por natureza. Tudo isso aliado ao sangue Tük que Bilbo herdara de sua mãe, o tornariam perfeito para o desafio.
Mas o principal motivo é que Gandalf também acha que os sinais estão corretos. E, ali na casa de Bilbo, Gandalf revela e dá para Thorin um mapa especial da Montanha Solitária e uma chave. Uma chave para uma porta secreta, descrita no mapa. Porém as runas descritas no mapa não contavam tudo. Seria necessário encontrar alguém que pudesse ler o mapa completamente, para indicar como os anões poderiam encontrar e abrir a tal porta secreta!
Assim como no livro, Bilbo recusa a oferta inicialmente, o que deixa a maioria dos anões receosos quanto às habilidades do ladrão escolhido por Gandalf. Mas, na manhã seguinte, Bilbo decide-se repentinamente e corre atrás da comitiva: Bilbo era o décimo quarto membro que iria ao encontro de Smaug!
Aqui começa a diferença entre O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Enquanto “A Sociedade do Anel” foi um filme com tocada lenta, morosa, de muita conversa, preparativos, investigação e – definitivamente – de pouca ação, “Uma Jornada Inesperada” não perde muito tempo com os personagens apenas conversando ou andando. Claro que existem cenas de passagem, mostrando a turba passando pelas locações extraordinárias, que só a Nova Zelândia pode oferecer. Isso é necessário para que notemos que o Condado ficou para trás e o tempo está passando. Mas, agora, essas cenas são mais raras e melhor empregadas.
Nessa caminhada, batedores Orcs encontram o grupo, e avisam ao líder Orc. O mesmo que teve o braço decepado por Thorin, que logo manda espalhar a notícia de um prêmio pela cabeça do anão.
Em uma noite, Thorin decide que todos acamparão em uma fazendo destruída, no ermo. Mas Gandalf pressente o perigo e, assim como no livro. Gandalf pretendia levar todos até Valfenda, mas Thorin não quer encontrar os elfos. Então, Gandalf deixa a comitiva, irritado. Acampar ali acaba mostrando-se uma ideia equivocada, mesmo. Tanto que, logo, alguns dos pôneis somem.
Sim! O primeiro encontro com inimigos é relativamente rápido, se compararmos com “A Sociedade do Anel”! Os três Trolls – cansados de carne de animais – roubaram quatro pôneis, para o jantar. Bilbo é enviado para recuperar os pôneis. No livro, Bilbo tenta roubar uma sacola do bolso de um dos Trolls. No filme, como os pôneis estão amarrados, Bilbo tenta roubar a faca de um dos Trolls, para cortar as cordas que prendem os cavalinhos. Assim como no livro, Bilbo é surpreendido (só que de uma maneira MUITO mais cômica!!!). E, ainda tal qual o livro, Os anões vêm socorrer Bilbo.
Acho importante comentar que no livro os anões têm uma participação apagada, na maior parte do tempo. Poucos deles parecem ser mais do que mineradores. Mas, no filme, a maioria parecem guerreiros. E isso deixou o filme muito mais interessante, com certeza!
Os três Trolls capturam e ensacam os catorze heróis. Enquanto os Trolls começam a assar alguns dos anões, Bilbo nota que existe uma centelha de desavença entre os Trolls. No livro, é Gandalf quem se aproveita disso, simulando as vozes dos Trolls, para confundi-los. Mas no filme, é Bilbo quem faz o tempo passar, mantendo todos vivos até quase o amanhecer! Gandalf retorna com os primeiros raios de sol do dia e, de uma forma gloriosa, destrói uma pedra, banhando os Trolls com o sol da alvorada! E todos aqui sabem o que acontece com Trolls, quando eles são expostos ao sol, né? Viram pedra!
Rapidamente, Gandalf e Thorin buscam pelo esconderijo dos Trolls. E, em uma caverna nefasta, encontram ossos, carne putrefata, ouro e armas! Dentre elas, três espadas forjadas por elfos!
Na seqüência do dia, a primeira grande intervenção de outro livro aparece: O Radagast, mago Castanho, encontra Gandalf, para avisar-lhe que encontrou o Necromante. Para quem não sabe, o Necromante é Sauron, ressurgindo do reino dos mortos. E a prova é a lâmina Morgul, que Radagast encontrou nas ruínas onde se esconde o Necromante.
Mas o mago Castanho acabou atraindo os Orcs que vivem na região para perto dos anões. Em uma seqüência muito inteligente, o mago Castanho atrai os Orcs montados em Wargs, enquanto Gandalf leva todos para perto de Valfenda. Ali, elfos patrulheiros abatem os Orcs, encontram e levam os heróis para A Última Casa Amiga!
É lindo ver Valfenda. É uma cidade-sonho, encravada no mundo real.
Os anões – diferentemente do livro – sentem-se ameaçados, ali. Mas Gandalf consegue convencê-los que Elrond é o único que conseguirá ajudá-los, decifrando as runas do mapa da Montanha Solitária. Elrond logo nota que o mapa feito por anões deveria ter as “runas da lua”, o que é costume entre os anões. Basicamente, uma “runa da lua” é um escrito secreto, que só se revela sob a luz da mesma lua em que foi escrita. E os anões estavam com sorte: a lua em que as runas foram escritas era a mesma da noite em que passaram em Valfenda!
Com o segredo de como encontrar e abrir a porta decifrados, os anões já poderiam prosseguir em sua jornada.
Aqui, outro ponto que não está no livro O Hobbit acontece. O Conselho dos magos é reunido em Valfenda. Saruman, o Branco, Galadriel e Elrond estavam receosos quanto aos planos de Gandalf. Liderados por Saruman, os magos argumentaram que o a Terra Média estava em paz. Uma paz conquistada com muitas batalhas. Não havia motivo para se preocuparem com um Dragão que não aparecia há décadas! Sem falar que a retomada do lugar pelos anões mudaria a balança de poder na Terra Média, novamente. O que poderia desencadear conflitos.
Prontamente, Gandalf conta o que Radagast havia lhe dito. Galadriel invade os pensamentos e fala telepaticamente com Gandalf, até o momento em que descobre a lâmina Morgul. Gandalf a mostra para todos, o que faz com que Elrond também comece a se preocupar com o ressurgimento de Sauron. Mas Saruman desdenha. Nesse momento eu tenho que lhe dizer: Saruman já sabe do retorno de Sauron e já está iniciando a sua aliança com inimigo, que será consolidada em “As Duas Torres”.
Enquanto falam, os anões e Bilbo estão saindo de Valfenda.
Mais passagens dos companheiros andando em locações magníficas, até que eles utilizam a passagem pelas montanhas. Sim! A guerra entre os Gigantes de Pedra! Tenho que contar que essa passagem, no filme, ficou extremamente mais gloriosa do que eu consegui imaginar, lendo o livro. Em um determinado momento, os aventureiros se vêem nas pernas de um gigante, tendo que se esforçarem para não caírem no abismo, a cada movimento do ser!
Assim como no livro, os anões encontram uma pequena caverna, onde se protegem da batalha que não lhes diz respeito. Só que, aqui, entra um aspecto lindo, que não havia sido mencionado no livro. A desconfiança do grupo nas habilidades de Bilbo crescera tanto, até então, que Thorin estava convicto que não deveria ter trazido Bilbo. E fala isso em voz alta, para que o Hobbit escute, mesmo. Durante o sono dos anões, Bilbo decide voltar para Valfenda, mas é abordado pelo vigia do turno. “Eu sei, você está com saudades de casa!” – diz o anão. Então, Bilbo nota nos olhos do vigia que ele também estava com saudades de casa. E que o real motivo da Jornada Inesperada era justamente esse: muito mais do que conquistar um tesouro, o objetivo era reaver a casa de todos, que o Dragão havia tomado junto com o ouro.
Porém, essa caverna era a entrada para uma cidade Orc! Logo, o chão se abre e todos são dragados para o interior da montanha!
Na confusão de Orcs segurando, batendo e prendendo os viajantes, Bilbo cai e consegue se esconder. Em segundos, ele está sozinho. Bilbo saca a Ferroada, que conseguiu dos Trolls, e quer seguir os Orcs que capturaram os anões. Mas um Orc cruza seu caminho. Desajeitado, Bilbo e o Orc acabam caindo pelos abismos da caverna, até um lago...
Lá, a criatura Gollum encontra o Orc e o arrasta até uma pedra no centro do lago, para que possa jantá-lo. Enquanto arrasta o Orc, o “One-Ring” cai de sua roupa. E Bilbo o encontra.
Mesmo o Hobbit sendo silencioso, Gollum o escuta e tenta emboscá-lo. Era mais comida para Gollum. Mas, assim como no livro, Bilbo chega a um acordo com Sméagol: Ambos se enfrentariam em um jogo de charadas. Se Bilbo ganhasse, Sméagol o levaria até a saída. Se Gollum ganhasse, o gordo Bilbo seria servido no jantar.
Eu recomendo a leitura das charadas no livro. Ali, você tem tempo para participar da brincadeira. Coisa que eu fiz e tornou a passagem muito mais emocionante. No filme, eles falam rápido demais e não há como você sequer pensar em alguma resposta. Mas a pergunta final de Bilbo continua sendo “O que há no meu bolso?” E, nas três chances, Sméagol não consegue responder. Mas, no filme, Sméagol logo nota que o Anel do Poder sumiu e infere rapidamente que Bilbo o roubou. Na fuga, Bilbo passa por pedras estreitas e perde seus botões da camisa, como no livro. Tomara que isso seja mencionado futuramente no filme, também! Quando caí no chão, o anel entra em seu dedo – assim como a cena com o Frodo – e Bilbo fica invisível. Isso faz com que Gollum passe por Bilbo e fique entre ele e a saída.
Enquanto isso, em uma das melhores cenas de ação do filme, Gandalf reaparece no último momento, para salvar os anões de serem mortos pelos Orcs.
Quando os anões estão rumando para a saída, Bilbo os vê passando. Entre a saída, os anões e Bilbo, está Gollum. Bilbo – invisível – salta sobre Gollum e corre até o grupo. Ainda invisível, Bilbo escuta Thorin falando que ele não deveria ter vindo na jornada. Que o grupo não voltaria para encontrá-lo. Mas Bilbo tira o anel e aparece, vindo de trás de uma árvore. Esse é um momento tenso, em que se misturam reações de alívio pelo Hobbit estar bem, com a sensação chata dos comentários de Thorin e a defesa de Gandalf, que exige que sua escolha não seja questionada.
Mas não há muito tempo para debates... O Orc - que Thorin decepou o braço - e seu exército, montados em Wargs, os encontraram e avançaram sobre o grupo. Não havia muito o que fazer, então correram para o desfiladeiro e subiram em árvores!
A situação estava tensa. Os Wargs quase alcançavam os galhos onde o grupo estava. E, de tanto se arremeterem contra as árvores, os Wargs conseguiram derrubar uma. Outra... Até que o grupo inteiro estava confinado na última árvore, na beira do precipício.
Era a vez de Gandalf brilhar, novamente. Assim como no filme “A Sociedade do Anel”, o mago pede para uma mariposa que chame suas amigas, as águias! Para ganhar tempo, Gandalf incendeia pinhas e as joga como verdadeiras bolas de fogo, nos Wargs e Orcs. Então, a última árvore cede. E o Orc-líder aparece na frente da árvore. Thorin não pensa duas vezes e corre para enfrentar o monstro que matou seu avô e seu pai. Mas a luta é injusta desde o início. Um Orc formidável, montado em um Warg formidável, não é um inimigo simples de ser derrotado. Thorin é golpeado pelo Orc e mordido pelo Warg. Quase desfalecido no chão, Thorin vê o Orc, inimigo de sua linhagem, mandar que um de seus guerreiros decapite e traga a cabeça do anão. Então, no último momento, Bilbo salta sobre o Orc, luta desajeitadamente e consegue matar o executor. Uma batalha começa. Os outros anões entram na briga. Mas, em menor número, eles logo são acuados.
Então as águias chegam! Em rasantes, capturam e jogam os Wargs no desfiladeiro. E, no final, pegam gentilmente todos os membros da jornada. Levam-nos até uma pedra, no limite da floresta negra, de onde todos podem ver a Montanha Solitária.
Thorin se desculpa com Bilbo. Naquele momento, todos sabem: Bilbo é um ladrão de verdade!
O primeiro filme acaba com um dos pássaros que era tido como um "sinal", voltando para a Montanha Solitária e avisando a Smaug que os anões estão a caminho.
Gostei de ter visto o mago Castanho. Gostei de ter visto elementos de mais livros, neste filme. Acho que, no final, teremos uma grande e única história muito bem contada, ligando a trilogia de O Hobbit, com a trilogia de O Senhor dos Anéis.
Já estou ansioso pelo próximo filme. Pena que só sairá daqui um ano.
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