sexta-feira, 20 de junho de 2014

A Dificuldade dos Relacionamentos Afetivos

Vai sempre sobrar, faltar... Alguma coisa, somos imperfeitos 
e o que falta cega para o que já se tem...
- Os Paralamas do Sucesso.


Uma única certeza para todo esse texto: As coisas mudam.

Sim. Se você tiver que apostar todo o seu dinheiro em alguma situação, aposte na situação que mostra o panorama que muda tudo. A vida inteira gira em ciclos. Tudo vai e volta. Mas a CERTEZA é de que, nessas idas e vindas, haverão mudanças. Nem que seja para mudar do vermelho para o azul hoje e, amanhã, corrigir esse absurdo e voltar novamente do azul para a melhor cor de todas, o vermelho.

Aliás, olhando de um aspecto biológico/evolutivo, a raça humana não é o topo da cadeia alimentar por acaso. Nós somos a espécie que melhor se adapta ao mundo, de longe. Nos adaptamos tão bem ao mundo que estamos no estágio de adaptar os ambientes a nós! Veja bem: já estamos tentando adaptar o ESPAÇO para a vida humana!

Ontem o texto "A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem NÃO quer", da Ruth Manus, estourou e repercutiu nas redes sociais. Em seu texto, ela teoriza o quanto a criação moderna das mulheres está resultando em uma geração de meninas com características que não atraem os meninos.

O amigo que acompanha o meu blog já sabe o quanto eu toco nesses temas. E eu acho pertinente utilizar as minhas reflexões para complementar e, talvez, discutir com o texto da Ruth Manus.

Em primeiro lugar: importante lembrar que a humanidade saiu de uma situação de subpopulação para a superpopulação em menos de 300 anos. "Nossa Arthur! 300 anos é muito tempo para notar e planejar o crescimento populacional!" É. Só a China tomou alguma providência nesses últimos 300 anos. E, mesmo assim, é muito criticada por isso.

Quando as Américas foram descobertas, os primeiros colonizadores que para cá vieram foram incentivados a terem famílias grandes. Era CARO E ARRISCADO atravessar pessoas pelo Atlântico. Iniciativas de governos e de igrejas reforçavam a importância do núcleo familiar. A vida era difícil, o terreno era selvagem e os trabalhos eram os de subsistência. Derrubada de árvores centenárias, limpar terrenos gigantescos com ferramentas rústicas, lavrar, arar e semear as lavouras, manejar criações de gado, construir casas, construir ferrovias... A vida era complicada, amigo. Dura. Trabalho árduo, de sol a sol. As pessoas sofreram muito para construir nosso continente.

Nesse cenário, a função social da mulher foi a de ser apoio aos homens. E isso foi meio óbvio. Há diferenças entre os sexos, não deixem as feministas radicais mentirem para vocês. Homens são mais resistentes e mulheres são mais cuidadosas... EM MÉDIA. (Sim, ô ananá que já ia reclamar. É claro que existem exceções.)

Enquanto os homens iam destruir seu corpo e sua saúde nos trabalhos árduos sob sol e chuva, as mulheres destruíam seus corpos tendo e criando de mais de uma dezena de filhos. Em casa, elas refinavam o trabalho inicial dos homens. Criavam coisas mais sofisticadas a partir da matéria básica que os homens se matavam para conseguir. Eles plantavam e colhiam o algodão? Elas fiavam, faziam tecidos e roupas. Eles traziam o trigo? Elas faziam o pão.

Mulheres são fisicamente mais frágeis NO GERAL. Elas ficavam em casa, cuidando da família, preparando as coisas para atender o seu marido, quando ele chegasse. Era lógico. Uma dupla de parceiros, cada um dando o seu máximo para progredirem juntos. Funcionou muito bem por alguns séculos.

Mas então essas mulheres tiveram muitos filhos. Essa foi a época as mulheres começaram a ter 10, 15 filhos... Era algo importante, pense bem: não existiam quase pessoas no novo mundo, haviam muitas novas doenças e a medicina era precária. Ter muitos filhos era garantia de que haveriam muitos braços para ajudar nos trabalhos, dali a 10 ou 15 anos.

Houve uma explosão demográfica. Ali no final do século 19 já havia mais gente do que o necessário e as famílias passaram a tentar ter menos filhos.

As duas guerras mundiais reduziram dramaticamente a quantidade de pessoas, principalmente HOMENS. Houve o natural "baby boom" pós-catástrofe (sua bisavó, sua avó... quantos filhos elas tiveram?).

Mas, desde então, nosso mundinho anda pacífico. Tirando um ou outro conflito localizado, um terremoto aqui, outro ali, um tsunami... Não temos um evento que extermine uma quantidade significativa de pessoas. E, mesmo controlando a natalidade (no Brasil o IBGE diz que as mulheres tem, em média, menos de dois filhos durante a vida...), nossa população não para de aumentar.

Nos últimos 70 anos, a economia vem enfrentando muitos desafios. São pessoas demais para alimentar, sonhos demais para serem realizados... E recursos de menos para atender a todo mundo.
Antes, a mulher era um apoio para o marido. O homem conseguia trazer para casa tudo o que a família precisava, sozinho. Mas então a economia de mercado forçou a competição e os salários das funções foram sendo diminuídos. Logo, só o trabalho do homem não era suficiente para trazer tudo o que a família precisava. O Fordismo e outras teorias administrativas foram seccionando as funções dos empregos. Se antes o artesão fazia todo o trabalho sozinho, de modo caro e lento, hoje uma série de pessoas se especializam em fazer só uma parte do trabalho e o conjunto consegue desenvolver o serviço de modo rápido e barato.

Mais produção precisa de mais empregados... e de mais consumidores. Mais da metade da população mundial estava em casa, cuidando dos maridos... Foi NATURAL que o capitalismo atraísse as mulheres com suas promessas de riqueza, independência e prosperidade. E as mulheres, naturalmente ambiciosas, vaidosas e sonhadoras, entraram muito bem no mercado de trabalho. Ainda mais hoje, em que a maioria dos trabalhos não exigem mais força bruta e resistência física. 

Estamos em uma era de corrida por produtividade. E a produtividade é resultado muito mais de CUIDADO com os processos, do que de FORÇA FÍSICA para realizá-los. Sou profissional de TI e digo com propriedade: um software bem feito pode substituir vários postos de trabalho de serviço braçal pesado por uns poucos postos de trabalho aonde o intelecto e o cuidado são imprescindíveis.

As mulheres tiveram acesso aos métodos contraceptivos altamente eficientes e, por isso, conseguiram decidir quando teriam seus filhos. (Quer dizer, só no caso de aborto que esses métodos não funcionam.) Assim, as mulheres tiveram, pela primeira vez na história, a autonomia para decidirem absolutamente TUDO sobre sua vida!
No último século criamos diversas áreas de atuação profissionais. Tantas que as mulheres podem escolher em qual área vão atuar.
Sem a sombra da gravidez indesejada, elas podem planejar seus estudos, sua carreira.
Com uma carreira elas não precisam mais dos maridos no sentido de "provedores".

A relação entre homens e mulheres mudou. Como tudo o mais nesse mundo, o panorama mudou.

E vamos deixar claro: é uma mudança muito recente. Uma mudança que estamos vivendo. Uma mudança que ainda é gradual. Tudo está mudando e não são todas as pessoas que compreenderam ao certo o que está acontecendo ao seu redor.

Ainda temos meninas sendo criadas com a cultura de encontrar um marido, casar, ser sustentada por ele, ter filhos, cuidar da família, etc...
E, no apartamento do lado da futura "Amélia", podemos ter uma menina de 15 anos sendo criada só pela mãe que já trabalha fora, tem três "ficantes", tem seu carro, decide assuntos importantes em sua empresa, etc, etc, etc...

Há uma revolução acontecendo e nem as próprias mulheres sabem o que fazer com a nova situação conquistada, direito! Basta ver o comportamento das mulheres em Porto Alegre, durante a copa do mundo! (Eu falo das de Porto Alegre porque os relatos que escutei são delas. Não vi relatos de nenhum outro lugar, ainda.)


Agora pense comigo por um segundo: se está complicado para as próprias mulheres entenderem tudo o que está acontecendo, IMAGINE o quão confusa está essa situação para nós, os homens!

Vou ser bem sincero. Eu chego a acreditar que os homens são as maiores vítimas dessa mudança toda. Sim, nós somos catequizados desde pequenos que "os homens conquistam as mulheres". Nos preparamos profissionalmente porque somos nós que "temos que ter um bom trabalho para sustentarmos nossas esposas". Nossas famílias batem na tecla que temos que encontrar uma "menina direita" para casarmos e termos nossas próprias famílias. Somos praticamente OBRIGADOS a sermos interessantes, bem vestidos, divertidos, atraentes e termos iniciativa, para conquistarmos "a menina dos nossos sonhos".

Então, quando saímos de casa, nos deparamos com mulheres fortes, decididas, com mais opiniões formadas do que nós sobre as coisas... E, amigo, lembre que as meninas "amadurecem mais cedo". Aos 18 anos elas estão preocupadas com coisas que nós só vamos começar a dar valor lá pelos 30...
Some-se a isso toda a legislação que protege as mulheres. Toda a luta feminista, todo o medo de processo por assédio sexual... Se o homem não tiver muita confiança em si é capaz de fugir apavorado dessas mulheres modernas!

Novamente, existem exceções. Existem homens que sabem lidar bem com esse panorama todo. Talvez esses sortudos adaptáveis devam escrever livros e dar palestras sobre o assunto. Porque a maioria absoluta dos homens encara o primeiro contato com qualquer mulher como uma roleta russa: nós, mero mortais, nunca sabemos se a menina na nossa frente é uma executiva internacional querendo uma noite de sexo casual, uma "Amélia" que procura o seu príncipe encantado para casar ou qualquer outra mulher que esteja entre essas duas...

Antes os papéis eram bem definidos e todos nós sabíamos de antemão o que o outro sexo queria do parceiro. Éramos - realmente - como tomadas. Qualquer casal se "encaixava" naturalmente em suas funções.
Hoje? Cada ser humano da Terra está em um nível de cultura, de pensamento, de aspirações e de atitudes. Uma tomada tem o pino retangular, outra recebe um pino quadrado. E é tudo surpresa: estamos todos no escuro e só descobrimos se combinamos depois de um tempo tentando... 

Muito por isso que os relacionamentos modernos não duram tanto quanto antes. Como cada parceiro tem uma visão cultural diferente sobre como é o relacionamento ideal, ou os sonhos se casam com perfeição, ou o casamento demora o tempo da paixão. Basta acabar o "fogo no rabo" do casal para que os dois notem o quanto NÃO TÊM em comum. Essas pequenas divergências do dia-a-dia geram atritos, rusgas e brigas. E o caminho mais fácil para acabar com as brigas é a separação. O que gera mais famílias despedaçadas, mais mulheres sendo fortes e se sustentando sozinhas, mais homens confusos sobre a nova situação feminina e toda uma nova geração perdida entre tantos exemplos e nenhuma instrução...

Eu falei ontem, no twitter: Sempre foi e sempre será difícil encontrar a pessoa certa. E é mais difícil ainda manter esse relacionamento. No fim, não existem receitas mágicas. Nos resta compreender o mundo ao nosso redor e continuar tentando alcançar o que nos faz feliz.

Se possível, sem machucar os outros.

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