Eu simplesmente estou com um pouco de "verborragia voluntária", uma vontade de gastar as pontas dos dedos para expressar a angústia que não posso revelar no dia-a-dia das pequenas coisas com quem não tenho o que falar.
Por exemplo, outro dia desvendei os mistérios da quarta dimensão. Descobri que o fluxo do tempo, sempre nos empurrando para o próximo segundo, é equivalente à força da gravidade, sempre nos forçando a não dominar a terceira dimensão. Descobri que o domínio total da quarta dimensão nada mais é do que ocupar o espaço necessário no tempo necessário, mesmo que estejamos falando de tempos idos ou futuros... Infelizmente para nós, tristes criaturas da terceira dimensão, só podemos passar pelo instante uma única vez, ainda... Por isso, o segredo de lidar com a quarta dimensão é, justamente, saber o que fazer em cada instante. Fazendo a coisa certa na hora certa, você possui um controle sobre a sua vida e sobre a quarta dimensão.
Pois bem, agora resta-me começar a estudar a quinta dimensão...
Em outro exemplo do que ando pensando, tenho me preocupado muito com minha capacidade adaptiva. Sinceramente, acredito que parece, realmente, para as outras pessoas que eu seja um cara bem esquisito. Como alguém consegue ser tão pouco voluntarioso? Sabe, é tão desconfortável para mim ter e brigar por qualquer coisa... Acredito que as outras pessoas se apegam demais em besteiras. Objetos não me dão prazer algum... Se a idéia não me apanhou, não vale a pena ser defendida, tão pouco se o outro argumento é melhor. Viajar, sair... Até acho interessante, mas tem que ser algo espetacular. Ir para a Europa para ver os mesmos pontos que eu vejo pela TV ou por fotografias não me interessa. É como a música do Belchior:
"Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais..."
No final, a única coisa que me importa é poder viver minha vida tranquilamente. São poucas coisas que prezo, mas elas têm um valor alto demais para mim. Mesmo que eu não solte fogos de artifício todos os dias por elas, saber que tenho o amor da minha namorada para me confortar, saber que tenho meu emprego que me dá desafios e me motiva a crescer sempre, saber que posso ficar tranquilo com minha mente em qualquer momento... Minha paz de espírito e mente limpa são coisas que não se compram. Como no filme "a fantástica fábrica de chocolates", quando o menininho pobre quer vender seu bilhete premiado para que a humilde família tenha algum dinheiro, e seu avô lhe fala: "-Dinheiro existe muito por ai, e imprimem mais a cada dia... Mas, iguais a este bilhete, só existem 4. Não há dinheiro no mundo que pague a raridade deste bilhete". Assim como o Avô do menino, eu tenho isso muito certo dentro de mim. Igual ao amor e aos momentos bons que minha namorada me dá, não existe ninguém neste mundo que possa me dar. Igual aos desafios e cultura que a minha empresa me apresenta, não existe outra que possa oferecer. Minha paz de espírito, que esses fatores me proporcionam, não tem preço.
Então, pra que eu vou correr o mundo? Qual o sentido de querer ser tão pra frente? De tentar ter e ver tudo?
Eu sei, pareço meio budista com esse papo de "procure ver as maravilhas do dia-a-dia", mas em cada detalhe pode se esconder um céu ou um inferno... e cabe somente a nós decidir o que ver. Em cada canto, em cada flor, em cada gesto... Acreditem, amor real, desafios e música interior fazem do mundo algo fantástico a cada obstáculo vencido, a cada chocolate comido com a vontade de uma criança que espera, ansiosa, a Páscoa.
Tenho, sim, meus dissabores. Neste momento a fé que eu tenho nas pessoas está meio baixa... Já esteve menor em outros tempos, mas não está em um nível aceitável hoje em dia...
A velha questão... "Uma pessoa é inteligente, a multidão é burra..." Estou cansado de ver pessoas tortas acusando as mal-feitas. Gostaria muito de poder ver as pessoas sendo humildes. Mas é tão difícil compreender o que é a humildade...
humildade
(latim humilitas, -atis, pequenez, modéstia)
s. f.
(latim humilitas, -atis, pequenez, modéstia)
1. Qualidade de humilde.
2. Capacidade de reconhecer os próprios erros, defeitos ou limitações. = modéstia ≠ altivez, arrogância, orgulho
3. Sentimento de inferioridade. = rebaixamento
4. Demonstração de respeito, submissão. = deferência, reverência ≠ desrespeito
5. Ausência de luxo ou sofisticação. = simplicidade, sobriedade ≠ ostentação
6. Pobreza, penúria.
O grande problema da humildade é que as pessoas só entendem o significado de pobreza, de inferioridade. Não entendem que o humilde sabe, exatamente, reconhecer os erros, defeitos e limitações. O humilde sabe, geralmente por estudo e tentativas, no que é ruim... e no que é bom. O humilde não sai arrotando aos quatro ventos o que consegue e sabe fazer, mas faz. Assim como está totalmente pronto para dizer com franqueza que não sabe fazer o que é solicitado. Afinal, só os arrogantes sabem de tudo.
E esse é o pior da falta de humildade. A pessoa não saber a respeito do assunto e, literalmente, "se meter" a dar explicações e emitir conceitos. Amigos, eu não entendo po##@ nenhuma de mecânica. E digo isso em alto e bom som a todos... Jamais vou me meter a tentar consertar um carro. Agora, se você não é psiquiatra, pra que vai tentar dar pareceres a respeito da psique alheia?
Bem, é como diz a música dos paralamas:
"Vai sempre sobrar, faltar
Alguma coisa, somos imperfeitos
E o que falta cega pro que já se tem"
Eu posso dizer que, apesar dos altos e baixos, a vida é boa. Apesar dos problemas insolúveis que nunca chegam e da histeria coletiva que eles provocam, é muito bom poder chegar em casa de noite e ter meus "15 minutos de paz".
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