Então nesse final de semana eu maratonei a nova série de super-heróis da MARVEL, lançada dia 20 no NETFLIX...
Sério. Largue meu texto. Saia agora da internet, acesse o NETFLIX e ASSISTA JESSICA JONES.
São 13 episódios. Em um final de semana você vence as cerca de 13 horas da primeira temporada do seriado. E vou te dizer: será um dos finais de semana mais bem aproveitados da sua vida. Aceito que você volte aqui, depois, para agradecer.
Bem, você dirá que eu sou um aficionado em gibis e supers. Logo, qualquer seriado de supers será o máximo para mim.
Acontece que... Jessica Jones não é sequer uma "anti-heroína" como Wolverine, DeadPool ou Justiceiro. Não. Ela sempre foi uma "Anti-Supers". Até em sua fase "Safira", Jessica Jones jamais se sentiu confortável com a exposição e as responsabilidades de um super-herói.
Jessica faz as coisas certas porque é a coisa certa a ser feita. Mas ela não tem um super código de honra, que a impeça de matar, por exemplo. Para ela, justiça é justiça. Não importa o meio utilizado para restabelecer a normalidade.
E isso é algo que é amplamente discutido na série: a moral humana é algo sólido, ou é corruptível caso não existam consequências?
Mas Jessica Jones não é excelente só por causa da perfeita construção da personagem principal ou da discussão filosófica que propõe. O seriado é excelente porque toda a trama e todos os personagens foram muito bem amarrados.
Eu fui MARVETE durante toda minha adolescência. Tenho 14 anos ininterruptos de gibis do Homem Aranha, especiais, X-Men, Capitão América, entre outros títulos. Adorava o drama humano retratado nos gibis.
Mas lá pelos meus 20 anos eu notei um problema na MARVEL: a editora trata muito mal seus vilões.
Os vilões da MARVEL ou são extremamente dúbios, confundindo-se com heróis, como o Magneto (e sua família... Feiticeira Escarlate e Mercúrio eram vilões... hoje são heróis!), ou são figuras rasas, sem profundidade necessária para termos ligações com o personagem (como Dr Octopus, Loki, etc...)
Eu migrei para a DC porque aprendi que um herói é tão forte quanto o desafio que ele consegue superar. Por isso, muito mais importante do que ter um personagem heroico perfeito, é ter um vilão com profundidade tal que desafie o herói. Para que o Batman seja o Batman, é necessário que o Coringa realmente o coloque em uma situação impossível de ser resolvida. Lex Luthor é tão bem construído que chegamos a ficar do lado dele quando ele discursa! (No gibi, claro. O "Lex ladrãozinho de banco" dos filmes é ridículo. O Lex dos gibis tem o discurso "a humanidade não precisa de super-heróis-babás. Nós podemos fazer as coisas sozinhos!)
E esse talvez seja a maior vitória de Jessica Jones: pela primeira vez eu vi a MARVEL se preocupar em dar profundidade ao vilão da série. Kilgrave (Killgrave/Homem Púrpura) começa como um vulto. Seus poderes são mostrados aos poucos. Toda a paranoia provocada pelo seu poder de controle mental é mostrada aos poucos. Quando finalmente vemos Kilgrave, já temos uma boa ideia do que ele é capaz.
Mas a partir do momento que vemos Kilgrave, passamos a conhecer seu passado e sua condição. Diga-me: se você tivesse o poder de convencer qualquer pessoa a fazer qualquer coisa com apenas uma ordem simples, você também não se entediaria ao ter que esperar que as pessoas fazerem o que você quer? Não estaria tão acostumado a tudo acontecer do seu jeito que teria surtos de raiva e até curiosidade para saber porque alguém não obedece aos seus comandos?
E o pior: quão sozinho você se sentiria se soubesse que ninguém fica ao seu lado de livre e espontânea vontade?

Esse tipo de construção faz com que o seriado não seja um eterno "bandido faz algo errado -> mocinho encontra bandido -> mocinho vence e prende o bandido".
Você fica atrelado aos valores morais dos personagens. Você toma partido. Seria Jessica Jones tão "anti-supers" que atravessou o limite da justiça para combater outro meta-humano com quem se envolveu? Ou somente o Kilgrave é tão acostumado a manipular as pessoas que chega ao cúmulo de se convencer (e a nós!) que ele é um pobre coitado?
Esse poder de navegar entre o certo e o errado a todo momento é o que nos prende ao seriado. Jessica Jones dá tempo aos personagens para que eles se desenvolvam durante o seriado. Jessica tem diversos trabalhos de investigação para proceder. E ela mostra toda sua furtividade para seguir, sua paciência para montar campanas... E toda sua habilidade de luta para conseguir o que precisa para solucionar os casos.
E não vamos esquecer o principal poder de Jessica: O super-fígado!
(Como bebe essa moça... E que inveja eu tenho dela!)
A construção dos personagens Jessica Jones e Kilgrave passa, necessariamente, pelos personagens coadjuvantes.

Jeryn é cruscial para mostrar que Jessica não está presa à hipocrisia ou à justiça convencional, ditada pelas leis. Muito embora, também mostre que a pouca empatia de Jessica também é uma característica humana. No final, também mostra que, mesmo alguém tido como bom, também pode se mostrar mal... e no fim voltar a ser uma vítima, contrapondo o que acontece com Kilgrave.

Patsy era uma estrela infantil e hoje é uma estrela do rádio. Sua mãe adotou Jessica depois do acidente que a deixou órfã. A mãe de Patsy explorava sua filha. E Jessica ajudou Patsy a se afastar da péssima influência da mãe. O seriado dá a entender que Jessica havia enfrentado Kilgrave antes e que Patsy havia ajudado Jessica... e sido ela própria uma das vítimas de Kilgrave. Por isso, Patsy treina luta e formou o próprio bunker em sua casa. Patsy é entusiasmada com a ideia de Jessica ser uma heroína. Inclusive é Patsy quem traz o uniforme de Safira, que é zoado pela Jéssica, assim como em todos os demais heróis que zoam seus uniformes do gibi, nos filmes da MARVEL.
Patsy tem papel ativo como side-kick de Jessica, mostrando desde o início que pessoas comuns também querem ser altruístas e heroicas.

A adaptação dos poderes de Luke Cage ficaram ótimas. As lutas ficaram muito bem coreografadas (muito melhores do que as da Supergirl, por exemplo!).
E a primeira luta dos dois juntos, no bar! Eles citam o Hulk e os Vingadores!!!
Os demais personagens, especialmente os utilizados pelo Kilgrave para atingir Jessica, são estereótipos muito bem encaixados na trama. A menina violentada, assassina e presa, que inclusive fez um aborto!!! O policial controlado que tenta matar Patsy e depois tenta se redimir (ele usava miraclo??). O vizinho drogado, os vizinhos barulhentos... São tantos personagens próximos com dilemas tão bem estruturados... Todos no meio do fogo cruzado entre Jessica e Kilgrave.
Jessica Jones te faz gostar do modo pouco ortodoxo de investigação, da vida jogada, da luta do bem contra o mal... Enquanto te faz pensar em todos os limites morais que temos.
O futuro?

Como já estão previstas séries de Luke Cage e Punho de Ferro, logo teremos um seriados dos Defensores.
E os Defensores têm papel ativo na Guerra Civil, primeiramente do lado do Capitão América... E como são heróis mais fracos, acabam se alistando na iniciativa do Homem de Ferro por não poderem fazer frente a ele.
É aqui em que é uma pena que o Homem Aranha esteja entregue à Sony. Talvez... Talvez a Sony e a Disney entrem em um acordo e compartilhem Peter por mais do que uma participação no filme do Capitão América.
Enfim. Jessica Jones revolucionou os seriados da MARVEL. Levou os padrões a outro nível. Agora estou oficialmente de ressaca, esperando ansioso a segunda temporada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário