segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Jessica Jones

Então nesse final de semana eu maratonei a nova série de super-heróis da MARVEL, lançada dia 20 no NETFLIX...

E se eu posso te dar um conselho, lá vai uma "dica do tio Arthur": ASSISTA JESSICA JONES AGORA.

Sério. Largue meu texto. Saia agora da internet, acesse o NETFLIX e ASSISTA JESSICA JONES.

São 13 episódios. Em um final de semana você vence as cerca de 13 horas da primeira temporada do seriado. E vou te dizer: será um dos finais de semana mais bem aproveitados da sua vida. Aceito que você volte aqui, depois, para agradecer.

Bem, você dirá que eu sou um aficionado em gibis e supers. Logo, qualquer seriado de supers será o máximo para mim.
Acontece que... Jessica Jones não é sequer uma "anti-heroína" como Wolverine, DeadPool ou Justiceiro. Não. Ela sempre foi uma "Anti-Supers". Até em sua fase "Safira", Jessica Jones jamais se sentiu confortável com a exposição e as responsabilidades de um super-herói.

Jessica faz as coisas certas porque é a coisa certa a ser feita. Mas ela não tem um super código de honra, que a impeça de matar, por exemplo. Para ela, justiça é justiça. Não importa o meio utilizado para restabelecer a normalidade.

E isso é algo que é amplamente discutido na série: a moral humana é algo sólido, ou é corruptível caso não existam consequências?

Mas Jessica Jones não é excelente só por causa da perfeita construção da personagem principal ou da discussão filosófica que propõe. O seriado é excelente porque toda a trama e todos os personagens foram muito bem amarrados.

Eu fui MARVETE durante toda minha adolescência. Tenho 14 anos ininterruptos de gibis do Homem Aranha, especiais, X-Men, Capitão América, entre outros títulos. Adorava o drama humano retratado nos gibis.
Mas lá pelos meus 20 anos eu notei um problema na MARVEL: a editora trata muito mal seus vilões.

Os vilões da MARVEL ou são extremamente dúbios, confundindo-se com heróis, como o Magneto (e sua família... Feiticeira Escarlate e Mercúrio eram vilões... hoje são heróis!), ou são figuras rasas, sem profundidade necessária para termos ligações com o personagem (como Dr Octopus, Loki, etc...)

Eu migrei para a DC porque aprendi que um herói é tão forte quanto o desafio que ele consegue superar. Por isso, muito mais importante do que ter um personagem heroico perfeito, é ter um vilão com profundidade tal que desafie o herói. Para que o Batman seja o Batman, é necessário que o Coringa realmente o coloque em uma situação impossível de ser resolvida. Lex Luthor é tão bem construído que chegamos a ficar do lado dele quando ele discursa! (No gibi, claro. O "Lex ladrãozinho de banco" dos filmes é ridículo. O Lex dos gibis tem o discurso "a humanidade não precisa de super-heróis-babás. Nós podemos fazer as coisas sozinhos!)

E esse talvez seja a maior vitória de Jessica Jones: pela primeira vez eu vi a MARVEL se preocupar em dar profundidade ao vilão da série. Kilgrave (Killgrave/Homem Púrpura) começa como um vulto. Seus poderes são mostrados aos poucos. Toda a paranoia provocada pelo seu poder de controle mental é mostrada aos poucos. Quando finalmente vemos Kilgrave, já temos uma boa ideia do que ele é capaz.
Mas a partir do momento que vemos Kilgrave, passamos a conhecer seu passado e sua condição. Diga-me: se você tivesse o poder de convencer qualquer pessoa a fazer qualquer coisa com apenas uma ordem simples, você também não se entediaria ao ter que esperar que as pessoas fazerem o que você quer? Não estaria tão acostumado a tudo acontecer do seu jeito que teria surtos de raiva e até curiosidade para saber porque alguém não obedece aos seus comandos?

E o pior: quão sozinho você se sentiria se soubesse que ninguém fica ao seu lado de livre e espontânea vontade?

Sim! A construção do Kilgrave é tão bem feita que lá pelo oitavo ou nono episódio você chega a ter PENA do vilão.

Esse tipo de construção faz com que o seriado não seja um eterno "bandido faz algo errado -> mocinho encontra bandido -> mocinho vence e prende o bandido".
Você fica atrelado aos valores morais dos personagens. Você toma partido. Seria Jessica Jones tão "anti-supers" que atravessou o limite da justiça para combater outro meta-humano com quem se envolveu? Ou somente o Kilgrave é tão acostumado a manipular as pessoas que chega ao cúmulo de se convencer (e a nós!) que ele é um pobre coitado?

Esse poder de navegar entre o certo e o errado a todo momento é o que nos prende ao seriado. Jessica Jones dá tempo aos personagens para que eles se desenvolvam durante o seriado. Jessica tem diversos trabalhos de investigação para proceder. E ela mostra toda sua furtividade para seguir, sua paciência para montar campanas... E toda sua habilidade de luta para conseguir o que precisa para solucionar os casos.

E não vamos esquecer o principal poder de Jessica: O super-fígado!
(Como bebe essa moça... E que inveja eu tenho dela!)

A construção dos personagens Jessica Jones e Kilgrave passa, necessariamente, pelos personagens coadjuvantes.

Temos a Trinity, ou melhor, a advogada Jeryn Hogarth. Ela é o contato jurídico de Jessica. Uma das principais clientes, sempre com necessidade de juntar provas para seus casos. Impetuosa, Jeryn está passando pelo divórcio com sua esposa. Apesar de ser uma advogada de defesa, construiu sua fama por "nunca perder um caso", mesmo que para isso precise apelar para métodos não ortodoxos. Parece que ela se dá bem com Jessica? Não. A convivência das duas se dá através de muitas negociações e nenhuma cordialidade.
Jeryn é cruscial para mostrar que Jessica não está presa à hipocrisia ou à justiça convencional, ditada pelas leis. Muito embora, também mostre que a pouca empatia de Jessica também é uma característica humana. No final, também mostra que, mesmo alguém tido como bom, também pode se mostrar mal... e no fim voltar a ser uma vítima, contrapondo o que acontece com Kilgrave.

Temos Patsy Walker como irmã adotiva de Jessica Jones. (WTF???) Nos gibis, Patsy Walker é a Felina. Uma super-heroína que passa por perto dos Defensores, dos Vingadores... Mas que não tem muita relação com Jessica Jones. Ok, no seriado elas são irmãs. O seriado mostra a sequência "Alias", a detetive de Jessica Jones. Seria logo após Jessica ter desistido de ser uma super-heroína... e logo antes dela se envolver com jornalismo.
Patsy era uma estrela infantil e hoje é uma estrela do rádio. Sua mãe adotou Jessica depois do acidente que a deixou órfã. A mãe de Patsy explorava sua filha. E Jessica ajudou Patsy a se afastar da péssima influência da mãe. O seriado dá a entender que Jessica havia enfrentado Kilgrave antes e que Patsy havia ajudado Jessica... e sido ela própria uma das vítimas de Kilgrave. Por isso, Patsy treina luta e formou o próprio bunker em sua casa. Patsy é entusiasmada com a ideia de Jessica ser uma heroína. Inclusive é Patsy quem traz o uniforme de Safira, que é zoado pela Jéssica, assim como em todos os demais heróis que zoam seus uniformes do gibi, nos filmes da MARVEL.
Patsy tem papel ativo como side-kick de Jessica, mostrando desde o início que pessoas comuns também querem ser altruístas e heroicas.

Luke Cage será o marido de Jessica. Certeza. Ambos sempre fizeram uma excelente dupla... Embora Luke seja parceiro de outros supers e atue mais como super-herói, o Luke do seriado não quer chamar atenção. Mostra que Jessica não é a única super a se distanciar dos problemas que ser um super traz.
A adaptação dos poderes de Luke Cage ficaram ótimas. As lutas ficaram muito bem coreografadas (muito melhores do que as da Supergirl, por exemplo!).
E a primeira luta dos dois juntos, no bar! Eles citam o Hulk e os Vingadores!!!

Os demais personagens, especialmente os utilizados pelo Kilgrave para atingir Jessica, são estereótipos muito bem encaixados na trama. A menina violentada, assassina e presa, que inclusive fez um aborto!!! O policial controlado que tenta matar Patsy e depois tenta se redimir (ele usava miraclo??). O vizinho drogado, os vizinhos barulhentos... São tantos personagens próximos com dilemas tão bem estruturados... Todos no meio do fogo cruzado entre Jessica e Kilgrave.

Jessica Jones te faz gostar do modo pouco ortodoxo de investigação, da vida jogada, da luta do bem contra o mal... Enquanto te faz pensar em todos os limites morais que temos.

O futuro?

Bem, nos gibis, Jessica conhece o Demolidor enquanto ele é Matthew Murdock, o advogado. Acredito que, depois de vencer Kilgrave, a MARVEL fará com que Jessica se associe a Matthew, o ajudando a conseguir provas para enfrentar os vilões de ambas séries.
Como já estão previstas séries de Luke Cage e Punho de Ferro, logo teremos um seriados dos Defensores.
E os Defensores têm papel ativo na Guerra Civil, primeiramente do lado do Capitão América... E como são heróis mais fracos, acabam se alistando na iniciativa do Homem de Ferro por não poderem fazer frente a ele.

É aqui em que é uma pena que o Homem Aranha esteja entregue à Sony. Talvez... Talvez a Sony e a Disney entrem em um acordo e compartilhem Peter por mais do que uma participação no filme do Capitão América.

Enfim. Jessica Jones revolucionou os seriados da MARVEL. Levou os padrões a outro nível. Agora estou oficialmente de ressaca, esperando ansioso a segunda temporada!

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