sábado, 5 de fevereiro de 2011

Eu reclamo

E reclamo muito mesmo.

Reclamo porque não acho que tenha o direito de modificar as pessoas, muito embora possa ter o desejo. E, quando o que eu desejo não anda lado a lado com a realidade - que não tenho o direito de mudar - sobra-me a reclamação.

Por isso, amigos que lêem o blog esperando algo profundo, este post não é para vocês.
Aliás, vários outros posts não são para vocês. Eles têm endereço certo para entrega, muito embora eu viva deixando em branco o campo. Eu espero igenuamente que as pessoas para as quais eu escrevo ao menos leiam minhas queixas. Em uma breve utopia, que entendam... Em um sonho turbulento, daqueles de acordar todo suado, imagino como seria se o conteúdo alcançasse seu objetivo: a mudança de comportamento dos destinatários de minhas petições.

Mas hoje não, sabe? Hoje eu to com vontade de dar nome a bois.

Hoje eu respondi a uma linda mensagem da Kelly (minha prima) com tema de "mãe", no facebook dela.
Mais ou menos assim:

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‎"3 anos: "Mamãe, te amo." 11 anos: "Mãe, não enche." 16 anos: "Minha mãe é tão irritante." 18 anos: "Eu quero sair de casa." 25 anos: "Mãe, vc tinha razão." 30 anos:" Eu quero voltar pra casa da minha mãe." 50 anos: "Eu não quero perder a minha mãe." 70 anos: "Eu abriria mão de TUDO pra ter minha mãe aqui comigo."...Vc só tem 1 mãe. Coloque isso no seu mural se vc admira e ama a sua mãe" (by Ale)


    • Kelly Seixas Passamos a vida reclamando inúmeras vezes de nossas mamães, mas quando a coisa aperta são elas que nos socorrem, cheias de amor e carinho!

    • Arthur Luiz Tavares Pior é tu ter ela viva tentar ter esse tipo de admiração e não conseguir porque ela simplesmente não é isso tudo... "Ser pai não basta, tem que participar" - não é mesmo?

    • Valéria Bolsoni Como MÃE.... me decepciono cada vez mais com os ditos "filhos"..... infelizmente eles não são 'tudo isso... "... Bjas minha linda... :)

    • Arthur Luiz Tavares Olha só... primeira "participação" efetiva em 8 anos, depois de ter dito algo como "não tenho filho homem"... Kelly, desculpe o barraco no teu Facebook...
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Confesso que me liguei que estraguei a intenção da Kelly com seu post só depois que veio a resposta. Não me ocorreu a réplica.
Depois, como eu mesmo indiquei... No final de 2002 eu saí da casa da minha mãe ouvindo frases como a citada. Foi muito tempo pensando os fatos, revendo cada pequena coisa que aconteceu durante toda a minha adolescência. Muito tempo chorando, deprimido, pensando "o que eu fiz para merecer isso" - de coração. Reavaliando os meus atos, tentando compreender o que deveria mudar para - enfim - obter aprovação desejada.
Mas, depois de muito tempo e de muitos exemplos que a vida me trouxe, me convenci que os erros principais não eram meus. Porque, bem ou mal, eu sempre tentei lutar pelo que acreditava - mesmo que estas coisas fossem tremendas bobagens. Eu sempre corri atrás de sonhos, eu sempre me esforcei. Sou uma pessoa solícita - sempre tenho um "SIM" pronto para cada pessoa que chega perto de mim. Sou paciente... escuto a todos com a mesma atenção. Não tenho muito carisma e não demonstro a minha empatia em sua totalidade com quem tem a cara fechada. Mas, mesmo assim, me aproximo das pessoas com certa facilidade. Meus modos, educação e maneira de pensar sempre me ajudam onde quer que eu vá.
Não pai, minha maneira de pensar NÃO é igual a da minha mãe. Não, ela não fez porra nenhuma de lavagem cerebral comigo.
Eu sou um produto das minhas conclusões. Desculpe não ser 100% você. Assim como a "lavagem cerebral" da minha mãe, a sua também não funcionou. Decidi - eu próprio - nunca me apegar a nenhum conceito tanto que não pudesse trocá-lo por outro que julgue melhor. E é o que aconteceu tanto com minha mãe quanto com meu pai. Eu simplesmente não penso igual a nenhum deles porque nenhum deles veio para perto de mim com o coração aberto. Demorou muito tempo para concluir o que o meu coração já sabia. Cada qual tinha suas próprias pedras em sua bagagem. E utilizaram da maneira como preferiram: Arremessando um contra o outro. Porém, se esqueceram que eu sequer tinha escudos para me proteger desse fogo cruzado.
O que fiz? Aprendi a desviar...
Mãe, sua incapacidade de compreender e tocar meus sentimentos fizeram com que a lembrança mais querida que eu guardo de ti seja tu me tomando lição antes de provas... lá na quinta série. Triste, não? Não tenho um beijo, um carinho, um colo, um abraço... nada para aquecer meu coração quando a saudade aperta. Só a lembrança de passar alguns momentos respondendo perguntas sobre o capítulo da prova que iria fazer dali algumas horas.
E eu penso o porquê disto...
Minha mãe era uma pessoa "para frente" na juventude dela. Tinha aspirações, idéias, energia ímpares. E não, não foi meu pai quem disse isso. Parem de ficar me torturando com a sua briguinha estúpida. Eu notei. Notei de TODOS com quem falei. Notei em cada ato. Ou vocês dois acham que eu não sei pensar? Que sou uma merda de um papagaio que só repito o que os outros dizem?
Mas voltando... Minha mãe teve tudo em suas mãos para ser o máximo. Advogada de carreira brilhante... ou o que quisesse! Ela tinha a fibra... Mas, no fim, talvez a própria fibra dela tenha jogado contra. Porque, talvez, a carreira de sucesso ou as idéias revolucionárias não fossem o mais importante para ela... talvez... eu sei é que, no caminho, ela falou muita coisa que não fez. Ela pregou valores morais e intelectuais que não se comprovaram, ao não transformarem-se em atos.
Hoje eu sei que, quando a minha mãe desistiu do direito - já em Criciúma - foi o primeiro grande vazio que eu senti na vida.

Depois, juro que tentei me reestruturar emocionalmente morando com "meu pai". As aspas são propositais e, talvez, o mais importante da última frase. Isso porque, de 2003 até hoje, muito pouco passei - efetivamente - com meu pai, de verdade. Aliás, mesmo com 28 anos batendo na porta, ainda tenho mais experiências "de pai pra filho" com o Tio Cláudio do que com ele... A maior parte do tempo passei com minha avó, na prainha "fim-de-mundo". Não que isso transforme-a em uma santa ou pessoa excelente... Até o presente momento eu me paro pensando "porque eu sou tratado como um aluno de internato na casa da minha avó"? Aliás, sobre a "casa da minha avó" só digo que "paredes e um teto podem compor uma casa, mas muito mais é necessário para se constituir um lar..." Não adianta colocar todas as flores e frutas do mundo no pátio ou uma matilha de cadelas bonitinhas dentro de casa... a casa é totalmente destituída de vida, calor humano, carinho ou afeto.

E... AS... PESSOAS... NOTAM!

Ridículo escutar "eu te cedi um quarto". Na última carta que a Fabíola me escreveu, depositando toda a raiva e indiferença que eu merecia, ela me fez questão de esfregar em minha cara o quanto a vó do Ícaro era legal, simpática... Bem, isso fez com que eu me jogasse em uma "pesquisa de campo": Como são as outras avós?
Olha, os pais dos meus amigos eu já havia visto o bastante. Desculpa pai, eu passei tempo demais da minha vida na casa dos outros, fugindo da falta de atenção nas minhas próprias, para ver mais do que a fachada. Pais e filhos brigam, pais mandam, filhos reclamam... Mas há carinho, afeto, compreensão... vontade de estar junto...
Mas voltemos à pesquisa das casas das vós... é um ponto importante...
Conversei muito - certa vez - com uma menina. Chamava-se Carol e ela tinha a sua avó... Avó que ela gostava muito. Nós dois nos identificamos porque ela também tinha pais separados... E ela me confidenciou que só tinha verdadeira paz e alegria quando estava na casa de sua avó. Lá, dizia ela, ela poderia ser "ela mesma". A vó mantinha um quarto só para ela em sua casa. Segundo fotos que ví (obrigado à toda minha família por me fazerem desconfiado de tudo e de todos...), o quarto cor-de-rosa era um sonho feminino. Cortinas com babadinhos, colchas, tapetinhos, móveis combinando... Cheguei a pensar que a vó dela a tratava como uma boneca. Ou, ainda, levou a sério demais a idéia de "dar pra neta tudo o que ela mesma não teve".
Bem, sei lá, só sei que vi isso repetido em vários locais. Avós com orgulho, tratando netos bem. O máximo do chavão "pais educam, avós estragam". Mais uma vez, insisto em dizer que não compreendo porque pareço recruta em primeiro dia de quartel na casa da minha avó.

Mas o que mais espanta nessa história toda é meu pai... Sabe, eu vejo a família como um porta-aviões. ESTOU FALANDO DA INSTITUIÇÃO, NÃO DE PESSOAS.
Bem, a instituição família é um porta-aviões. E, na analogia, os aviões são as pessoas. Nenhum avião consegue ficar por sí só. Ele precisa do porta-aviões para decolar. Precisa de sua referência para voar. Precisa MUITO para a aterrisagem. É o porta-aviões que reabastece. Que dá suporte.
E isso é em todos os sentidos. Precisamos de carinho, precisamos de atenção, cuidado... E toco abertamente em um assunto-tabu para minha família: Precisamos de dinheiro. Porque, infelizmente, nada nesse mundo se faz sem dinheiro.
Só digo assim... Passei uma adolescência inteira à mingua. Não fazia coisas. Não saía, não acompanhava meus amigos... Na única vez que relamente quis algo (o Namoro com a Fabíola) fui severamente julgado por ser "dinheirista". Por gastar o dinheiro do meu pai e da minha avó... Alguém avisa pra eles que isso é - para adolescentes - normal? Alguém avisa que isso acontece até que possamos "andar com as próprias pernas". Melhor ainda, alguém avisa pro meu pai, pra minha mãe (principalmente os dois) e, depois, pra minha avó que são eles que devem (DE-VEM) me ajudar a "andar com as minhas próprias pernas"?
Porquê o Sr Ary ganhou casa, comida e roupa lavada para fazer a faculdade. Ganhou dinheirinho da minha Bisa a tempo e a hora para fazer o que precisava. Ganhou até ajuda da Tia Gina para pagar a faculdade em diversas vezes. Tudo isso já tendo curso superior. Tudo isso enquanto EU estava tentando tirar a minha primeira faculdade. Ele lá, concorrendo comigo, gastando dinheiro que não tinha enquanto a minha faculdade fica atrazada até eles decidirem pagar...
Pior, na "prainha-fim-de-mundo" não há trabalho para pagar a faculdade...
(Só para constar, meu pai terminou a faculdade, escolheu um ramo que não tem mercado no Brasil e não está trabalhando efetivamente... Logo, todo o investimento - por enquanto - foi só excentricidade.)
É irônico que, para ter possibilidade de "andar com as minhas próprias pernas" eu tenha que sair do "porta-aviões" da minha família e passar a usar outros "porta-aviões" por ai.
Aliás, querem saber porque a dona Ereni me odiava tanto? Simples: ela sabia disso tudo. Sabia que eu não tinha apoio da família e teria que me matar para conquistar algo.
Sabia que meus pais eram uns desleixados para comigo e que não iriam "levantar o trazeiro gordo" nem para o básico.
Aliás, até os maconheiros dos pais da Amanda sabiam disso.
Aliás... os pais da Mariana também sabem.

Aliás... QUALQUER UM QUE ME CONHECE SABE DISSO... DÁ PRA VER NA CARA!

E, não se enganem. Toda ou qualquer mentira que tenha proferido nesse tempo todo é fruto dessa falta de estrutura. Começou com um "conselho de mãe": "Se te perguntarem a profissão dos teus pais, Teu pai é Engenheiro e tua mãe é Advogada." Na época minha mãe era estudante de direito e meu pai jamais foi - de fato - engenheiro.
É claro que, quando os pais dos meus colegas ouvem essa mentira, esperam um muleque riquinho de amigo dos filhos. Ainda tenho o estereótipo de "riquinho rico" (loiro/castalho de olhos azuis...), o que só colabora para que os outros criem uma imagem de mim. O problema é que, com a falta de empreendimentos dos meus pais, a imagem não se materializa. Ai é fácil o Arthur ser o mentiroso na história toda...

E o pior é que, mesmo assim eu estou aqui. Eu estou me esforçando. Me mato trabalhando, mostrando que sou bom, que há pessoas que reconhecem a minha capacidade, talento, a minha pessoa.
Muito diferente de vocês três, cada qual com sua loucura de vida, achando que o Arthur não precisa de ajuda para faculdade, que o Arthur não precisa de apoio e incentivo, achando que é o Arthur quem tem que provar algo para vocês... Mesmo sendo vocês que me devem anos de abraços, incentivos, ajuda para abrir portas, camaradagem, jogos de futebol no quintal e afins.

Pai, quando vamos usar a maldita bola de voley que tu comprou? Nem quando eu fiz as prateleirinhas lá pro quarto tu quis me ajudar...
Aliás pai... pra um tarado por qualidade de equipamento, tu pecou  E MUITO em não ter me dado um instrumento de verdade... Ou tu acha que o som que eu tiro naquele violão pau-velho é o máximo da minha capacidade? Teu filho já se apresentou em público com bons intrumentos e todos gostaram...
Mãe, saiba que a porta até mim está sempre aberta... inclusive no que eu disse ali em cima. Eu juro que tento ter admiração. Eu quero. Mas não consigo encontrar motivos. Por favor, os dê! Faça algo, conquiste os sonhos que tu tanto queria, corra atrás... É possível.
Vó... Vou dizer denovo, reafirmando que não se trata de uma ofensa mas, sim, um desafio: EU nunca ví a Catarina professora, orientadora ou supervisora. Eu só ví a Catarina faxineira e a Catarina jardineira. Gostaria muito de ver a minha avó se portando como a pessoa que todos dizem que ela foi. Gostaria de ver minha avó editando e publicando seu livro. Dando palestras Brasil, América-latina e, porque não, mundo a fora. Sendo respeitada por todos.

E, hoje, eu luto só por isso. Luto pelo sonho que eu vejo cada dia mais distante... O Sonho de ter uma família normal. Um pai protetor, alguém que mereça ser chamado de "Sr" quando se cumprimenta.
Ter minha mãe amorosa e acolhedora, a quem mereça todas as proteções do mundo.

Mas...
Como eu disse no início, sou um sonhador de utopias...

Novamente, desculpem os amigos que lêem o blog procurando algo mais do que minhas reclamações.

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