sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resposta


Depois de muito tempo (MESMO), hoje alguém me largou três frases que merecem resposta a respeito de um tema.
Essas três frases sequer arranharam minhas opiniões, mas, por serem ditas corretamente em uma discussão sadia, merecem a devida resposta.

O texto é longo e recomendo a leitura com atenção até o final.

Quero começar dizendo que mandar-me estudar teologia é um ataque direto de menosprezo à minha pessoa. Não falo do que não sei. Por sorte, sei de muita coisa.

A primeira frase que vou responder é a segunda, cronológica, me dita. Ela me ajudará a introduzir minha resposta:

"Religiões são fruto da fome de transcendência humana e nasceram junto com a humanidade e seu processo civilizatório"

Boa. Concordo.
Estamos aprisionados, fisicamente, no tempo da nossa existência. Sim, é uma prisão. Penso no tempo como uma prisão porque, por mais que pensemos ser livres, jamais passaremos da distância máxima que pudermos percorrer durante o tempo de nossas vidas. Imagine: Uma vida humana não é suficiente para chegar à 1/100 da distância da estrela mais próxima, fora o sol!
Talvez por isso a velocidade dê a sensação de liberdade que proporciona. Quanto maior a velocidade, maios espaço percorremos, em menos tempo. Se há algum Deus, esse Deus deve ter o controle absoluto da velocidade.
Mas esse sentimento de prisão não vem sozinho. Vem acompanhado com a ideia da inexistência que acontecerá quando o tempo de vida acabar. A morte, para nós, até que se prove o contrário, é o fim. Deixamos de ser algo material para nos tornarmos uma ideia, uma lembrança. Particularmente, minha concepção de imortalidade passa pela capacidade de nos fazermos lembrados pelos outros.
Porém, as frágeis e contraditórias emoções humanas não suportam a perda. Sim, a perda dos outros. Porque são raríssimos os exemplares da nossa espécie que pensam na própria morte como sofrimento para os nossos entes queridos.
Assim sendo, começou-se a pensar na tal "vida após a morte".

Acho essencial deixar algo claro, líquido e certo, aqui, agora: NUNCA, NINGUÉM PROVOU A EXISTÊNCIA DO "OUTRO LADO".

Desculpem-me as pessoas que acreditam. Mas as crenças são baseadas em provas circunstanciais. "Está escrito em um livro". Desculpem-me, mas Alcorão, Bíblias, manuscritos, etc... não são fontes confiáveis. E dizer que "os escritores estavam imbuídos do Espírito Santo" é muito estranho. Se esse Espírito veio uma vez à Terra, porque não veio mais vezes? Será que nossa atual conjuntura melhorou o suficiente para que Deus nos deixasse andar com nossas próprias pernas?

Bem, retomando, então as tribos ancestrais sentiam demais a perda de seus entes queridos e passaram a gerar a ideia de vida após a morte como alento para tristeza que sentiam.
E, se há uma vida após a morte, deve haver uma estrutura que a gerencie. Devem haver leis que regulem esse outro mundo. E, é claro, onde há ordem e leis, há responsáveis pela instituição, manutenção e julgamento. Logo se desenvolveram cultos ao sol, chuva, vento, mares, animais, natureza, outros seres humanos, etc...
Quando estes "outros seres humanos" apareceram, é que começou a bagunça. Ressalto que, desde sempre, as pessoas que controlaram essa comunicação divino-humano, se beneficiaram de alguma forma. Porém, foi ao antropomorfizar a figura divina, que, literalmente, "baixaram" o Deus do plano divino e trouxeram para o dia-a-dia das pessoas. Um Deus-Sol não fala. Um Deus-Trovão aparece, mas não interage. Agora, um Deus-Homem. Ele fala. Faz planos. Tem vontades. Tem opinião.
E são essas características do Deus-Homem que me desconcertam.
São essas características que fazem com que hajam - ainda hoje! - sacrifícios humanos!
São essas características que fazem com que comer carne de porco seja proibido aos Judeus!
São essas características que fazem com que muçulmanos tenham que parar a vida por vezes ao dia, só para orarem!
São essas características que fazem com que muçulmanos apedrejem pessoas até a morte, sem julgamentos!

Tudo isso em troca do que?

Bem, em tempo remotos, antes da revolução iluminista, concordo que as pessoas precisassem ser forçadas a respeitar as regras básicas de convivência (conhecido como "Pacto Social"). Aliás, concordo que hoje em dia algumas pessoas ainda precisem ser forçadas, igualmente. Ironicamente, essas pessoas costumam ter o modo de pensar de eras passadas, onde não tínhamos pensamentos iluministas para nos guiar.
Acredito, por exemplo, que tribos e povoados silvícolas ainda vivem na era do paleolítico. Consequentemente, seus costumes, filosofias e religiões estão atrelados a este tempo.
A religião das pessoas relocam-nas para o tempo onde a mentalidade predominante era a da doutrina. Assim, não é de se espantar que certos grupos religiosos tornem-se grotescamente medievais, romanos, astecas, gregos, egípcios, babilônicos e, novamente, paleolíticos.

E como a religião é algo arraigado em nosso cotidiano, essas ideias ultrapassadas são mantidas e transmitidas de geração para geração.

Assim, ao invés de não matar as outras pessoas porque é algo errado e hediondo, por pura consideração de que a vida de outrem é tão importante quanto a minha, pessoas religiosas não o fazem porque é um dos mandamentos divinos.

Mas a hipocrisia religiosa vai mais além.

Antes fosse a pura obediência cega o fato motivador da crença em religiões.
Para manter seus fiéis, vários sacerdotes criaram a ideia de punição.
Assim sendo, infernos, purgatórios, julgamentos e toda espécie de tortura foram institucionalizados e pregados. Para manter o público, foi preciso ameaçá-los!

Desde então, o bem é feito não porque é o certo a fazer; mas, sim, pelo medo do mal.
Não se engane: o Kardecista que dá cestas básicas aos necessitados só está interessado na própria salvação.

Não existem atos altruístas fora dos gibis.

Não ficaria surpreso se, na hora do julgamento, esse interesse velado fosse posto nas balanças.

"Estás enganado, fazes tabula rasa das religiões. Essas aí não são igrejas, são empresas fuleiras"

Sim. Faço pouco de TODAS as religiões, sim.
E o meu problema pessoal é que a argumentação da religião não se sustenta. Os benefícios que elas criam servem para compensar os seus malefícios.
Como bom pisciano, eu quero acreditar. De verdade. Mas, infelizmente, não consigo acreditar em algo que não possa ser comprovado.
E, somente então, notei um paradoxo. Uma piada interna. Uma mentira repetida até virar verdade:

É a ciência que é baseada na humildade, enquanto a soberba se encontra na fé.

A ciência procura as verdades. Quando acha que encontra, comemora e faz a vida de todos melhor. Porém, tudo é posto à prova, o tempo inteiro. Outro dia, afirmaram que a luz não possui a velocidade máxima no universo. Einstein, nosso exemplo de gênio máximo está sendo posto à prova. E nós, pessoas dadas às ciências, estamos exultantes! Qualquer que seja a conclusão, queremos sabê-la! Se Einstein estava errado, vamos corrigi-lo! Novas descobertas aparecerão e nossas vidas tornar-se-ão melhores! Agora, se Einstein continuar supremo, continuaremos a testá-lo. E, mesmo que um dia encontremos falhas em suas teorias, ele não deixará de ser a referência que é. Assim como Newton e tantos outros. Não consigo compreender conceito melhor de humildade do que reconhecer que pode-se estar errado, mesmo quando tudo ao seu redor indica que se está certo.
Já a fé institucionaliza as verdades. Está escrito. É assim. Foi dito. Escritos que possuem milênios de idade continuam fazendo parte das vidas das pessoas, dia a dia, geração a geração. Pessoas que se satisfazem ao creditar as maravilhas que acontecem ao sobrenatural. Não consigo conceber mais exemplo de soberba do que se achar certo, mesmo com todas as provas apontando o contrário.

"Religiões não se submetem à tua percepção reducionista"

Minha percepção de religiões passa por todas as que temos notícia. Gosto da ciência e encaro a religião com métodos. Leio o que posso, não me privo dos debates e tiro minhas conclusões.
Já participei de Grupo de Jovens Cristãos, fui a cultos evangélicos, Mórmons, templos budistas, longas tardes conversando com Kardecistas.
Vejo filmes, documentários e já encarei missas e cultos que são repassados na televisão.
"Nosso lar", "Eram os Deuses Astronautas?", livros sobre mitologia Grega, Romana, Celta...
Textos sobre Sidarta Gautama, sobre Jesus Cristo, sobre Maomé.

Todas as religiões que tive conhecimento se reduzem, infelizmente, à manipulação do povo, utilizando-se de sua boa-fé.

E, bem no fim, minha consciência fica tranquila. Mal sei da vida aqui na Terra, imagina se eu ficar perdendo o meu tempo pensando em como é a vida "no outro lado". E, como ninguém parece vir com um "manual de instruções" "do outro lado", minha conclusão é uma só: "preparar" a próxima vida é uma perda de tempo.

Mas eu sou um cético em busca de confirmação.
Talvez, no final das contas, minha falta de fé na religião me torne uma pessoa muito mais "salvável" no juízo final: eu quero viver bem e em harmonia neste mundo porque isso - por si só - basta para mim. Se houver "outro lado", preocupo-me depois.
Isso faz com que minha satisfação e experiência sejam garantidas. Base racional de vida. Faço as coisas porque é o melhor e o certo a ser feito.
Acredito que o certo é algo que todos saibam identificar, e me pauto por isso o tempo inteiro. Sou juiz de mim mesmo, me policiando para não fazer coisas que - de alguma forma - lesem as pessoas à minha volta.
Muito melhor do que carolas "ratas-de-igreja" ou "marias-batina", que pregam o cristianismo aos quatro ventos, mas têm uma vida repleta de "pecados".
Muito melhor do que homens-bomba que nunca perderam uma hora de oração voltados para Meca.
Muito melhor do que tribos africanas que fazem seu sacrifício humano periódico ao seu Deus.

Sim, no final, reduzo a insensatez e o fanatismo religioso, retirando toda a "gordura" de más práticas e ensinamentos e ficando só com os seus bons propósitos.

Isso, é claro, até que seja provado cabalmente a existência de um Deus real e sua religião oficial.

Att.
Arthur Tavares

"Quando a necessidade e a perfeição são inimigas, há algo errado."

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