Ontem eu fui assistir ao filme "Rio 2".
Inicio dizendo que a culpa é da Pixar. Não, "Rio 2" não foi feito pela Pixar. Mas a Pixar leva a culpa porque nos acostuma mal. Estamos realmente acostumados com o "Padrão Pixar de Qualidade", que eleva as animações de reles desenhos animados por computação gráfica para uma experiência realmente diferenciada de entretenimento. Quem não se emocionou no final de "Toy Story 3" que atire a primeira pedra.
Assim, quando vamos ver animações de outros estúdios, não nos lembramos que são outros estúdios. Acabamos esperando qualidade similar. O que, definitivamente, não nos é entregue.
Tá. "Sherk", "Como treinar seu Dragão" e talvez mais uma ou outra animação realmente se aproximaram do "Padrão Pixar de Qualidade". Mas paramos por aí, né? Que bom que concordamos em algo.
"Rio 2" pareceu-me mais um ato de oportunismo do que, propriamente, um estúdio dando uma continuidade séria à história de seus personagens. Isso porque o filme resume-se em uma história infantil, uma explosão de cores e muitas, mas muitas mesmo, músicas. Até agora, aqui, enquanto escrevo este texto, estou tentando a dizer que "Rio 2" é somente um musical animado. Uma espécie de continuação do filme "Você já foi à Bahia?", estrelado pelo Zé Carioca e pelo Pato Donald, lá na década de 40...
A história é muito simples. O roteiro divide os humanos das araras. Linda e Túlio estão na Amazônia para soltar um pássaro que encontraram e cuidaram, enquanto Blu e Jade continuam no Rio de Janeiro. Blu e Jade já têm três filhos. Tentaram fazer uma gordinha viciada em tecnologia, um guri aventureiro e uma menininha nerd. Mas eu duvido que muita gente sequer NOTE isso. Blu gosta de estar perto da civilização e Jade está infeliz por não ter mais contato com a natureza.
Eis que Linda e Túlio acham que viram araras azuis na Amazônia. Aparecem na TV. E Blu e Linda decidem ir até a Amazônia para ajudarem Linda e Túlio a encontrarem as outras araras azuis... Alguns amigos do casal vão junto, para encontrarem aves para o carnaval (SIC)...
Piadas prontas na viagem, do estilo "Homem usa GPS e se perde", entre outras.
No meio da viagem, descobrimos que Nigel, a Cacatua malvada do primeiro filme, está viva, não pode mais voar e nutre um grande desejo de vingança para com Blu. Nigel vê Blu em sua viagem e decide seguí-lo, para se vingar. Nigel conta com a ajuda de um Tamanduá (o simpático e engraçado Carlito) e da rã venenosa (a dramática e apaixonada Gabi).
A rãzinha tinha tudo para ser um personagem que ganharia a empatia do público. Isso, é claro, se não ficasse cantando o tempo inteiro. Que coisa chata!
Quando Blu e Jade chegam na Amazônia, descobrem que há um bando de araras azuis... liderados pelo pai de Jade. Emoção no reencontro. Uma tia gorda de Jade é outro ponto engraçado do filme... por uns 15 minutos. Porque, depois disso, parece que o personagem é esquecido por todos...
Por falar em personagens esquecidos... Os amigos de Blu fazem a audição para o carnaval, com os animais da floresta. E, no meio da audição, Nigel aparece. Sério, assistam a este filme LEGENDADO. Porque, dublado, eles traduzem "I will Survive", DESTRUINDO COMPLEMENTE a música, no processo.
O pai de Jade não vai com a cara de Blu, blá-blá-blá, roteirinho padrão de comédias românticas, Jade reencontra uma paquera de infância, Blu fica com ciúmes, blá-blá-blá, mais roteirinho bobo para passar o tempo, filhotes do Blu gostam e se dão bem com o amigo de infância de Jade, o pai de Jade maltrata Blu no "treinamento da selva", Blu fica com "#mimimi a selva tem bichos e hábitos nojentos", o pai da Jade fica com "#mimimi Blu é ave de estimação" e Jade fica "#mimimi estamos na selva, o nosso lugar"...
Blu tenta agradar Jade para reconquistá-la. Nisso, invade a área das araras vermelhas sem saber. É pego "roubando comida". É chamado para um desafio.
O filme faz pensar que é uma briga. Mas é um jogo de futebol...
Nem preciso dizer que, como bom Colorado, torci para as araras vermelhas. Aliás, nem precisava ser um grande gênio para notar que as araras vermelhas ganhariam. O roteiro era tão plano e sem tramas auxiliares que, se as araras azuis ganhassem, poderiam acabar o filme na comemoração...
Peraí. Estou sendo injusto. O filme tem a trama paralela da Linda e do Túlio. Como eles apareceram na TV em cadeia nacional, o madeireiro ilegal daquela área da Amazônia foi pessoalmente lá para "sumir com os dois". Legal mostrarem isso no filme. Bem brazileiro isso, mesmo.
Linda e Túlio são capturados e presos pelos madeireiros. Então Blu, arrasado por ter feito o gol contra que derrotou as araras azuis, sai atrás de Linda. Quando a encontra, é hora do confronto final entre araras e madeireiros.
A improvável vitória do efeito enxame acontece. Como as araras vermelhas (que até cinco minutos atrás eram inimigas das araras azuis) se juntaram na batalha contra os madeireiros, a batalha é uma explosão de cores na tela.
Aliás, o filme inteiro é muito bonito nisso. Cuidado ao assistir esse filme, se você sofre de convulsões ou epilepsia. Sério.
Bem. Eu suprimi meia dúzia de piadinhas realmente engraçadas, para que você tenha alguma diversão com o filme.. As tartarugas capoeiristas são excelentes.
Mas eu não vou suprimir a pior parte do filme: Esteja pronto para escutar uma música com rima pobre a cada dois minutos de filme. Um amontoado de frases sem métrica, todas terminando com verbos no infinitivo. Não sei se você sabe, mas qualquer criança da quarta série consegue fazer uma música infinita, assim...
Se você tem crianças pequenas para entreter, acho que você terá uma hora e pouco de paz. Se você for um adulto e quiser ir ver o filme... Boa sorte!
Em outros tempos, eu teria saído no meio do filme. Só resisti a esta tentação porque viria escrever sobre o filme aqui, para vocês. Mas, definitivamente, este é um filme para ser evitado quando estiver sendo apresentado na televisão.
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