quinta-feira, 28 de março de 2013

Gargalos


Na administração existe um conceito chamado "gargalo".

Por definição, "gargalo" é um trecho de um caminho que fica estreito, rapidamente. Pense no gargalo de uma garrafa, por exemplo. O diâmetro do cilindro da garrafa é grande, até que afunila rapidamente, formando o gargalo.
O resultado de um gargalo é sempre o mesmo: há mais coisas querendo passar, do que espaço para que todos passem. Assim, o fluxo torna-se lento ou até mesmo pára.

Aplicando o "gargalo" à administração, o "caminho" seria a "sequência de ações que devem ser tomadas para a produção". Sabe a linha de produção fordista que, hoje, todas as empresas adotam? Então, esse é o "caminho".
Um "gargalo" administrativo é aquele ponto da linha de produção que demora, fazendo com que os pontos anteriores à ele tenham excesso de produção para entregar e os pontos posteriores fiquem parados, esperando pelo resultado da produção do gargalo.

Resumindo: o gargalo "entulha" o ponto anterior e "deixa esperando" o ponto posterior.

Logo, um gargalo é um problema gigantesco. Não só o trabalho que ele faz é prejudicado (pelo excesso de demanda e necessidade de entrega rápida), assim como ele prejudica os outros setores.
Isso causa prejuízos para a empresa. E é tarefa do administrador acabar com esse mal.

Eu, Arthur Tavares, sou um Profissional de TI. E se engana quem acha que Profissionais de TI são só especialistas em tecnologia. Quer dizer, somos especialistas em tecnologia, sim. Mas a tecnologia é uma ferramenta, não exatamente o nosso produto. Um Profissional de TI é, na verdade, um "identificador e exterminador de gargalos". Nossa principal função em uma empresa é conseguirmos mapear as suas operações, descobrirmos os pontos de gargalo e criarmos soluções para eliminarmos os gargalos. 
Isso é só reflexo da economia moderna. Quem tem menos custos na produção consegue vender com preços mais competitivos. 
Por acaso, os recursos mais modernos da computação ajudam aos profissionais de Sistemas de Informação a manipularem melhor os dados das empresas. Então, criamos sistemas para ajudar a destruir os "gargalos" que identificamos nas empresas.

Particularmente, eu acredito ser muito bom em identificar "gargalos".

Existem os gargalos de habilidade: O funcionário não é bom o suficiente e a sua falta de perícia faz com que todos se atrasem.
Existem os gargalos de quantidade: Só existe um setor, uma máquina ou um funcionário, capazes de efetuar o trabalho, quando deveriam haver muitos mais.
Existem os gargalos de acúmulo: Um setor, máquina ou funcionário tendo mais responsabilidades do que deveriam (ou suportariam).
Existem os gargalos de engano: Sem a informação correta, a empresa "corre para a direita", quando deveria "correr para a esquerda".

E existe o gargalo de inutilidade: Todos acham que determinada função é importante, mas ela não agrega nada à produção, empresa ou produto.

Esse último é conclusão minha. Novamente, outros já podem ter escrito sobre. Outros já podem até ter refutado essa ideia. Ou ela pode ser consenso no mundo inteiro, e só eu não sei dela. Mas, novamente, eu pensei nela sozinho, a partir de outras literaturas, fatos relatados, observação e conversas.

O gargalo de inutilidade começa quando algo passa a ser feito por imposição. Porque alguém conseguiu convencer a pessoa com poder de tomada de decisão, de que o gargalo é útil. Ou porque alguma lei, norma, regulamentação, etc... foi imposta.
O gargalo de inutilidade é algo que todos fazem, mas nem todos sabem exatamente porque ou como as tarefas executadas no setor do gargalo funcionam.

Exemplos?

Contabilidade em geral. O próprio setor de TI, quando o sistema é muito velho e não funciona bem. Quando contratam "xamãns", "padres", "pastores", "pais de santo", "motivadores", etc... para "auxiliar" a empresa. E, é claro, o motivo desse texto... Os psicólogos do recrutamento e do RH.

O Recrutamento e os Recursos Humanos de qualquer empresa são pontos cruciais. Escolher corretamente o novo funcionário, treiná-lo e garantir que ele tenha as suas necessidades atendidas, são medidas que toda empresa que busca excelência se empenha ao máximo em cumprir. Afinal de contas, não importa o ramo e a tecnologia, é a qualidade dos funcionários que determina a qualidade da empresa.

Então, não sei bem ao certo porque ou quando, alguém conseguiu convencer algum empresário de que um psicólogo conseguiria efetuar esse papel melhor do que um administrador.
Nesse momento, a palhaçada começou.

Exemplo?

Participei de um recrutamento, certa vez, onde uma dupla de psicólogas aplicou um teste nos cinco candidatos:
"Você está indo para a cidade no seu carro, durante uma tempestade horrível. Seu carro só tem dois lugares. Em uma parada de ônibus, você vê um médico, uma pessoa passando mal e o amor da sua vida. Quem você leva para a cidade?"
Pergunta capciosa (eufemismo para "idiota", mesmo). Essa pergunta te faz pensar que você irá dirigir o carro de qualquer forma. Te joga em três opções:
1 - Levar o Médico: Afinal, ele pode salvar muitas vidas ao chegar no hospital. 
2 - Levar a pessoa que está passando mal: Afinal, a urgência pode definir a vida ou a morte dessa pessoa.
3 - Levar o amor da sua vida: Afinal, é o amor da sua vida e você não vai deixá-la ali, na tempestade, né?

Se você respondeu "Levar o Médico", você é uma pessoa boa, que coloca o coletivo acima do individual e até de você mesmo. Mas você falhou no teste.
Se você respondeu "Levar a pessoa que está passando mal", você é uma pessoa boa, que ajuda os outros em momentos difíceis, com alguma necessidade de se sentir um herói. Mas você falhou no teste, também.
Se você respondeu "Levar o amor da sua vida", você é uma pessoa egoísta, centrada em si mesmo. Provavelmente isso te fará ser um bom funcionário, por querer ascensão rápida. Mas você falhou no teste, claro.

O que eu respondi? Que levaria o amor da minha vida. Em minha opinião, isso é óbvio. Isso é o menos hipócrita: QUALQUER UM faria isso.

A resposta "certa"?

Entregar o carro para o Médico, para que ele leve a pessoa que está passando mal para o hospital. E você fica na parada, como amor da sua vida, esperando um ônibus ou o médico voltar para buscar vocês.

Lindo, né? Hipoteticamente lindo! Pensamos em fazer isso. Até sabemos que essa é a melhor opção. Administrativamente mais adequada. Mas ninguém faz isso.

Claro que, por eu não ter aprovado no teste, aprendi que a minha resposta não era a certa.

Em uma outra entrevista, a mesma pergunta foi feita. E EU MENTI. Escrevi - rapidamente e sem pensar - exatamente o que eu sabia que eles queriam que eu dissesse.
Fui aprovado no teste e até me contrataram para trabalhar na empresa. Mas continuava agindo conforme eu pensava: eu sou uma pessoa que levo o amor da minha vida e ainda me sinto tranquilo, pois deixei a pessoa passando mal junto com um médico. Que outro que possa dê carona para os dois. Ninguém iria morrer dentro do meu carro (sujando tudo) e não iria bancar o chofer do médico que eu nem sei se está indo mesmo para algum hospital. Isso, é claro, imaginando que eu deixei a mulher que eu amo lá, na parada, no vento, no frio e na chuva, esperando! Você que namora ou é casado sabe como as mulheres sabem ser chatas com essa história de deixar esperando, né?

Viu como é inútil? É como o psicotécnico para tirar a carteira: TODOS NÓS sabemos que temos que desenhar o chão. Só a árvore, só a casa ou só a pessoa não bastam. Não importa o quão perfeitas estejam a árvore, a casa ou a pessoa. Você roda se não desenhar o chão. Tem gente que até já capricha mais no chão - colocando graminhas, bichinhos, paisagem, pedrinhas, etc... - e desenha um "palitoman" para representar a pessoa...

Mas não fica só nisso...

Talvez porque os psicólogos fiquem muito tempo criando essas perguntinhas cretinas capciosas, parece que eles não notam as variações no mercado...

Explico.

Em menos de vinte anos, o Brasil foi afetado pela onda de crescimento mundial. Collor fez - de modo errado - a retirada do dinheiro inflacionado (que não existia) da nossa economia (agradeça aos militares e ao PMDB por isso...). Itamar e Fernando Henrique criaram o Real, uma moeda de verdade para o nosso país. Lula e a Dilma conseguiram seguir as regras do mercado internacional direitinho (lê-se "sem cagar tudo"). E, com esse panorama, nosso país cresceu.
Se antes o Brasil tinha filas de desempregados lutando por uma vaga que pagava o salário mínimo, hoje sobram vagas de trabalho especializado. Em qualquer setor, aliás. Você faz uma faculdade, trabalha duro e tem uma vida confortável. Simples assim. Acessível por causa das Federais, Prouni, Fies, etc...

Em muitas áreas, inclusive, não se acham profissionais parados, no mercado. Não sei se você sabe, mas a Petrobrás contrata TODOS os geólogos que se INSCREVEM na faculdade. Sim, o mercado precisa tanto de Geólogos, que só o fato de você se INSCREVER na faculdade já é o suficiente para que empresas TE CONTRATEM. E contratem com salário bom.

Novamente, trabalho no setor de TI. E o meu setor é o que mais abre cursos no Brasil. E é o que mais precisa de profissionais.

O que acontece frequentemente é o assédio das empresas à funcionários de outras. E é aí que os "especialistas em RH" aparecem e me fazem rir. Quase compulsivamente.
Ano passado houve o caso de uma psicóloga que me mandou um e-mail:
"Arthur, um colega teu me passou o teu currículo e eu queria te apresentar uma oportunidade..."

Beleza, né? Como eu estou empregado, fui direto aos "finalmentes" em meu e-mail de resposta:
"...Como estou trabalhando, gostaria de saber qual é a proposta salarial que a empresa têm para fazer para mim..."

A especialista, entretanto, queria que eu fizesse um teste, antes de falarmos em valores.
Vamos exercitar a lógica, por um instante?
Você não sabe quanto é o meu salário. Dizes que tem uma proposta para mim. Eu te pergunto o valor da proposta para que eu perca o meu tempo, saia em meu horário de trabalho, vá até a sua empresa, deixe-me ser submetido a um teste... Sem que nenhum de nós dois saiba se os valores da oportunidade serão bons o suficiente para que eu troque de empresa?

Tipo assim, meu... Alôu????

Como a "especialista em RH" não me disse o valor da proposta, agradeci o contato e encerrei a conversa com ela. Sinceramente, com que tipo de "piá" ela acha que estava conversando? Trinta anos aqui, amigo. Mais de cinco anos de profissão. Só mudei de empresa para ir para uma com proposta melhor.

Desde então, eu tenho notado o modus-operandi destes "psicólogos especialistas em rh". LinkedIn, Facebook, mala direta... As empresas estão desesperadas e não sabem onde contratar talentos. Contratam, então, essas empresas de "especialistas em rh". Gastam dinheiro a toa com esse tipo de gente, esperando que milagres aconteçam. Mas as agências de RH sabem menos ainda do mercado do que as próprias empresas. Jogam anúncios de emprego de forma até ridícula no mercado. Algumas pedem conhecimentos além da capacidade humana, para contratarem ESTAGIÁRIOS!

Vocês lembram dessa pérola que foi mostrada ano passado, né?


Amigo, se EU (que me considero bom profissional) soubesse tudo aquilo ali, trabalharia no vale do silício. Como patrão...

E a história é pior quando psicólogos entram no RH. 
Amigo, administração é uma ciência exata. Números. Estatísticas. Preto-No-Branco. 
Vamos colocar assim: nenhum administrador irá investir em algo que não possuir um estudo de retorno. Se um administrador investir em algo que não dê lucro, é por força de lei ou aposta pessoal. Vamos colocar assim: VOCÊ não gasta R$1,00 com algo que não acha que vale pelo menos R$1,01. Imagine o dono de uma empresa. Mesmo porque, cada centavo que o empresário re-investe na empresa, é um centavo a menos de dinheiro que ele deixou de colocar no próprio bolso.

Então, por causa de certificações, ISO's e outras pressões, o empresário coloca um setor de RH. Um setor para cuidar do bem-estar dos funcionários. Empregados para cuidar de empregados. Meu amigo, eu luto para cuidar "do meu". Imagina trabalhar para cuidar o "dos outros".
Para um profissional de RH conquistar vantagens para os funcionários, ou conta com o bom-humor do patrão, ou com os números claros. Números que provem que um auxílio-creche aumenta a produtividade, ao proporcionar calma e menos faltas. Números que mostrem porque funcionário "A" ou "B" precisam de aumento. 

E, vamos combinar, a faculdade que ensina a pensar a empresa em números é a administração. Não á a psicologia.

Em minha experiência pessoal, em conversas com colegas e até em textos que já li, raros são os psicólogos que realmente fazem um bom trabalho no RH das empresas. Os que fazem algo de efetivo é porque se esforçam e aprendem a ter a visão empresarial da administração. Usam matemática.
O mais comum é o RH ficar gastando parcos recursos com ações inúteis para promover o "ambiente da empresa", cartõezinhos de páscoa, dia do trabalho, natal, dia da mulher, "conversas motivacionais" e outras coisas do tipo.

Sinceramente, não vejo ponto de gargalo maior nas empresas do que a contratação de psicólogos. Trabalho geralmente lúdico demais, quando não é totalmente inútil.
Em vez disso, as empresas poderiam simplesmente se preocupar com o que realmente interessa para os funcionários: salário maior. Nada motiva mais do que mais dinheiro no final do mês.

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