Então. Fui ao cinema ver o tal filme
"O Lobo de Wall Street".
Na matemática existe uma regra que diz
que, se você partir de uma premissa errada, seu resultado sempre
será errado. Mesmo que você não tenha cometido nenhum erro
matemático durante a resolução do problema.
Eu tomei conhecimento desta regra aos
onze anos de idade, em uma das raras vezes que a minha família me
deixava ficar acordado para ver o Jô Soares. Nesta vez, um
matemático provou esse conceito colocando a premissa "2+2=5"
no topo do quadro, desenvolveu toda a fórmula e, no final do quadro,
havia provado – sem nenhum erro – que dois mais dois eram iguais
a cinco.
Desde então eu coloquei na minha
cabeça: por mais bonito que pareça, o que não começa bem não
pode terminar bem.
E isso é a minha opinião sobre "O
Lobo de Wall Street".
Um punhado de cenas feitas para serem
impactantes, mas com princípios completamente deturpados. Sugiro
fortemente a quem se desmancha em elogios aos conceitos passados por
este filme, que procure ajuda psiquiátrica.
Apenas três personagens conseguiram
despertar a minha simpatia desde que foram apresentados: a primeira
esposa de Jordan Belfort (Leonardo di Cáprio), o agente do FBI
Patrick Denham (Kyle Chandler) e o pai de Jordan Belfort.
Não é a toa esses três personagens
sejam os mais certinhos do filme. Podem me chamar de "Coxinha"
à vontade.
O filme inteiro é baseado em uma
história de roubo, corrupção, lavagem de dinheiro, mentiras,
drogas e sexo. O ponto alto desse filme é ver o personagem principal se dando mal. Ah!!! Como são divertidas as cenas em que o imbecil do
Jordan Belfort se dá mal!
Particularmente, antes de ver o filme
eu até achei simpática o mote do filme. "Eu já fui rico e eu
já fui pobre. Mas eu sempre escolho ser rico!" – Diz o Jordan
Belfort como se um pastor evangélico fosse, para os seus fiéis
empregados a certa altura do filme. Acredito que ninguém precise
provar os dois lados da vida para escolher ser rico. O problema são
os meios que você usa para chegar lá. A vida é um jogo e tem suas
regras. Burlar essas regras é errado e, se dependesse de mim, ele
mofaria na cadeia para o resto da sua vida...
A partir daqui eu falarei abertamente
sobre o roteiro do filme, dando minhas opiniões. Se você ainda não
foi ver, pare de ler, clique na propaganda do meu blog e vá assistir
ao filme. Ele é fraquinho demais e, se você souber de muita coisa
antes de assisti-lo, você ficará mais decepcionado com essa
película do que eu.
O filme já te joga sexo e drogas na
cara, na primeira cena. Acostume-se, isso acontecerá até a última
cena. Aposto que o brasileiro típico gostou ou gostará desse filme
muito por causa disso...
Jordan Belfort era um piá recém-saído
da faculdade, com o sonho romântico de se tornar milionário.
Sabiamente, decidiu trabalhar como corretor em Wall Street. Quando
conseguiu seu primeiro emprego, Jordan ainda jogava de acordo com as
regras. Mas logo em seu primeiro dia, Jordan é "catequizado"
pelo dono da corretora. Mark Hanna (Matthew McConaughey), explica que
o importante em um corretor não é fazer seus clientes ricos através
do mercado de ações. "Deixe isso para o Charles Buffet!",
exclama Hanna. Hanna explicou que as pessoas que "jogam na
bolsa" agem como viciados. E explorar esse vício no lucro não
realizado dos clientes era o que gerava as COMISSÕES para os
corretores.
Jordan faz um bom trabalho até que
consegue a sua licença para ser um corretor. Seu primeiro dia de
trabalho foi nada menos que a "Segunda-feira negra", da
década de oitenta. Demitido, passou a procurar emprego... Até que
achou um em uma corretora de ações fora do pregão.
Nesse ponto, eu sugiro FORTEMENTE, que
você já tenha lido ou leia o livro "Crash!: Uma Breve Históriada Economia – Da Grécia Antiga ao Século XXI", do AlexandreVersignassi. Com certeza vai te ajudar a entender todo o filme...
Uma "ação" nada mais é do
que uma "vaquinha" que uma empresa faz para conseguir
capital, prometendo pagar novamente ao acionista o valor que ele
investiu na empresa, mais um percentual dos lucros. Imagine que baita
negócio você comprar uma ação por R$10,00, com a promessa de
receber R$20,00 no final do ano! Legal isso, né? Mas para que ficar
só nos 10 pilas investidos? Se você colocar 20 pilas, receberá
40... Se colocar 100, receberá 200... Se colocar R$1.000,00,
receberá R$2.000,00! Ah! Pra que ser tão conservador! Vamos vender
tudo o que pudermos e colocar o máximo de dinheiro nesse negócio
mágico! Vende logo o carro, dá a casa em um empréstimo, pegue
alguns empréstimos consignados com o teu salário... Vamos colocar
logo R$100.000,00 para esperar só um ano e ganhar R$200.000,00 nesse
ótimo negócio!
Mas se nós comprarmos tantas ações
assim, nós chamamos a atenção do mercado. Se você visse alguém
comprando muitas ações de uma empresa desconhecida e barata, você
não compraria também? Sim, né? Aí, com a procura, o preço da
ação sobe. Antes ela custava R$10,00... Ela passa a ter mais
procura e o pessoal passa a vender por 11, 12, 13... Vendem até o
teto do lucro... Para quem comprou por 10 e vendeu por 15, é um
baita negócio. Ganhar 50% de lucro só na especulação "será
que essa ação é boa mesmo?" não é nada mal.
Mas... Ações que são baratas e pagam
tão bem assim geralmente são bombas. Raramente o lucro de 100% do
exemplo ali se realiza. Vocês lembram do Facebook na bolsa de
valores? É, né?
Fazer esse movimento inteiro na bolsa
de valores é enganar os outros. Brincar com a boa fé do sistema. É
crime. Por isso todo país que se preze tem uma Comissão de Valores
Mobiliários. E essa comissão investiga essas fraudes. Os Estados
Unidos ainda possuem o FBI e a CIA, com várias divisões
especialistas em rastrear esses roubos nas bolsas de ações.
Basicamente, o que Jordan aprendeu no
filme foi a manipular as pessoas para conseguir roubá-las.
Inicialmente no pregão on-line (em tempo real). E, depois, em
corretoras que operam fora do pregão. Essas corretoras que agem
"fora do pregão" vendem e compram ações que não têm
valor suficiente para serem lucrativas dentro da bolsa de valores.
Pequenos negócios que precisam de poucos milhares de dólares para
iniciarem seus negócios (os famosos IPO's). Vendê-las, obviamente,
é mais difícil. Logo, a comissão do corretor é muito mais alta.
Comissão de 50% fora do pregão, em relação ao 1% de comissão
dentro do pregão.
Com toda lábia do mundo, Jordan
convence cidadãos de classe média e baixa que essas pequenas
empresas de fundo de quintal são, na verdade, grandes empresas, com
futuro próspero. E faz com quem essas pessoas invistam suas suadas
economias em verdadeiras bombas-relógio.
Fodam-se os clientes. O que importa
para o corretor são os 50% de comissão.
Jordan faz muito dinheiro. Junta uma
turma de conhecidos para iniciar sua própria corretora de ações
fora do pregão.
Então, o pulo do gato desonesto dele,
ele descobre um meio de vender ações IPO para grandes investidores.
Em pouco tempo, Jordan está milionário com seu golpe.
E sua segunda genialidade foi criar um
personagem para si próprio. Alguém com um estilo de vida que os
seus funcionários acreditassem que poderiam alcançar. Um playboy
que só aproveita o melhor da vida. Melhor casa, melhor carro, melhor
esposa, melhores jantares, festas... enfim... tudo melhor.
Atenção para o que eu estou fazendo,
aqui. Estou contando "a história por detrás da história".
No filme, tudo isso é passado muito rápido. As cenas de drogas,
festas, piadas infames e sexo gratuito são muito mais numerosas e
impactantes... O foco do filme é te mostrar que trabalhar com ações
faz de você milionário. O QUE É MENTIRA.
O filme peca miseravelmente em explicar
COMO Jordan e seu time ficaram ricos. Eles ficaram ricos na manobra
ridícula de colocar grandes ações como carro-chefe de seu "pacote
de serviços" para os grandes investidores. No meio dessas
grandes ações convencionais, a agência de Jordan entupia seus
clientes com IPO's de fabriquetas de fundo de quintal. Grandes
investidores nem sentiam que estavam perdendo dinheiro com essas
ações podres. Os lucros – na casa de milhões – das boas ações
encobriam os prejuízos na casa de milhares dessas ações ridículas.
Com uma equipe de centenas de
corretores sendo motivados o tempo inteiro pela lábia e carisma (em
nível de pastores evangélicos) e pelo estilo de vida de Jordan, a
agência ganhava muito dinheiro sujo.
Mas os Estados Unidos são um país
livre. Cada um coloca o seu dinheiro aonde quiser. Para você ter uma
ideia, nos EUA pirâmides financeiras são negócios regulamentados.
Você coloca seu dinheiro aonde você quiser, filho. Só não venha
reclamar depois.
Embora a CVM e o FBI fechassem o cerco
em volta de Jordan, eles não conseguiam encontrar muitas provas do
golpe. Isso sem falar em agentes nas duas instituições devidamente
comprados por Jordan.
O fecho aperta mais quando Jordan tenta
manipular o IPO de uma fabriqueta de "um amigo de infância do
sócio dele". Em uma jogada completamente desonesta, Jordan
compra a maioria das ações através de vários laranjas. Essas
compras geram comissões para a corretora e elevam o valor das ações.
Quando as demais corretoras começam a querer comprar essas ações
podres (transformadas artificialmente em boas ações), os laranjas
de Jordan as vendem, garantindo lucros monstruosos apenas na
especulação e nas comissões.
Essa manobra chama a atenção do FBI,
que passa a investigar mais de perto ainda a corretora e o próprio
Jordan. Escutas telefônicas, amigos sendo observados... Tudo para
arranjarem provas para prender Jordan.
Jordan tira seu dinheiro dos EUA e leva
para um banco na Suíça, com uma enorme operação com laranjas.
O filme faz questão de mostrar que a
vida inteira de Jordan é só festas, sexo e drogas. Foca demais no
estilo de vida hedonista dele. Eu odiei cada cena. Menos uma.
Jordan "estuda" as "fases"
da loucura das drogas. Então ele apresenta a hilária cena da "fase
da paralisia cerebral". Amigo, foram cerca de quinze minutos de
filme em que eu quase me mijei rindo. SORTE que eu não bebo
refrigerante. Se tivesse tomado algo antes, teria que trocar de
calças no meio do filme, ali no shopping mesmo.
Essa sequência de cenas está na
altura do roubo do Coringa no início de "Batman, o Cavaleiro
das Trevas".
Jordan cheirando cocaína para "ativar
o cérebro" ao som da musiquinha que toca quando o popeye come
espinafre... Olha... Fiquei FELIZ por estar acompanhado por alguém
que deixou que eu risse feito um bobalhão no cinema.
No final dessa cena, um dos amigos de
Jordan estava falando com o banqueiro suíço por telefone. E o FBI pega a
ligação. E aí começa a parte divertida, para mim. "A casa
cai" para Jordan. Ele é ameaçado de prisão, tem que entregar
amigos, a esposa se divorcia dele, ele perde a guarda dos filhos, tem
que pagar milhões em multas...
Saí desse filme meio impactado por
quererem vender a ideia de que o estilo de vida irresponsável e
hedonista é gratificante. As mentes mais FRACAS entrarão em redes
sociais para dizer que o filme foi fantástico. Eu achei que, para
ser RAZOÁVEL, poderiam diminuir a nudez e as drogas, aumentarem mais
a parte em que Jordan fazia seus golpes e, principalmente, a parte em
que ele se ferra.
Nisso, "Prenda-me se for capaz"
foi MUITO mais feliz. Vendo a repercussão do Oscar, ontem à noite,
vi muitas pessoas exclamando que esse era o ano de Leonardo ganhar
seu primeiro Oscar. Desculpe, mas até a Scarlett (que sequer aparece
em Her) merecia mais um Oscar esse ano, do que Leonardo.
Fico profundamente chateado que esse
tipinho de filme faça tanto sucesso. "O Hobbit – a Desolaçãode Smaug" merecia muito mais estar entre os indicados.
Você não entendeu nada do filme, péssima resenha com uma leitura completamente errada e interpretação vaga
ResponderExcluirKkkkkkkk
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