quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Aprendendo a Conversar

Aiai...
Eu juro por tudo o que é mais sagrado que eu não queria falar disso. Acho pretencioso demais. Tipo, "poxa, o Arthur, agora, vai ensinar os outros a conversar! Quem ele acha que é?"
Bem...
Até ontem, eu achava que não era ninguém para ensinar os outros a conversar. Mas, depois dos abusos que sofri de várias pessoas diferentes, vou resumir em algumas linhas quais são os pontos a serem observados durante uma conversação.
Minha metodologia vai criar 4 grandes grupos: Início, Meio, Fim e re-início.
Cada um destes grupos terá um sub-grupo de características próprias para o bom fluxo da conversação.

1 - Início:

1.1 - Regras básicas de conversação:
As regras básicas precedem a conversação em sí. São regras de educação, moral, ética, cultura e técnicas que devem estar implícitas aos seres que pretendem travar um debate.

Infelizmente, esse é o ponto mais negligenciado em nosso país.
Na questão de educação, comento que nem toda hora é hora de conversa. As pessoas têm momentos e momentos para conversar. Algumas pessoas gostam da necessária solidão. Sempre há o horário da novelinha. Se alguém está compenetrado, tenha educação e só fale se for realmente necessário.
Ainda pensando em educação, evite palavrões. Eles são extremamente desnecessários durante uma conversa. Mas, mesmo assim, prefiro um palavrão anunciado do que grosserias veladas. É de muito mal tom criticar alguém mascarando como elogio. "Impressiona a sua coragem em usar cores homossexuais na rua!" ou "Gosto como você é sincero em admitir sua ignorância!". Por favor, vá ser grosseiro na puta que pariu!

Falando em início de conversa, deve-se avaliar duas coisas:
a) Uma pessoa trás o assunto em pauta. Essa pessoa pode ser totalmente ignorante do tema ou ter domínio completo do mesmo. Em ambos casos, espera-se que esta pessoa domine o fluxo da conversa. Afinal de contas, essa pessoa foi quem trouxe o assunto em pauta e é ela quem tem necessidade do debate.
b) Uma segunda pessoa interfere na introdução do assunto. Essa segunda pessoa pode tomar esta atitude se (e apenas se) a dúvida exposta for próxima mas não exatamente a mesma de quem trouxe o assunto ou se sabe de algo que complemente o assunto trazido pela outra pessoa que o domina.

Então, um primeiro aluno trás uma dúvida para a sala que, antes de ser respondida pelo professor, é estendida por um segundo aluno.
Ou, um professor aborda um tema para um assunto e, antes de começar a explicá-lo, outro porfessor enlaça e extende o tema, complementando-o.

Nos dois casos, a pessoa que iniciou a conversa foi interrompida, mas a conversa prosseguiu, mais rica que anteriormente.
A Eudação nos conta que "quando um burro fala, o outro baixa as orelhas". Eu digo que, "quando um burro começa a falar, a conversa cria vida própria e deve ir até onde ela deve ir."

Na questão de moral, nenhum texto deve subverter o que é tido como moral para a sociedade. Digo isso porque, via de regra, as leis já são feitas sobre a moral e falar contra a moral, geralmente, é falar contra a lei. Não quero, aqui, incitar contravenções nem inversões de valores. Mas lembro uma frase:
"Busca a Simplicidade. Examina tudo constantemente, para ver se descobres como simplificá-lo e aperfeiçoá-lo. Não respeites o Passado. O fato de que uma coisa se fez sempre de certa maneira não prova que não haja uma maneira melhor de fazer." - (Henry Ford)
Digo que a moral e bons costumes de hoje são práticas tarimbadas por milênios de evolução das diversas sociedades humanas. Mas, não é porque sempre foi feito de um modo que este
modo não possa ser melhorado.
Aliás, vou falar novamente, para não haver dúvida: "...não possa ser ME-LHO-RA-DO"

Endendeu tupiniquim? Só há um caso em que a subversão da moral é aceita: quando é para melhorá-la. Então, baixa a bola e lembra que, para que a moral seja melhor, tem que melhorar
a vida de todos! E, geralmente, o que tu imagina só melhora a tua vida. Ou sequer isso. (Pensadores alemães que geralmente adoram subverter a moral para esculhambar tudo... e,
surpreendentemente, tem um bando de néscios deprimidos que aplaudem de pé, citam e estimulam a destruição dos bons valores)

Antes de começar uma conversa, lembre que o mal só entra onde o bem está ausente. Assim como só há escurdão onde não há luz, só há frio onde não há calor, é nosso dever colocar o bem em qualquer lugar onde achamos que ele não exista. E o bom do "bem" é que ele não se importa de onde veio... O bem pode ser emulado, fingido, maquiado e até mentido (desde que seja realizado!); para a eternidade ficará o bem que foi feito, não o motivo pelo qual ele surgiu.

Eticamente, digo que a conversa deve ser imparcial. Incito aqui a idéia de que cada idéia é um ser a parte. Como diz a célebre frase "as idéias não morrem; o que morre são as pessoas que defendem as idéias." Assim, podemos tratar idéias como entidades separadas, independentes das mentes, personalidades e culturas que as defendem.
Assim, trazendo esse conceito para a ética, não há sentido em ataques gratuítos às pessoas que defendem as idéias. Em um debate, são as idéias quem brigam. Os argumentos são as
armas. Como somos (ou pelo menos deveríamos ser) seres civilizados, deveria ser ponto comum gritarmos nossos argumentos contra outra pessoa em um momento e, no seguinte, ir
abraçado para um bar com essa mesma pessoa, confraternizar.
Porém, o que vemos é totalmente o contrário no mundo inteiro: Pessoas ficam contra outras pessoas por causa de idéias, ideais e dogmas. Em vez de lidarmos com certezas, lidamos
com convicções. Apunhalamos - sempre que possível - nossos adversários (seja pela frente, pelas costas, com adagas, bombas, napalm, etc...) o tempo inteiro. Falamos mal da pessoa em vez de falar mal da idéia. E, mesmo quando somos éticos e falamos da idéia (com embasamento, educação, etc...) a outra pessoa pode não ter ética nem própria, e tomar como ofensa.
Ridículo.

Vamos deixar claro: apesar de estarmos no antropoceno (era geológica marcada pelo domínio do homem), convivemos, diáriamente, com pessoas de outras eras geológicas. E não é preciso ir longe... Não precisamos ir a uma reserva indígena para termos contato com pessoas do paleolítico (era geológica marcada pelo domínio do trabalho com pedras); ao mudarmos de país, estado, cidade, às vezes de bairro... já encontramos pessoas com culturas e entendimentos próprios, diferentes dos seus. E temos que conversar. Precisamos nos comunicar. E como vamos fazer isso?
Não falo nem de linguagem, maneirismos e modismos ou de sotaques e gírias... Estou falando de modos distintos de tratar palavras em comum, idéias em comum. Muitas pessoas não são abertas para novas culturas. Muitas culturas impõem, por sí só, barreiras na interação com as demais.
São nuances que temos que, simplismente, saber lidar e superar.
Falar com pessoas mais velhas, com cultura de outros tempos, ou com pessoas mais novas, de culturas que ainda não dominamos, são verdadeiros desafios.
Para estes desafios todos, sugiro que utilizem uma ferramenta de peixes: Antes de abrir a boca, imaginem-se como uma pessoa desta outra cultura. Desapegue-se do seu personagem
por um instante e assuma um novo personagem da cultura que você está acabando de ter contato. Abra-se para a relação. A arte de conviver é a arte de ceder. E, durante o momento
que você se cede à nova cultura, paradoxalmente, você ganha essa nova cultura para o seu ser. "É dando que se recebe", não é? Doe-se, entregue-se e receba um novo mundo dentro
de você. Com este novo mundo, você só terá mais e mais ferramentas para poder evoluir como pessoa em aspectos que podem até te surpreender com o tempo.

Aspecto técnico. PELO AMOR DE DEUS! Amigo, converse temas que as pessoas tem propriedade ou querem ter. Não converse assuntos chatos com quem não tem interesse ou contato com eles.
Situação: Um Técnico de Informática e um Capataz de Fazenda conversando.
O Técnico de Informática indicando o que fazer para a fazenda se modernizar;
O Capataz da Fazenda indicando a melhor forma de laçar uma vaca.
Bem, dessa conversa não vai sair boa coisa... Provavelmente o nerd da informática vai - até - acabar levando uma surra do Capataz.
Quero dizer que a conversa deve ter os níveis técnicos para que a comunicação se estabeleça. E, como estamos começando a conversa ainda, devemos imaginar se o que vamos falar é de interesse e compreensão do interlocutor.


1.2 - Demonstração do Assunto:

Estruturação
Bem, então já nos colocamos no lugar da outra pessoa, lembrando de todos os aspectos possíves. Agora que já sabemos como falar, vamos começar uma verborragia e desandar a debater!

Nada!

De nada adianta se colocar no lugar da outra pessoa em todos os aspectos mas não se fazer entender.
O início da conversa deve deixar o assunto extremamento claro. O interlocutor não deve ter dúvidas quanto a sua inteção de perturbar o silêncio.
A sua dúvida deve ser clara.
A sua afirmação deve ser direta.

Como estruturar uma idéia?

Se for perguntar, faça uma breve explicação da sua dúvida, que acabe com uma pergunta simples.
Durante a noite sinto frio. Porquê?

Se for afirmar, faça com certeza:
Durante a noite, nosso hemisfério não está voltado para o sol, fonte primária de calor da Terra.

Pense antes de falar. Toda frase deve haver sujeito e predicado. Complemente na mesma frase só se for extremamente necessário.

Explanação
Uma vez pensada a frase, agora é hora de falá-la.

Vou lhe contar um segredo: (de graça, ein!)
Salvando questões de educação, AS PESSOAS QUEREM ESCUTAR VOCÊ!

Isso mesmo. Tem gente que se mata para pagar por um ingresso para escutar outras pessoas! Em geral, somos curiosos. E queremos saber o que as outras pessoas pensam. Admiramos quem consegue pensar de uma forma original e eficiente. Queremos nos surpreender com uma arrumação nova das mesmas palavras.
Por isso, tenha calma ao falar. Delicíe-se com cada letra, sílaba.
Há um conceito que gosto de repetir: Pronuncie o espaço entre as letras!
Portanto, se você já chegou até aqui, já sabe como e o que falar. Já sabe para quem vai falar. Já está seguro que tudo está correto, o interlocutor quer te ouvir... Então, deixe o holofote atingir seu rosto, espere as palmas cessarem e comece o seu show!


1.3 - O outro no Início da conversa:
O que se espera
Bem, até agora, você era quem ia começar a conversa. Agora, por um momento, vamos nos desviar para a outra personagem, a pessoa que vai escutar a conversa.
Amigo, se alguém está falando para ti, essa pessoa espera a mesmíssima coisa que você espera quando você fala. É tão difícil oferecer o que você espera dos outros para os outros?

Creio que esta pergunta resume tudo o que se pode esperar do ouvinte, mas vou expressar o que eu espero dos meus interlocutores:
a) Atenção. Prefiro que tu diga na minha lata que não se interessa no que eu estou falando desde o início do que me deixar falando com as paredes.
b) Contrapontos. Não gosto de discursar. Gosto de conversar. Mesmo respondendo uma pergunta, gosto de contrapontos. Gosto que a pessoa pense e responda o que eu acabei de falar.
c) Amistosidade. Adoro conversar. Odeio brigar. Quer brigar, vai procurar outro.

O que pode fazer
Bem, como já dito, o interlocutor pode interferir no início da conversa se for para melhorá-la. Porém, isso exige que ele escute o locutor primeiro.
O interlocutor tem todo o direito de exigir o tema da conversa sempre que este não parecer claro. Perguntas e mais perguntas a respeito do que será tratado são fundamentais para uma boa conversa.

Erros comuns
Desviar o assunto;
Mudar o assunto;
Não deixar o locutor falar;
Falar por tópicos;
Falar de sí próprio, não deixando o locutor terminar a introdução.

2 - Meio:

2.1 - Regras de debate:

Bem, agora o assunto já está claro e as partes estão dispostas a conversar.
O meio da discussão só ocorre quando as duas partes possuem opiniões diferentes.
Opiniões iguais, geralmente, pulam esta parte indo diretamente para a conclusão.

Educação
Há um códgio de conduta a ser cumprido durante o meio da discussão.
A pessoa que fala deve estruturar os seus argumentos e utilizá-los de acordo com o que a outra pessoa falar, encadeando elos para compor a estrutura da conversa.
Cada elo tem o seu devido peso, por isso, às vezes temos que usar um conjunto de elos para contrapor o argumento anterior.
Mas isso é importante de deixar claro: Uma conversa não se chama diálogo por acaso: são duas pessoas falando.
Ou seja, assim como no ping-pong, tu coloca o teu argumento e espera pelo outro argumento.
Em conversas que não sejam debates, a analogia é subir uma escada: cada parte é uma perna, cada argumento é um degrau vencido. Se só um fala, é como ficar subindo uma escada em um pé só. Chega uma hora que cança.


Argumento
Bem, esse é um dos dois tijolos fundamentais de uma conversa. Um argumento é algo a favor da idéia inicial.
O tema é Carnaval? O Argumeto é tudo o que for falado a favor.
O tema são histórias da campanha? Todas as histórias boas são argumentos.

Cada tema tem o seu valor, peso para a história.
Argumentar que Judeus ajudaram na segunda guerra, não trabalhando de forma tão eficiente na confecção de materiais para os nazistas em campos de concentração, em nada rebate os
contra-argumentos do holocausto.
Portanto, cuidado com argumentos fracos para sustentar opiniões grandes. Mesmo uma sucessão de pequenos argumentos não sustentam. Não podemos fazer arranha-céus funcionais com pecinhas de lego.

O argumento é uma pequena história. Apesar de podermos resumí-los a pequenas frases, geralmente estamos somente "topificando" a conversa:

L - Carnaval é bom!
I - Não é!
L - Aumenta a economia!
I - Aumentam as doenças venéreas!
L - Manifestação cultural!
I - Aumento da Violência!
L - Dias de descanço!
I - Descanço dos ricos, pobres trabalham!
L - Confraternização!
I - Mortes no Trânsito!
.
.
.

O exemplo acima mostra como um debate pode ser acirrado... mas totalmente superficial e improdutivo.
Falar por tópicos é ineficiente. Grandes e fortes argumentos são reduzidos, desqualificados facilmente.
Dé uma pequena história para cada argumento e enriqueça-o. Defenda os tijolos que compõem a sua opinão.


Contra-argumento
Tão importante e fundamendamentalmente igual ao argumento, temos o contra argumento. É igual em essência, mas é o oposto. O contra-argumento nega a afirmação inicial. Deve ser estruturado para negar as afirmações feitas pelo argumento.
Segue as mesmas regras mas, no jogo de xadrez da conversa, contra-argumentar é começar com as pretas; o contra-argumentador começa em desvantagem de uma jogada. Geralmente a introdução é uma afirmação de um assunto sob a ótica do argumento fundamental que sustenta ela. E, mesmo que o argumento fundamental não seja tão forte, há um outro segredo na conversação que eu evidencio aqui:
Nossos cérebros assumem a primeira coisa dita, sempre, como verdade. Mesmo que não seja!
Assim, quem começa uma conversa tem a vantagem de que nosso cérebro assume que o que foi dito é verdade. O interlocutor que "se vire" para provar que o que foi dito é mentira e para provar a verdade. Essa desvantagem faz com que muitas mentiras perdurem por muito tempo em nossa sociedade.

O exemplo maior são as religiões:
Muito embora não haja nada que prove a existência de Deuses, como nos é doutrinado que existem, os contra-argumentadores que "se virem" para provar a inexistência.
Porém, como não há um argumento sólido para provar a não-existência (ou seja, ninguém "se virou" até agora para contra-argumentar), Deuses continuam difundidos onde quer que se vá.

Fatores sociais em uma discussão
Um mesmo argumento (doravante, quando falar "argumento", vou me referir a "argumento" e a "contra-argumento") não possui o mesmo valor em culturas diferentes.
Para Japoneses, é indubitável o valor do estudo. No Brasil, os estudos são valorizada por uns, negligenciados por outros. Na África há povos que nem sabem o que é uma sala de aula.

Volto ao início da conversa para comentar que temos que nos colocar na outra pessoa para sabermos não só como falar, mas para descobrir o que falar. E não se trata de enganação,
fingimento. Se trata de evolução, aprendizagem e apropriação de novos conceitos. Crescimento.


Fatores sexuais durante uma discussão
Não adianta ser hipócrita: homens e mulheres pensam e agem de formas diferentes. Temos pontos de vista diferentes e estes devem ser levados em conta durante uma conversa.

Argumentos machistas não irão surtir efeito com mulheres, assim como argumentos feministas não sensibilizarão homens.
Além disso, há uma diferença básica entre a forma de conversação de mulheres e homens.
Homens são, em essência, "monotarefas". A linha de conversação deve ser uma só. Se há desvios do tema principal, o homem encara a fuga do tema como um parêntese a ser concluído e, depois, retornado ao debate inicial. Por isso, as conversas masculinas são "simples". O encadeamento acaba fazendo sentido total. Não é necessária grande memória para se conduzir a conversa.
Já as mulheres são mais versáteis. Elas conseguem entrar e sair de temas com facilidade surpreendente. Elas possuem capacidade de memória para lembrar com exatidão de tudo o que foi dito em cada retomada de tema.

Em uma conversa entre homens e mulheres, os homens podem ficar desorientados com a "tagarelice" das mulheres. E elas podem ficar chateadas com a "simplicidade" com que o homem aborda tudo.

Fatores econômicos durante uma discussão
É complicado falar de caviar com uma pessoa que sequer tem o que comer...
E, nos nossos dias de tecnologia acelerada, consumismo desenfreado e culto aos prazeres, temos que selecionar o argumento que melhor toca a outra pessoa.


2.2 - Pausa necessária

Como identificamos o momento de parar? Nosso argumento é um mini-texto, com início, meio e fim. Quando concluíres o que tens para dizer, páre!
Como marcar o final da nossa fala? Uma pausa prolongada. Encadeie as frases com pequenas pausas. Mas, quando fores dar a vez ao outro, faça uma pausa prolongada.
Se quiseres continuar falando, evite a pausa prolongada. Em uma conversa, o que você quer dizer tem que estar pronto de antemão. Não espere a sua vez chegar para falar.
Nada irrita mais do que receber a pausa e, na hora de começar a falar, ser interrompido pelo "discurso lembrado" do outro.
E, por favor, dê pausas para o outro. A falta de pausas transforma em discurso o que era para ser uma conversa.
Conte uma história e deixe o outro contar a dele. Não corte o barato.
Por melhor que seja a sua história ou opinião, deixe o outro falar um pouco.
Depois que o outro falou, fale você, na pausa dele.


2.3 - Estruturas de conversação

Conversação normal

Simples...
Após a introdução do assunto, a pessoa que introduziu fala o primeiro argumento.
Caso o interlocutor tenha algum contra-argumento, apresenta-o.
Há uma sucessão de argumentos e contra-argumentos até que uma das partes apresente fatos que tenham mais valor do que os da outra.

Conversação declamatória

Própria do pessoal chato.
Gente que se "agarra" na vez de falar e não abre o discurso para os outros. Perguntas retóricas e ausência de pausas são marcas registradas.
O discurso pode ser agradável ou chato. Não há meio termo.
Se é algo que gostamos, podemos chegar a pagar para escutar. Palestras, Simpósios, etc...
Agora amigo, se é algo que não nos agrada... Não são todos que conseguem manter a educação.

Conversações controladas
Há, também, as conversas controladas. "Levantar a mão" talvez seja o primeiro contato que temos com algum controle na conversa. Quando muitos levantam a mão e falta tempo para todos falarem, aparecem "cronometristas" que estipulam tempo para a conversa acontecer.

(PARENTESE RÁPIDO: O sucesso do Pretinho Básico - programa da Atlântida - se dá pela tese dos idealizadores do programa, onde cada assunto só pode ser debatido por, no máximo, 42 segundos. Mais do que isso e qualquer assunto fica chato.)

Há uma forma que meu pai comentou comigo e já havia achado fantástica. Após ver em funcionamento, achei-a perfeita para grandes grupos, Conversa Coletiva Masson:
Todos sentados em círculo. O "líder" inicia a conversa com a pauta e todos os assuntos a debater. Dá a sua opinião sobre o que acha necessário e passa a vez para o próximo. O próximo debatedor fala o que acha que deve falar a respeito de todos os temas abordados, até que passa a vez para o próximo. E assim todos o fazem até chegar ao "líder" novamente. O líder inicia uma nova "volta" no círculo. O número de "voltas" no círculo pode variar, de acordo com o tempo à disposição e a polêmica que os assuntos gerarem.
É boa prática levar um caderninho e um lápis, para anotar o que foi dito, as opiniões que forem geradas, as pessoas que estão ao seu lado em cada assunto, etc...
Mas, a principal regra é que cada um só pode falar em sua vez de falar.
Muito legal.


3 - Fim

Bem, passamos horas debatendo e chegamos a um momento em que um dos lados de argumentação prevaleceu sobre o outro.
Pode haver pessoas que não concordaram e continuam com o lado que perdeu.
Pode haver pessoas que mudaram de opinião.
Pode haver pessoas que continuaram com a sua opinião, que é a que prevaleceu.

Mas o mais interessante ocorre quando todos aprendem algo e a mistura de argumentos cria uma conclusão diferente da de todos que estavam envolvidos.
A conclusão é o arremate. É a frase bonita a ser imortalizada que exprime a resposta para o tema debatido.
A conclusão pode ser individual ou coletiva:

3.1 - Conclusão individual

Depois de muito debate, até mesmo depois de uma apresentação da conclusão formal, as pessoas podem acabar interiorizando tudo e gerando uma conclusão pessoal para tudo o que foi dito.

Porque é ruim
Quando a pessoa conclui, sozinha, o resultado de um debate em grupo, pode acabar desmedindo todos os valores severamente pesados durante a discussão. Pode subverter o que todos construiram e, pior, terá a baliza da discussão para justificar sua conclusão distorcida.

Porque é bom
Cada ponto de vista gerado individualmente pode ser debatido novamente e novamente, podendo gerar mais e mais conhecimento e mudanças.


3.2 - Conclusão coletiva

Quando os argumentos culminam em um ponto que não é passível de nova discussão, a conclusão tende a ser coletiva.

Porque é ruim
Porque, primeiramente, nenhuma conclusão é definitiva. Sempre há mais o que conversar.
Conclusões coletivas tendem a virar dogmas, pontos em que ninguém mais toca que acabam virando tabus. Afinal de contas, todos concordam que aquilo ali é certo...

Porque é bom
Sociedades só sobrevivem juntas se as pessoas acreditam nos mesmos ideais. Assim, temos que ter algo mais que a bandeira e um hino para unir as pessoas como sociedade.
"Igualdade, Liberdade e Fraternidade", "Ordem e Progresso", "Ame ao próximo como a sí próprio", etc...
E é explícito que a organização social trás benefícios aos indivíduos. É a partir dessa integração que as pessoas desenvolvem os debates que evoluem os conhecimentos, logevidade e qualidade de vida das pessoas.

3.3 - Autoritarismo
Quando uma pessoa assume para sí o direito de guardião da conclusão e, por qualquer artífice (carisma, armas, medo, etc...) faz com que as outras pessoas sigam ela.
Assim, essa pessoa pode discursar e doutrinar as demais com facilidade extrema.
"O poder absoluto corrompe absolutamente."


4 - Re-Início da Conversa
Todo debate é "linkado" com a grande conversa sobre o tema.
Bilhões de pessoas já falaram a sobre os assuntos que estamos falando. E, ao tocar no assunto novamente, estamos lutando para disseminar a vanguarda dos argumentos e das conclusões da idéia e, se possível, para desenvolvê-la mais.

Assim, esquivar-se de dar uma opinião ou de participar de qualquer discussão que seja, é uma omissão sua para com a humanidade de um modo geral.


------------------------------------------------------------------

Está ai, é isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário