sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Crise nas infinitas bolhas!

Assisti parte de um documentário sobre a crise global de 2008.

Eis a história:

Algumas empresas, como a AIG, eram especializadas em hipotecas.
Hipotecas nada mais são do que empréstimos feitos com garantias de bens materiais.

Por exemplo: você possui uma casa (que possui um valor, mas este valor está "parado", depreciando, enquanto você usa a casa.
Porém, não possui dinheiro. Logo, a sua liquidez é baixa, mas o patrimônio, alto.

Nessa situação, o ser humano, com inteligência, cria o risco calculado: contrai um empréstimo dando seu patrimônio como garantia . Ou seja, "compra" liquidez, pagando juros, futuramente, e, caso não consiga pagar a dívida, entrega seu patrimônio em pagamento.
Esse ser humano, com inteligência, utiliza essa liquidez obtida para se capitalizar: monta um negócio, faz um investimento, etc... Que garantam a possibilidade de pagar pelo produto adquirido.

Por anos a fio (mais de um século em alguns casos), algumas instituições dos EUA venderam esse tipo de liquidez.
Inicialmente, essas empresas lucravam unicamente com o produto: os juros dos empréstimos e, em último caso, na venda dos patrimônios entregues para quitar as dívidas.

Com o passar do tempo, essas empresas e seu mercado cresceram a tal ponto, que puderam abrir seu capital em Bolsas de Valores.
Como resultado, agora, as empresas especializadas em hipotecas possuiam dois produtos:

1 - Hipotecas para quem quisesse comprar liquidez;
2 - Títulos da Bolsa dos grupos de hipotecas.

O segundo produto parecia melhor que o primeiro: Tu adquire, na bolsa, o empréstimo que a empresa - com ANOS de sucesso no mercado - fez para uma terceira pessoa. Qualquer que seja o desfecho, você tem o seu dinheiro devolta!
Investimento altamente seguro.
Tanto, que ganhou a classificação "AAA" rapidamente.

Porém, desde a saída de Greenspan do Tesouro Nacional Norte-Americano, a economia dos EUA anda bamba.
Inventam guerras para que o dinheiro do governo inunde o setor privado (em toda sorte de produto para os soldados, direta ou indiretamente), sobem barreiras internacionais para proteger o mercado interno e forçam a entrada dos seus produtos nos outros mercados.

O que o setor de hipotecas pode fazer nesse cenário, para obter mais lucros?
Vender mais liquidez!

O grande problema de uma empresa que vende liquidez é que essa possui mais mercado que produto.
Isso porque QUALQUER pessoa, no MUNDO, vai querer mais e mais liquidez.
O que impede uma empresa de hipotecas de dar liquidez para todo mundo, em troca de casas, carros, negócios, etc... é a quantidade de dinheiro que a empresa de hipotecas possui e sua consciencia.
Porém, o segundo produto das empresas de hipoteca acaba com o problema de falta de produto para oferecer: como os títulos são muito seguros (AAA), eles vendem fácil, transformando o patrimônio hipotecado em nova liquidez, dessa vez para a empresa de hipotecas.

Então, o que limitava uma empresa de hipotecas de vender seu produto?

Só a consciência da empresa.

Sabe quando vamos pedir um empréstimo e a empresa faz uma lista de exigências e consultas de crédito?
Bem, isso é consciencia.

Agora, nos EUA, a situação ficou tão desenfreada que não haviam mais regras para hipotecar.
Qualquer um podia fazer uma hipoteca, quando quisesse. E as empresas de hipotecas vendiam seu produto, sem restrições.

O imóvel já é garantia em outra hipoteca? Não Importa!
O cliente já tem 5 hipotecas e não paga nenhuma? Não importa!

Esses títulos seriam revendidos na bolsa de valores mesmo... O ônus da cobrança seria de quem - inocentemente - comprasse um título AAA, crente que não precisaria fazer nada para receber seu dinheiro novamente.

Bem.

Quando chegou a hora das primeiras hipotecas serem executadas, as discrepâncias começaram a aparecer.
Um único imóvel deveria pagar por 5, 6 hipotecas.
Essa casa - digamos que valha R$100.000,00 - teria que pagar 5 títulos, cada um de R$100.000,00.
Então, os leilões começavam com valores absurdos para os imóveis, que logo não eram vendidos.
Sem dinheiro, os títulos referentes ao imóvel não eram pagos - "apodreciam".

Pessoas idôneas, igênuas e inocentes - como o fundo de aposentadoria de muitos Estados Norte-Americanos - que compraram esses títulos de hipotecas super-seguros (AAA), se viram, repentinamente, sem seu dinheiro!

A cada Leilão, o valor inicial dos imóveis diminuia, o que diminuia o valor de cada título, proporcionalmente.

Esse "dinheiro que não existia" foi a bolha da crise americana de 2008.
Como muitos bancos compravam títulos de hipoteca, estes, logo, se viram sem dinheiro.
Sem dinheiro, eles não podiam emprestar para empresas, pagar os correntistas e, sequer, as suas próprias obrigações!

Com o sistema financeiro em frangalhos, os Estados correram com os trilhões que não existiam, para socorrer o coração do sistema financeiro mundial, com alguma liquidez.

Porque o Brasil não sucumbiu à crise?

1 - Nossos juros, elevadíssimos, impedem o mercado de empréstimos:
Mesmo "fácil", o crédito disponível para o brasileiro é de difícil obtenção e escasso.

2 - Meios de regulamentação:
Nos EUA, três agências privadas emitem um conceito sobre os títulos emitidos por uma empresa e outro conceito para a própria empresa.
No Brasil, não há agências que emitam conceitos: o principal restritor de crédito são os cadastros, como o SERASA e o SPC.

3 - Falta de Dinheiro para Investimentos Financeiros:
Norte-Americanos e Europeus poupam dinheiro para investirem no mercado financeiro. Não raro pessoas de classe média passam horas no "jogo" que é a bolsa de valores.
Brasileiros, inicialmente, não fazem poupança. Os poucos que fazem tem o intuito de comprar algo ou investir em algum negócio, geralmente rural. Nosso estilo de vida não gera bolhas, porque trabalhamos, sempre, com coisas reais.


Outro dia passei os olhos em um documentario sobre os pecados capitais, no History Channel, achei interessante a seguinte idéia:
O pior pecado capital é a cobiça. E o coração do capitalismo é a cobiça do ser humano por estar sempre melhor, por ter sempre mais.

Para alguém como eu, que não me contento com menos do que o ideal, o Capitalismo, apesar de ser o melhor que temos, é falho. 
E, por ser falho, temos o dever de propor idéias e chegarmos a um modelo que traga felicidade a todos, sem gerar ônus para ninguém.

Att.
Arthur Tavares

"Quando a necessidade e a perfeição são inimigas, há algo errado."

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