sexta-feira, 19 de abril de 2013

Problemas X Nós!


Só hoje eu percebi que estou sendo um verdadeiro e perfeito filho-da-puta com todos vocês.

Desculpem-me, por favor.

Venho publicamente retratar-me porque eu sigo permanentemente os pensamentos contidos em um livro que li lá no distante ano de 2005. As ideias contidas nesse livro, quando colocadas em prática como eu faço, mudam demais o modo de pensar da pessoa. E o modo de pensar da pessoa molda como ela vê o mundo. E, quando você vê o mundo de uma forma diferente da dos demais, o resultado são opiniões adversas, atitudes incomuns e, bem, um blog como esse aqui...

O livro em questão chama-se "Como chegar ao Sim".

O livro foi-me emprestado pelo meu então coordenador lá na CDL, o Djalma. Ele saiu da empresa repentinamente, enquanto eu ainda estava com o livro emprestado em casa. Depois disso, não tive oportunidade para devolver o livro... Enfim, Djalma, caso ainda queiras o seu livro, é só me dizer quando e onde devo entregá-lo. O livro está sendo cuidado como se um rebento meu fosse. Tem o seu lugar de honra na minha estante, não o empresto a ninguém e, embora alguns anos tenham se passado, ele está imune a manchas, mofo, orelhas e outros eventos que o danifiquem severamente.

Por seu título, o livro é muitas vezes confundido com auto-ajuda ou algum "manual de boas práticas de venda". Entretanto, nada poderia estar mais longe da verdade. Ao contrário da primeira impressão, esse é um livro que ensina a como podemos resolver conflitos. Porque toda a necessidade de um "Sim" nasce de um conflito. Você só precisa "chegar a um Sim" quando alguém te diz um "Não" que não te interessa ou satisfaz. Então, esse "Não" precisa ser revertido em um "Sim". Como fazer para atingir essa meta, então?

Por definição, um problema é algo que atrapalha alguém. Algo que não deveria existir. Problemas são barreiras nos processos estabelecidos na vida das pessoas ou nos ciclos do dia-a-dia, que interrompem o andamento normal de tudo. Os problemas são coisas ruins e que devemos solucionar o mais rapidamente possível, mesmo que não nos afetem diretamente. Mesmo porque, a vida é uma cadeia sem fim de eventos, como se fosse uma máquina gigantesca com milhões de pequenas peças, como um carro. Se uma das peças está com um problema, logo a disfunção dessa peça irá criar problemas para outras peças. E esse é um efeito cascata: para cada nova peça do todo que apresentar um problema, mais peças serão afetadas, gerando mais problemas. E esse efeito aumenta em progressão geométrica: uma peça com problemas gera problemas para duas, que geram para quatro, que geram para oito, que geram para dezesseis, trinta e duas, sessenta e quatro, cento e vinte e oito, duzentas e cinquenta e seis, quinhentas e doze... até que todas as peças do todo estejam com problemas acumulados... E, quando o todo tem problemas... bem... Algo deve ser feito, embora já seja difícil identificar o problema inicial ou o crucial para solucionar todos os demais...

A primeira coisa que o livro ensina é que o problema é uma entidade separada das partes envolvidas, e assim deve ser tratado.
Embora aumentar o preço dos produtos seja uma coisa boa para quem vende (porque têm a ilusão de ganhar mais), é um problema para quem compra (pela redução da capacidade de adquirir bens). Se a pessoa que vende der de ombros e disser que "não é problema meu", mais hora ou menos hora essa pessoa que vende terá que comprar alguma coisa. E notará os preços mais caros (efeito inflação). E, nesse momento, o problema que ela própria gerou cairá no seu colo: seu poder de compra será reduzido. Se essa pessoa continuar com a filosofia de que "cada um cuida dos seus problemas", como se o problema não fosse uma entidade independente das partes envolvidas, as "soluções" serão sempre individuais e paliativas. E como a "solução" de cada um não soluciona o "problema-entidade-independente-que-afeta-a-todos", as suas consequências acabam se tornando novos problemas para os demais.

Ou seja, por mais que pareça que o problema do outro não tem a ver com a sua vida, acredite: um dia isso vai te afetar.

Quer exemplo melhor do que o do problema da criminalidade?

Existem os doentes mentais e os excetuo desde já. Psicopatas e sociopatas cuja motivação para seus crimes somente pode ser creditada por sua maldade intrínseca não estão relacionados aqui. De qualquer forma, essas pessoas são minoria nas estatísticas de crimes.
Sabemos que a maioria esmagadora dos criminosos são compostos por pessoas em desespero. Pessoas que não têm perspectivas de uma vida decente e próspera dentro dos parâmetros estabelecidos como normais, dentro de suas sociedades. Não é a toa que lugares carentes demonstram, estatisticamente, maior geração de pessoas vivendo à margem das leis do Estado. O problema dessas pessoas (falta de dinheiro) faz com que elas tomem de assalto o dinheiro e as posses de outras pessoas, gerando problemas para os demais (violência). Ou seja, por mais que seja legal ter bastante dinheiro (solução para alguns), é importante que todos tenham como ganhar seu próprio dinheiro honestamente para que não haja violência (solução do "problema-entidade-independente").

Só que, somos humanos, né? Mais que isso, somos humanos E brasileiros... E, em qualquer discussão, vemos o problema como propriedade ou até característica do outro. E, quando atrelamos a outra parte ao problema, geramos soluções estúpidas, como a famosa "só matando, mesmo"...
Os bate-bocas sem produtividade acontecem e as partes acabam brigando entre si - gerando mais problemas ainda - ao invés de encontrarem a solução do "problema-entidade-independente".

Não surpreende que existam milhões de "militantes em causa própria", no Brasil... Cada um cuidando do seu próprio rabo, como se o problema que eles enfrentam fosse causado só por seu grupo rival e somente esses "militantes em causa própria" fossem vítimas do problema...
Que exemplo melhor do que a violência doméstica? Ou tu acha que só as mulheres apanham e sempre são elas as vítimas em brigas domésticas? Como se não houvessem crianças, jovens, idosos, homossexuais, heterossexuais, brancos, negros, pobres, ricos, homens e mulheres que apanham quase todos os dias, em casa... Criam "estatutos da mulher", criam "delegacia da mulher", criam milhares de paliativos e o problema persiste! Ninguém deixa de apanhar em casa... Porque será, né?

Esse primeiro ponto que o livro ensina é o mais difícil, porque você precisa SE abstrair do problema. Mesmo envolvido diretamente com o problema, sendo a vítima mais afetada dele e até com envolvimento emocional com o caso, você deve deixar isso tudo de lado e pensar RACIONALMENTE no problema.
Avaliar, pesar. Procurar padrões, pesquisar referências, buscar pistas, investigar causas e consequências e, principalmente, ir além do senso comum.

Mesmo porque, fazer o que todo mundo faz provavelmente culminou no problema que está sendo enfrentado. Ir além do senso comum ajuda a "pensar fora da casinha". E, quando você pensa diferente, você encontra fatos diferentes e acaba criando as soluções diferentes, que atuarão diretamente no "problema-entidade-independente".

Se fosse fácil abstrair e encontrar as soluções sozinho, qualquer um faria e o mundo já se encontraria perfeito, livre de problemas. Só que não é assim. Problemas antigos ainda inundam nossas vidas e parece que a fábrica de problemas novos está trabalhando a todo vapor. Temos que encontrar pessoas que estejam dispostas a enfrentar o problema.

E se já é complicado para nós enfrentarmos problemas que nos atingem, pela proximidade demasiada com o problema, é mais complicado ainda enfrentarmos problemas que não batem na nossa porta, porque nem sempre temos muitos elementos para pensarmos neles...
Então, a quem vamos pedir para juntar-se a nós, na nossa tentativa de solucionar definitivamente os problemas? Quem estará tão motivado quanto você, para solucionar o problema que te aflige?
É complicado sair por aí catando outras pessoas que estão na mesma situação, com a mesma opinião que você. Tá certo, a internet ajuda a juntar esses grupos... Mas, mesmo que tu junte diversas pessoas com a mesma opinião, você atacará só um lado do problema, né? Acabará militando só pela sua causa, novamente...
Mas, se notares bem, a pessoa que está ali, "brigando com você" chegou nesse ponto porque está tão motivado quanto você e tem um ponto de vista diferente do seu, sobre exatamente o mesmo "problema-entidade-independente"! 

E, aqui, tem a segunda coisa que o livro ensina: geralmente o teu maior aliado para solucionar permanentemente o "problema-entidade-independente" é exatamente a pessoa que está "do outro lado da mesa"!

Os problemas são fortes e difíceis de solucionar, justamente porque o ser humano tem a necessidade instintiva de dualidade: Criamos o "oito ou oitenta" em qualquer caso, escolhemos um lado e colocamos lá no outro ponto todos que não tem a mesma opinião que nós. E, assim como nossos bons primos macacos, ficamos brigando entre nós pela fruta que caiu, ao invés de acharmos um modo de colhermos todas as outras que ainda estão no pé... Ou até de plantarmos mais árvores dessa fruta... 
É mais fácil ceder aos nossos instintos primitivos e mergulharmos no ódio e rancor pela pessoa que nos dá um contraponto, do que lutarmos para utilizarmos nossa razão para avaliarmos o fato ou a opinião divergente da nossa...

E, no processo da briga, acabamos desviando a nossa mobilização do enfrentamento do problema, para o enfrentamento de quem consideramos "oponente". O mais ridículo é que o "oponente" também queria solucionar o problema, mas viu sua mobilização desviada da solução do problema para o enfrentamento conosco! RIDÍCULO!
Em um universo onde os problemas têm um corpo físico visível, veríamos o problema jogando uns contra os outros e saindo do local rindo de todos os babacas que brigam sem necessidade...

O desafio é, justamente, mobilizar pessoas em volta DO PROBLEMA, não DO SEU PROBLEMA. Porque O SEU PROBLEMA só acabará definitivamente na hora que O PROBLEMA não afetar a mais ninguém.

E aí o livro te mostra que "chegar ao Sim" nem sempre é "chegar ao que você queria".

Exemplo?

Eu adoro falar da crise do aço dos anos 2000, nos EUA. E, principalmente, na "solução" que o Governo Bush encontrou.
O problema da indústria do aço dos EUA era que o aço importado (maioria do Brasil) estava muito mais barato do que o deles próprios. Assim, a indústria do aço dos EUA esta perdendo muito dinheiro e estava quase falindo.
A "solução"? Sobretaxar as importações de aço, CLARO!

É como a piadinha do guerreiro de força 5 que achou um gênio da lâmpada e pediu para ser o mais forte do mundo. Então o gênio fez com que todos os outros guerreiros do mundo ficassem com a força 4...

Como o Governo Bush só viu uma parte do problema, solucionou só o problema da indústria do aço. E, com o aço mais caro no mercado, as indústrias que dependem da compra do aço acabaram por ter mais custos... e a repassar esses custos para os seus clientes! Assim, a indústria automotiva dos EUA acabou criando carros mais caros que o japoneses e europeus. E, com isso, perdeu mercado e criou uma crise nos EUA. Detroit e seus bairros-industriais-fantasmas que o diga...

Milhões de desempregados, economia desacelerando... Tudo porque o governo não notou que o "problema-entidade-independente" estava nos processos ultrapassados da indústria do aço norte-americano, não no preço baixo do aço internacional... Em vez de fomentar tecnologias e consultorias para a indústria do aço, o Governo Bush preferiu o paliativo. Forçou todos a comprarem da indústria do aço dos EUA e dane-se o resto do mundo!
Não tenho certeza absoluta que a crise de 2008 não começou por causa dessa "solução" infeliz. A crise de 2008 começou porque as pessoas não conseguiam pagar as hipotecas de suas casas. E geralmente são as pessoas que perdem seus empregos que não conseguem pagar suas dívidas... Mas enfim... Quem consegue calcular o "Efeito Borboleta"?

O ponto é que, muitas vezes, estamos tão próximos dos nossos problemas, que só vemos a ele. Ele está tão grande no nosso campo de visão, que tapa a visão de todo o resto. E, com a visão obstruída pelo problema, provavelmente a solução real está eclipsada. Você até pensa que tem boas soluções. Mas somente vendo o quadro geral é que consegue notar que o problema diferente do que você via (maior, menor ou só diferente, mesmo) e que a solução não passa pelo que você dizia.
É hora de ceder, então. Deixar o orgulho de lado, desprender-se da condição humana para, então, concordar com a solução definitiva. Dizer um "Sim" para a solução do problema é "chegar ao Sim" que você queria.

E eu penso com esse processo em mente. Tento saber o máximo possível sobre os problemas alheios. Me esforço de verdade. Penso na justiça como o fiel da minha balança. Prejudico a mim mesmo, caso note que é o justo a ser feito. Costumo dar gorjetas para serviços bem prestados, só pelo prazer de sentir que fiz algo justo. Costumo me "meter onde não sou chamado", nem que seja só para escutar o que todos têm a dizer. Nem que seja só para colocar um argumento a mais. Nem que seja para "organizar a bagaça". Dou minha cara a tapa (em todo lugar... até aqui mesmo!), para solucionarmos os problemas.

Mesmo porque acho que isso deveria ser objetivo de todos nós: almejarmos ser "destruidores de problemas". Caçarmos, encurralarmos e exterminarmos (sem dó) a qualquer problema que notarmos!

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