quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Mentira do Voto Secreto

Oi amigo. Faz um tempo que você disse para mim que eu deveria falar a verdade em todos os momentos. Desde então, eu venho analisando cada aspecto do meu comportamento, em busca de mentiras que eu possa estar falando. Das mais óbvias até as que estão escondidas na nossa "cultura". E, perdido nos meus pensamentos, encontrei um ponto interessante. Você me acompanha?

Há quem diga que "um homem de verdade é responsável por suas opiniões". Dessa frase eu só não concordo com a parte do "homem". Seguindo meu ideal "pessoista", acho que todos - independente de sexo, raça, idade, opção sexual, etc... - devemos nos "pré-auto-responsabilizar" por tudo o que dizemos e fazemos. Cada direito (emitir opinião, efetuar um ato, etc...) implica em um dever (prestar contas sobre o que foi dito ou feito, etc...). Pensar antes de fazer as coisas é um bom método para encarar a vida.

Mas é complicado falar disso aqui no Brasil. Por causa da "censura" que a ditadura militar impôs, o povo brasileiro é traumatizado no que tange restrições à liberdade de expressão. Aqui, confundimos o "direito de livre expressão" com "impunidade de dizer o que quiser". Não é porque você pode se expressar, que você vá falar o que vier na cabeça pelos cotovelos. Inclusive existe aquela máxima:

"O homem é senhor dos seus pensamentos e escravo de suas palavras..."

Amigo, dentro da tua cabeça tu pode pensar o que quiser. No momento que tu abre a boca e exterioriza o que pensou, tu - literalmente - pariu um outro ser. Essa opinião é "um alguém" para com quem tu tem responsabilidades. Experimente difamar alguém, por exemplo. Uma afirmação qualquer, que você não possa provar e que cause danos morais em outra pessoa. É amigo... Você conhece a história: processo, indenização...

Então eu fiquei pensando sobre o voto secreto.

Esse "instrumento da democracia" foi criado para que todos pudessem emitir a sua opinião sem medo de represálias. Mas... Como assim???

Em um tempo de coronelismo e autoritarismo isso até se justificaria no sentido de "proteger" a pessoa que está emitindo sua opinião. Mas, hoje em dia, na era da informação, nós temos mais segurança. Mais métodos que impeçam e reprimam violência e represálias. E, quando se trata de política, o voto secreto de parlamentares não é só imoral como é uma afronta aos cidadãos. Imagine por um segundo: você deu seu voto (de confiança) para uma pessoa te representar perante os interesses do Estado. E essa pessoa não deixa claro as decisões que toma em seu nome? Como assim, amigo?

Mesmo em um país que tenha cidadãos "de verdade" - e não os espertalhões que são produzidos em série no nosso país -, o voto secreto de representantes do povo não é justificado.

Cada um de nós tem o direito de saber o que estão decidindo os parlamentares que elegemos. Isso porque é muito possível que o discurso do político seja um e, na segurança do voto secreto, o seu ato seja outro. Ao abrirem-se os votos, justificativas deverão ser feitas. Em minha humilde opinião, cada político deveria manter um site pessoal, onde ele publicaria diariamente os projetos em que está trabalhando - seja os dos seus colegas ou criando os seus próprios. E, junto com essa informação, o politico deveria ir emitindo suas opiniões no decorrer do trabalho. Opiniões que podem mudar, sim. Afinal de contas, cada político é uma pessoa só. Um mero representante. Ele pode muito bem não saber todo o panorama em um dia. E, aos poucos, a própria população pode ir inteirando o diplomado com mais dados, casos, experiências e situações. O próprio parlamentar pode criar um ambiente de discussão para informar e amenizar os ânimos das pessoas menos inteiradas dos assuntos.

Com um canal como esse, dividiríamos a população entre os interessados e os parciais. Conseguiríamos chegar mais facilmente nos motivos que as pessoas têm para lutar pelo que lutam.

E, amigo, o que importa nessa vida é saber as motivações. Quando sabemos as motivações das pessoas, entendemos as atitudes que elas tomam. Podemos responsabilizar cada indivíduo pela nobreza dos motivos dos seus atos, não pelas consequências.

Quer bons exemplos?

No início das manifestações, eu mesmo estava alinhado com diversas causas. Fim da PEC37, contra o ato médico e a favor do passe livre.
Só que...
Eu li mais. Fui atrás. Tentei entender porque existem pessoas contra. Confesso que, a princípio, só queria saber os argumentos deles para poder contra-argumentar. Mas uma das minhas maiores qualidades é ser justo. Ser sempre imparcial, mesmo que a decisão prejudique a mim mesmo. É só pensar um pouco - despidos de interesses - que todos nós conseguimos enxergar o mesmo "certo e errado", em cada situação. E vendo o panorama inteiro, notei que "o outro lado" tinha argumentos e motivos melhores para cada uma das questões.

Já falei porque lamentei o fim da PEC37. Ela deveria ser aprovada porque é um abuso inconstitucional que o poder executivo se auto-conceda direito de investigação. Se o Brasil quer que o MP investigue, que o Legislativo e o Judiciário criem as leis, regulamentem o exercício e estabeleçam mecanismos de fiscalização para a investigação do MP. Agora, um poder se auto-conceder direitos é ilegal. E a PEC37 iria "botar ordem no barraco".
Já falei, também, porque eu sou a favor do ato médico. Desculpem-me enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos e toda a gama de "médicos naturais" e curandeiros, por aí: eu não confio nos seus achismos. E acho que ninguém em sã consciência deveria confiar em vocês, também. Claro que ninguém precisa de médico para receitar uma aspirina para dor de cabeça. Mas, e se essa dor de cabeça for um tumor no cérebro? Vai ficar tratando com chazinho até o estado ser irreversível? Vai dar uma de Steve Jobs? Não sou hipocondríaco, sou realista. Eu sequer acredito em opinião isolada de médico. Ainda mais desses "doutores" que mal olham para tua cara e já saem receitando antibióticos. Se posso, consulto com dois médicos diferentes. Só fico calmo quando escuto duas vezes o mesmo diagnóstico. Porque, PUTA QUE O PARIU, estamos falando da única coisa que cada um de nós têm: a própria vida! O ato médico regulamenta essa chalaça toda. Médico é responsável por diagnóstico, enfermeiro por cumprir procedimentos prescritos e farmacêuticos por vender o remédio correto. Tá bom demais assim.

Quanto ao passe livre: Primeiro que eu acho que o Estado já fornece mobilidade à população. Existem ruas e calçadas, não? Então, filho: use o "expresso canelinha" e bóra andar a pé. Ninguém te impede, ninguém te proíbe. Cada um pode ir aonde quiser, basta dar o primeiro passo - como já diria Bilbo Bolseiro. Agora, exigir transporte público gratuito? "Não existe almoço de graça". Amigo, alguém vai pagar essa conta. E eu não estou muito a fim de pagar passagem de ônibus para os outros. Acredito que você também não. O Brasil tem muitas outras prioridades para o dinheiro dos impostos, que não fornecer ônibus de graça para a população. Sem falar que a população que realmente paga impostos usa - no máximo - duas ou quatro viagens por dia. Vão e voltam do trabalho e olhe lá. E no resto do dia, inteiro, o dinheiro dos impostos desse povo que está preso no trabalho vai custear passeio de ônibus para desocupados. Não sei se acho isso muito justo, não.

Os países continentais (Russia, China, Canadá, EUA, Índia, etc...) e continentes inteligentes (Europa) interligam todas as suas áreas vitais através de trens e barcos. Só o Brasil  usa CARROS, CAMINHÕES E ÔNIBUS para esse fim. Eu acredito que, se queremos maior mobilidade urbana, devemos investir em uma linha de trem "circular", que saia do porto de Rio Grande/RS, passe por Porto Alegre, Florianópolis, Itajaí, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, capitais nordestinas até São Luis, Belém, Manaus, Rio Branco, Porto Velho, Cuiabá, Campo Grande, Foz do Iguaçu, Chapecó, Santa Maria até chegar em Rio Grande, novamente. Nesse grande "círculo", colocar grandes transversais, que o liguem estrategicamente às capitais "do meio do mapa" (Belo Horizonte, Palmas, Brasília e Goiânia) e as "pontas do mapa" (Macapá e Boa Vista). Ligações estratégicas, com o porto de Santos por exemplo, complementariam a malha principal. E, ainda ligados a este grande "círculo férreo", sub-rotas, que seriam criadas de acordo com a priorização de escoamento de produção e mobilidade de cada área do país. Cada locomotiva pode tirar dezenas de caminhões das nossas precárias estradas.

Porque tirar caminhões das estradas?
1 - O peso dos caminhões deteriora mais rapidamente as estradas, exigindo gastos altos com manutenção.
2 - O valor do frete de um caminhão é muito maior do que será o valor do frete de um vagão de trem em um sistema como esse.
3 - Caminhões não causariam mais tantos acidentes e óbitos no trânsito.

O desemprego dos motoristas de caminhão seria compensado imediatamente com empregos na construção desse círculo ferroviário. Em um segundo momento, com a operação e manutenção do sistema férreo. Por fim, os empregos indiretos gerados por mini-shoppings em estações de trem, maior facilidade de turismo entre cidades e de comércio entre regiões ultrapassariam - com sobras - o número de empregos diretos e indiretos gerados pelo sistema de transporte via caminhões.

E uma conclusão como essa parte de debate. De discussão. De muita conversa. De apresentação de argumentos. De provas, casos, estudos e estatísticas que embasem os argumentos. De alinhamentos ideológicos entre as pessoas.
E o debate só se inicia quando alguém tem a coragem de sustentar a responsabilidade de emitir uma opinião em público. Coisa que a mentira que o voto secreto cria impede que aconteça.

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