sexta-feira, 22 de maio de 2015

O Valor de uma vida

Primeiro: Se você chegou aqui armado de hipocrisia, saia desse blog. Agora. Aliás, se você me conhece, saia da minha vida.
Obrigado.

Vidas têm valor, sim. Todas têm um um valor. E não, o valor não é o mesmo. Aliás, o valor de uma vida é até fácil de calcular.


Eu lembro da primeira vez que pensei sobre o assunto. Um homem-bomba palestino se explodiu no centro de jerusalém, matou dezenas...
Eu ainda era adolescente e não sabia muito bem o que pensar sobre todo o problema do Oriente Médio. Quer dizer, eu já sabia de todo o contexto, mas não sabia qual lado tinha mais ou menos razão. Meu único pensamento era "ninguém se explode sem provocação". Adolescente estúpido... hehe.

Eu devo ter feito algum comentário sobre o caso e o meu pai disse mais ou menos assim "...mas existe mais trabalho para formar um adulto judeu do que um adulto palestino..."

Na época eu achei isso extremamente inconveniente. Meio racista, meio segregador, meio parcial e completamente errado.

Mas, com o tempo, eu acabei crescendo. Sabe como é, passei a pensar sozinho, coisas do tipo.

E essa frase grudou na minha cabeça. EVIDENTE que eu ainda não concordo com a generalização proposta pelo comentário que eu lembro do meu pai. Digo "que eu lembro" porque provavelmente ele também não quis dizer algo tão preconceituoso, assim. Talvez meus ouvidos adolescentes de merda possam ter escutado algo que ele não disse.

Mas o importante é nos fixarmos na verdade: algumas pessoas são mais trabalhadas do que outras. As vidas de algumas pessoas recebem mais trabalho do que a vida de outras pessoas.

E vamos lembrar da máxima: o resultado de um trabalho que atende a uma necessidade é o que agrega valor.

Agregar valor é atender a necessidade de outra pessoa através de trabalho.

O valor agregado é o reconhecimento de outra pessoa pela necessidade suprida, através de trabalho.


Bem, que nossas crianças precisam ser educadas para o convívio em sociedade, isso é inquestionável. Somos animais e, se não fomos apresentados às boas maneiras, regras e pensamentos superiores, nós nos resumimos a macacos pelados que usam ferramentas.
E o processo de educar uma criança é muito complicado. As pessoas têm MUITOS problemas a serem corrigidos até fazer 18 anos. Problemas que necessitam ser sanados.

Se existe um problema (educar um novo ser humano) haverá um trabalho (fazer a criança entender os conceitos) que agregará valor ao indivíduo: transformará um animal em um ser civilizado.

Acho que você já pegou o fio da meada da ideia que eu estou tentando desenvolver, aqui. Quanto mais ensinamos uma criança, mais agregamos valor a este ser humano.

Infelizmente esse ser humano possui mais valor do que outros seres humanos que receberam menos instrução.

E isso gera duas consequências diretas.

1 - A humanidade já produziu mais conhecimento do que qualquer indivíduo possa absorver durante todo o seu tempo de vida.
Portanto, a atividade de ensinar uma pessoa começa em saber selecionar os conhecimentos mais importantes para a vida da próxima geração.

Exemplo? Hoje em dia, qual a finalidade de ensinar datilografia para qualquer pessoa?
Em contrapartida, ensinar informática é algo básico.

Não só saber selecionar o conhecimento, mas tentar prever as necessidades da próxima geração. Quando eu entrei na faculdade de Sistemas de Informação em 2003, o mercado era só uma aposta. Hoje nenhum setor da sociedade sobrevive sem o uso de sistemas de informação. 

Temos que dar para nossas crianças conhecimentos que agreguem valor á sua pessoa. E esse conhecimento deve ser útil para outras pessoas, para que a criança possa, quando adulta, atender as necessidades dos outros, também.

Essa cadeia de atendimento de necessidades através de trabalho nós chamamos de capitalismo. E cada nova necessidade que nós identificamos gera mais conhecimento. E cada conhecimento novo - e portanto raro - é mais valioso. E agrega mais valor à pessoa que criou esse conhecimento.

Taí a história do Steve Jobs e o Bill Gates que não fazem de mim um mentiroso.


2 - Todos os seres humanos são receptáculos de conhecimento. Máquinas de aprender. É IMORAL não agregar valor às pessoas.

Em países sérios, a educação é uma responsabilidade atribuída única e exclusivamente aos pais. O governo e a iniciativa privada tentam auxiliar com escolas, mas a responsabilidade final é inteiramente dos pais da criança.

No Brasil, por outro lado, nosso Estado se diz responsável pela educação das pessoas.

Independente de qual seja a fonte de conhecimentos, as crianças precisam aprender conteúdos básicos. Saber que a humanidade já conhece certos fatos sobre o universo, como um todo.
Eu não paro de imaginar a quantidade de "Einsteins" que nós já perdemos por motivos fúteis.
Pessoas com intelectos muito grandes, capazes de melhorar o mundo de modos que nós, réles mortais, somos incapazes de imaginar.
Imagino um Einstein perdido para a estupidez das religiões.
Imagino um Einstein perdido porque ficou analfabeto a vida inteira.
Imagino um Einstein perdido porque o país dele o doutrinou na escola, em vez de ensinar.

Einstein e mais Einsteins que não tiveram acesso a bons professores, a bons livros, aos bons conceitos, à liberdade necessária para poder pensar fora do senso comum...

Se existe um tipo de crime para o qual eu concordo com a pena de morte é esse. O de destruir totalmente a vida de uma pessoa.


Nessa semana um médico foi assassinado em um latrocínio por um menor. Encontraram o perfil do menor, 15 passagens pela polícia. O motivo do latrocínio? Uma bicicleta.
Nessa mesma semana, um jovem de 15 anos foi morto em uma favela.

Um "especialista de esquerda" tentou relativizar os dois casos. Tentou inocentar o adolescente que matou o médico de todas as formas possíveis. E tentou ressaltar de todas as formas que o assassinato do médico tinha mais visibilidade "só porque o médico era mais rico". Mas quando esse "especialista de esquerda" falou que "a vida dos dois tinha o mesmo valor", eu precisei vir aqui correndo para discordar.

Não. Os "preços" das vidas dos dois eram MUITO diferentes.

Um médico formado possui muito mais trabalho aplicado em sua formação. O valor agregado à vida do médico formado é gigantesco. E o valor potencial do trabalho de um médico para atender às necessidades de outras pessoas é incomensurável.

Um adolescente de morro, sem capacidade de escrever uma sentença corretamente em postagens de facebook... Só com pensamentos de ódio, de rebeldia, de indignação e violência... Esse adolescente não foi trabalhado. Não recebeu o esforço de ninguém. Não aprendeu que deve - ele próprio - se esforçar para adquirir conhecimento, também. O valor agregado na vida desse adolescente é ínfimo. A vida dele, enquanto cálculo matemático de trabalho investido, é barata.

Voltando uns 15 anos no tempo, na conversa com o meu pai... Eu sei, é um absurdo generalizar. Mas meu pai tentou dizer que a vida de alguém que só recebeu instrução religiosa a vida inteira... o suficiente para se tornar um fanático com capacidade de se explodir no centro de uma cidade "inimiga"... é mais barata do que a vida de qualquer cidadão que estava no centro da cidade tentando viver sua vida. Cidadãos que passaram anos aprendendo conceitos diversos. Cidadãos que formam uma comunidade que entende o valor do conhecimento. Cidadãos que estavam trabalhando. Que estavam se esforçando para atender necessidades de outras pessoas. Cidadãos que estavam agregando valor para suas vidas, sua cidade e para o mundo, como um todo.

Não é a toa que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Não é a toa que nosso número total de mortos por ano seja maior do que a de países em guerra declarada.

Nosso governo, através das "nossas escolas", colocam nas ruas milhares de homens-bomba, todos os anos. Prontos para explodirem na cara dos cidadãos que ainda tentam atender às necessidades das outras pessoas e, assim, agregar um pouco de valor à este pardieiro que chamamos de país.

Quando será a minha vez? Quando será a sua vez?

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