" - Gostaria de Doar os 3 centavos de troco para Caridade?"
" - Não!"
Hoje eu preciso falar a respeito de supermercados. É algo que me deixa indignado faz muito tempo, mas nunca estruturei decentemente a ponto de exteriorizar ordenadamente.
Vou começar do fato recente, passando aos anteriores, até chegar aos conceitos formados:
Há uma campanha, hoje, na Rede Zaffari, para arrecadar donativos para um hospital. Sabe como é feita a arrecadação? No caixa! Sabem aqueles 1, 2, 3 ou 4 centavinhos que sempre ficam quebrados na hora do troco? Então, esses centavinhos são - oportunamente - alvo de solicitação por parte da caixa. "Gostaria de doar 3 centavos para o Hospital?" NÃO! Lembro, já que mendigagem e coação são contravenções, previstos por leis.
Parentese 1: Há vários motivos para o meu "NÃO". Além de ser uma exigência constitucional a universalização da saúde, todos nós já pagamos compulsivamente a conta dos hospitais, em nossos abusivos impostos. Não bastasse a conta salgada, temos "casas de empilhamento de doentes", não hospitais. Isso faz com que, quando qualquer um realmente precisa de uma intervenção segura, rápida e de qualidade, acabe mesmo é correndo para o particular, onde paga mais caro ainda. Com a doação dos meus 3 centavos, são 3 vezes que pago pela saúde... que sequer estou precisando nesse momento!
Mas voltemos à hora do troco no caixa. Uma coisa é uma caixinha de acrílico, com um cartaz bonitinho solicitando o troco solidário. Uma coisa é até um stande, com banners, panfletos ou só uma pessoa explicando porquê, aonde e como será utilizado o dinheiro. Outra coisa é o bote certeiro nos centavos do troco. A coação, o oportunismo. O momento exato em que outra pessoa sabe que tu tem um troco que podes prescindir. Experimente dizer "NÃO" para essa doação, como eu faço... A menina te olha com um desprezo, como se os 3 centavos não fossem teus. Como se tu estivesse roubando do Hospital os 3 centavos...
Parentese 2: Odeio isso nos supermercados. Não me importo de pagar R$1,50 pelo pacote de bolachinhas, pelo litro do leite, pelo potinho de iogute. Mas, quando chego na gondola, o produto custa R$1,49... Bem, meu amigo... Você trabalha e sabe que a maioria das empresas não arredonda salários. E, as que arredondam, cobram o arredondamento sempre que possível... Se para receber os centavos são contados (até em transferências eletrônicas) porque na hora de pagar o arredondamento ocorre? Sinceramente? Querem colocar R$1,99 no preço para dar impressão que é barato, que tenham o R$0,01 de troco. Mas eles nunca têm! Os caixas agem como se tivessem, até o último atendimento, um estoque de moedas de um centavo, que acabara justamente agora que tu pediu. Ficam stressados por terem que trocar dinheiro para te dar troco... Agem como se fosse insignificante. É insignificante, mas é meu! Insisto que não me importo em pagar os R$2,00... Desde que seja o preço anunciado. Isso se chama lisura, honestidade.
Voltando ao tema, por muito tempo os supermercados simplesmente embolsavam a sobra dos trocos. Esses centavinhos a mais ou a menos podem chegar a R$10,00, R$20,00 ao dia em cada caixa, dependendo do dia e do movimento do supermercado. Como vou ter certeza absoluta que o dinheiro está indo para onde deve. Se vai, como vou ter certeza que vai em sua totalidade? Porque temos que inferir e acreditar na idoneidade do processo? Onde está registrado o compromisso, quem é o órgão que fiscaliza?
Por fim, quero falar que os supermercados são o maior câncer na economia Brasileira. Só não nota quem não quer. Isso porque são sumidouros de dinheiro de uma região. Isso porque a grande maioria dos produtos vendidos não são da região. Claro que grandes cidades não notam isso, mas é evidente nas pequenas e médias cidades: com excessão de perecíveis rápidos (com validade de até 3 dias) todos os produtos vendidos não são produzidos no local. Assim, a cidade que batalha para ter negócios e empresas que tragam dinheiro para o mercado local (trazendo prosperidade e mais empregos) acabam por verem os salários de seus funcionários se acabarem nos supermercados... que utilizam os recursos para comprar de grandes empresas distantes da cidade. Assim, o supermercado arrecada dinheiro dos moradores da cidade e o leva para os fornecedores, geralmente distantes. Como Santos é o maior porto do Pais e São Paulo a maior economia, não admira se todos os distribuidores vierem de lá... Vale frisar que a quantidade de empregos oferecidos pelos supermercados é ínfima perto do seu faturamento.
Parentese 3: Para todos os administradores acéfalos de Supermercados: existe um cálculo para a quantidade de atendentes por escala. E o cálculo é baseado no momento de pico, no ápice do primeiro desvio padrão positivo. Não se pode colocar atendentes só pela média, mediana ou moda do gráfico senoide. Exemplo: Se o tempo de atendimento médio de um caixa é de 3 minutos (para arredondar) e se no sábado há uma média de 30 clientes por minuto mas, históricamente, existem sábados com 60, é baseado nos sábados com 60 clientes que se faz a escala. Não na média, tão pouco nos sábados calmos. Filas demoradas, como as do Maxxi de novo Hamburgo, são intoleráveis.
Agora, traçando um paralelo com foco em saúde, as velhas vivendas e mercadinhos - cada vez mais e mais raros - é que faziam bem à economia... Geralmente, esses pequenos estabelecimentos não iam muito longe para buscar seus produtos, fazendo negócios em nível regional. Assim, o dinheiro do mecânico ia para o mercadinho que, depois, ia para o zé das couves, ou para o Tião dos Porcos, ou para a fabriqueta de papel higiênico, etc... O dinheiro circulava pela região e gerava inúmeros negócios.
Há, ainda, uma conspiração que talvez só eu veja: A dos cartões de crédito com os supermercados. Esse maldito intermediário faz com que paguemos sempre sem restar troco. Os centavinhos são nossos novamente, mas, no final do mês, temos que pagar à administração do cartão pelas transações que fizemos... Geralmente muito mais do que os centavinhos que deixaríamos para o tal hospital...
Sinceramente? É um mundo onde ganha mais quem é mais esperto. Agora entendo quando o G.U.R.P.S. (jogo de RPG) encara Honestidade como uma desvantagem... Ser honesto em tempos como o nosso é ser otário, idiota.
PS - Mais ridículo que o supermercado subtraindo os centavinhos, é a pessoa que recebe o troco a mais e embolsa. Não quero o que não me tange. Quero o meu troco certo, exato!
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