quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Imagine um Mundo sem Limites!

O ser humano é criativo por natureza. Criamos muitos objetos, ferramentas e conceitos. Alguns muito úteis para o dia-a-dia. Outros, muito úteis em momentos específicos.
Mas o ser humano também é dono de algumas invenções que eu até concordo que são úteis para o contexto em que nos encontramos. Mas que, definitivamente, deveriam ser abandonadas imediatamente.

Tem alguns dias que o presidente uruguaio fez um discurso histórico, na ONU. Quer dizer... Tão histórico quanto a era da informação permite que seja. Ou tão histórico quanto o ser-humano-comum consegue perceber. Mais ou menos tão histórico quanto a descoberta da NASA, publicada em 2012, que revelava a existência de organismos que não utilizavam os mesmos seis elementos básicos que toda a vida que conhecíamos até então, usa.

Enfim.
Introjetamos que certos métodos que criamos são os melhores para vivermos. Colocamos na cabeça que é melhor comprarmos um potinho de pasta industrializada alho e cebola, cheio de conservantes e aromatizantes, que vem do outro lado do mundo, do que comprarmos o alho e a cebola do fazendeiro da nossa região. Detalhe: comprar o alho e a cebola naturais além de ser mais barato e saudável, ainda poupam todo o custo financeiro e ambiental do transporte da pasta de alho industrial, desde lá do outro lado do mundo até a sua casa.

O mais engraçado mesmo é quando esse mesmo cidadão que compra a pasta de alho lá do outro lado do mundo também é um ecochato... Daqueles que torram o saco da rua inteira para separar o lixo...

Mais ou menos como os moradores do bairro Vila Rosa, aqui de Novo Hamburgo. Em uma carreata espalhafatosa domingo pela manhã, daquelas que acordam todo mundo, param o trânsito e todos torcem para que ela acabe logo, eles reivindicavam que não fossem construídos novos prédios no seu bairro. Justificativa? A falta de infra-estrutura (principalmente de saneamento básico) do bairro faria com que a natureza fosse agredida, se houvessem mais prédios...
Só que... o bairro Vila Rosa possui prédios de classe média/alta. E muitos. Moradores com alto poder aquisitivo. E os novos prédios que serão construídos (no antigo campo do Esporte Clube Novo Hamburgo) serão prédios do programa "Minha Casa, Minha Vida".
Dá para entender a falta de discernimento, mentiras e nível do pensamento que eu estou tentando falar?

Nós (humanidade inteira) temos um cinismo inato. É algo cultural. Cada um defende o próprio estilo de vida. Cada um de nós se sente inseguro nesse mundo. E fazemos de tudo para garantir mais um dia de vida. Mesmo que tenhamos que matar outra pessoa para garantirmos só mais uma breve inspirada de ar...

Como eu disse lá em cima: Eu entendo o processo que levou a formação destes padrões de vida. Entendo que, para os homens das cavernas, era "cada um por si e Deus contra todos". Entendo que a situação tenha sido difícil até o início da revolução industrial. E entendo que atingimos e passamos tão rapidamente pelo ponto de equilíbrio populacional, que sequer tenhamos notado que ele existiu.

Os mecanismos que eu acho estúpidos e que devem desaparecer foram os que nos trouxeram até aqui. Sei que devemos muito para cada um deles. Mas, nessa vida, todo relacionamento acaba. Fim, deu pra bola, cada um para o seu lado, obrigado por tudo, vamos para outra...

Talvez o maior conceito que devemos lutar para abandonarmos seja o de LIMITE.

Somos pessoas demais. O mundo já está sobrecarregado de seres humanos. Faz quase um século que a Terra não consegue, sozinha, alimentar a todos nós. Fertilizantes, pesticidas, anabolizantes vegetais, para que as plantas cresçam mais musculosas... Nada disso é novidade e já não é mais o suficiente. Já estamos manipulando os genes das plantas, para que elas sejam imunes a doenças, cresçam mais rapidamente, desenvolvam tamanhos maiores, tenham mais nutrientes e sejam mais gostosas.

Tem até uma notícia de um híbrido entre batata e tomate, circulando pela internet! Basicamente, a raiz é uma batata, que desenvolve um pé de tomateiro! INSANO!


Havia um tempo em que fazia sentido que cada ser humano tivesse, trabalhasse, cuidasse e protegesse o seu próprio pedaço de terra. Mas, hoje, é uma utopia querer manter esse mesmo sistema. Fico imaginando quantos metros quadrados cada um de nós teria, se dividíssemos a área habitável da Terra igualmente. Pior: mantido o sistema atual, o que cada um de nós acabaria fazendo com os (poucos) recursos naturais a que cada um de nós teria direito.

E é esse o conceito de limite/propriedade que me fez começar esse texto. Entenda: eu sou um capitalista tão radical, que acredito que só o liberalismo clássico é uma forma de governo viável. Qualquer coisa a mais do que a menor intervenção possível do Estado, já é a represa aberta para a inundação do desastre.

Mas, mesmo assim, temos que pensar ali na frente. Muito mais do que achar que a economia deve se auto-regulamentar de acordo com os piores defeitos humanos (os sete pecados capitais), eu não consigo suportar a falta de coerência. E o sistema atual de dividirmos os países através de linhas imaginárias, traçadas ou físicas é ESTÚPIDO.

Primeiro, não é porque a religião é a maior causadora de guerras e mortes no mundo, que deixaremos de atacar a segunda maior causa: o nacionalismo.
Depois, em um segundo momento, todo nós já sabemos da importância da administração sobre as coisas. E, em um tempo aonde havia mais Terra do que seres humanos, havia sentido em dividir o mundo e administrá-la aos pedaços. Hoje, com o mundo completamente unido através do fenômeno que conhecemos como globalização e com os avanços da ciência que já derrubaram completamente a ideia imbecil de que exite uma ~hierarquia de raças~ humanas, simplesmente não faz sentido eu me sentir mais "irmão" do meu vizinho de porta, do que de um africano, muçulmano ou japonês.

Nossa solução de traçar limites para administrarmos o mundo aos pedaços está gerando redundância de utilização de recursos naturais. Nações e corporações escondem seus ~segredos comerciais~ uns dos outros, permitindo que todo o resto do mundo utilize práticas antiquadas, que gastam mais e deterioram a única coisa material que todos nós temos de verdade: nosso planeta.

A falta de coerência entre o discurso velado de etiquetas de "empresa amiga da natureza" e as "decisões estratégicas" delas, é insana!
Quer mais um bom exemplo? Desde os idos de 1950 que o Brasil tem toda a estrutura para utilização de carros. Por muito tempo, eram poucas as montadoras que se aventuraram por aqui. Depois do Plano Real, outras vieram. Mas ainda hoje (2013) não temos TODAS as montadoras do mundo funcionando aqui. E, mesmo para as montadoras que temos, não são todas as peças que são produzidas, aqui. A matéria prima não é extraída daqui. Os insumos não são extraídos e produzidos aqui. Há componentes que viajam o mundo para chegar aqui e algum brasileiro ganhar salário de fome para o encaixar no veículo, como se estivesse brincando de Lego...

A primeira conclusão que trago nesse texto é que passamos da hora de darmos poder de verdade para a ONU. Para que os presidentes dos "países" passem a ser meros informantes sobre o que acontece em cada lugar, para o nosso "Líder Global". Imagina que louco, podermos votar on-line em alguém que cuide do mundo inteiro!

Mas o problema maior do limite está justamente na nossa mente. Nós nos condicionamos a pensar com limites. Veja bem: baseamos nossas frases em sujeitos. Limitamos o mundo, ao classificá-lo. "Isso é uma maçã, aquilo é uma pera!" Impomos limites entre as coisas, para nossas crianças. Nosso método de ensino da língua (e, consequentemente, do método de pensamento) é feito através de exemplificação e "decoreba". Não ensinamos as pessoas a usar as palavras: prendemos a mente das nossas crianças nos limites que cada palavra impõe. Deixamos livre somente o bom-senso individual. Justamente aquela parte que precisaríamos treinar nossas crianças exaustivamente.

Lennon imaginava um mundo sem fronteiras. Eu imagino um mundo aonde as mentes das pessoas não precisem ter fronteiras.

E o que isso significa?

Existe a fronteira entre os conceitos. O Ruim e o Bom. A Luz e a Escuridão. O Frio e o Calor. O Bem e o Mal.
E, hoje, ninguém parece ver essa linha, sozinho. Por mais que esta linha seja um muro intransponível, pintado em verde-limão-fosforescente-neon, as pessoas vagam para os dois lados com uma habilidade ímpar. Juram não notar a existência desse limite.

Então, escrevemos leis e mais leis. E mais leis. E mais um pouquinho de leis. E, quem sabe, toda uma regulamentação complementar. Tudo isso só para tentar deixar os limites mais evidentes. Como se não bastasse o muro de cinco metros pintado de verde-limão-fosforescente-neon, ainda jogam luz e colocam pessoas armadas para vigiá-lo.

Eu imagino um mundo aonde os limites entre as ideias não sejam necessários. Um mundo aonde todos nós sejamos equipados com o discernimento necessário para sabermos avaliar e julgar todas as ideias. Aonde o óbvio seria acatado por unanimidade, sempre que uma pergunta fosse feita. 
Um mundo aonde ninguém dissimulasse para manipular o conceito de "o que é melhor para todos".
Aonde todos entendessem que o "melhor para todos" é, automaticamente, o "melhor para mim".
Que vale a pena perder no momento imediato, se todos nós ganharmos em um momento futuro.

O limite é um conceito que existe. É necessário. Mas o ideal seria que nós não precisássemos utilizá-lo.

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