Tem uns três anos - lá no já distante 2012 -, eu escrevi um texto parecido com esse que eu vou escrever, agora.
Eu poderia procurar o texto. Mas ele está perdido na montanha de postagens que eu já fiz, por aqui. Talvez, depois que eu escrever esse texto, eu dê uma procurada no outro. Só por curiosidade.
O fato é que eu quero retomar esse tema mais uma vez. E será bom escrever sem a influência de ter lido o primeiro texto que escrevi sobre.
Hoje, novamente me peguei pensando sobre o tédio. Sobre a rotina. Sobre a constância. Sobre fazer as coisas de modo continuo, confiável e previsível.
Comecei a pensar nisso porque tenho notado um padrão anti-tédio que consome as pessoas. Hoje em dia, por algum motivo que eu não sei explicar ainda, as pessoas parecem viciadas em algo novo a todo momento. Se o dia não trouxe nada novo, parece que ter levantado não valeu a pena.
Tenho notado uma legião de pessoas que simplesmente PRECISAM que algo novo as atinja o tempo inteiro. Ao que parece, o tédio é um vilão, um monstro devorador desse povo desesperado por novidades. Parece que, se o tédio as alcançar, essas pessoas serão trucidadas.
Basta ler o perfil, os blogs, o tuíter ou o facebook... ou só ter uma conversa simples com essas pessoas. Você nota padrões de frases como "necessidade que o amanhã seja diferente do hoje" ou "eu nunca sei o que vou fazer no próximo final de semana"... Isso sem tocar em filosofias "VidaLoka" total, mesmo...
Eu sei que já escrevi sobre isso... mas eu não lembro o quê escrevi, exatamente. Por isso, refiz todo o meu raciocínio, até chegar a uma opinião.
E quer saber? Eu gosto de tédio. Gosto de rotina. Gosto de constância. Gosto de tudo previsível e confiável.
Talvez porque EU seja uma pessoa assim. Tediosa, rotineira, constante, previsível e confiável.
Mas sabe que nem sempre eu fui assim?
Houve um tempo em que eu tentei empreender. Eu ainda tenho toneladas de projetos fantásticos na minha cabeça. Negócios que, se colocados em prática, tenho certeza que não só dariam muito dinheiro para mim e meus investidores, como trariam muitos benefícios para a sociedade, como um todo.
Mas sabe o que acontecia nesse tempo? Eu perdia o FOCO. Eu queria fazer tudo. Com todo mundo. No mesmo momento.
Um erro fatal.
"Somos humanos, ridículos, limitados e só usamos 10% da nossa cabeça, animal!"
Nós não conseguimos nos concentrar em muitas frentes. Não é à toa que a ciência especializa as áreas de conhecimento, ao invés de juntá-las. É mais fácil concluir nossos planos, se nós concentrarmos nossas forças para atacar um único objetivo. Criamos metas, que nada mais são do que "finais de etapas" do caminho que nos leva até o objetivo que elegemos.
Essas pessoas com ânsia de liberdade não notam que a falta de rotina é uma prisão muito maior do que a rotina, em si.
Se você cria um objetivo e usa uma rotina para alcançá-lo, uma hora você conquista seu sonho. Você fica preso algum tempo aparentemente "prisioneiro" da rotina... mas essa rotina bem executada vai te levar para a liberdade do objetivo conquistado. Dos filhos criados, do milhão no banco, da mansão de novela, da viagem dos sonhos, etc, etc, etc...
Agora, perder o foco do objetivo e deixar suas forças se "diluírem" por diversas possibilidades? Em um primeiro momento pode parecer que você jamais terá um dia igual ao outro. Parecerá que você é dono do seu destino e pode ter tudo o que você quiser, na hora que você quiser! O mundo inteiro é seu!
Então você não se foca em um namoro... E todos seus amigos se casam e você não.
Então você não se foca em uma carreira... E todos os seus amigos evoluem seus salários e padrões de vida e você não.
Eu pensei na analogia dos dois condenados à prisão perpétua.
Um deles tentava algo novo todos os dias. Um livro novo, um trabalho novo, um exercício novo... Tentava não cair na rotina, dentro do presídio. Tentava fazer amizade com todos, tentava se tornar útil dentro do presídio...
O outro, dia após dia, usava uma colher para cavar um túnel. Sempre fazendo o mesmo trabalho repetitivo. Meses, anos a fio. Dia após dia. Sem saber se era um domingo ou uma quarta. Cava, cava, cava, cava...
Qual dos dois consegue fugir do presídio? Qual dos dois tem um objetivo? Qual dos dois conseguirá alcançar seu objetivo e, depois, terá mais perspectivas para novos objetivos?
A rotina não é uma prisão. A rotina não é ruim. O tédio é só um sentimento que nos mostra que TEMOS FOCO. É a vozinha dentro das nossas cabeças dizendo que nós poderíamos ter escolhido "sair pegando geral", mas escolhemos ficar com uma pessoa. A voz dizendo que nós poderíamos estar gastando nosso dinheiro em um monte de coisas, mas nós escolhemos poupar para comprar AQUELA COISA que estávamos querendo. A voz que diz que nós temos desejos maiores do que passeios com amigos que virarão as costas pra gente, quando eles próprios encontrarem seus objetivos e entrarem nas suas rotinas.
Eu? Eu acho que ser muito criativo é uma prisão maior do que ser constante.
As pessoas passam a esperar coisas criativas de você o tempo inteiro. Ideias fantásticas. Lugares novos para conhecer. Pensamentos únicos. E, convenhamos, ninguém consegue ser criativo 100% do tempo.
Eu prefiro as tardes de domingo preguiçosas. Aquelas com muito Domingão do Faustão. Eu realmente me sinto bem com a previsibilidade. Com pessoas que eu sei que posso contar hoje, amanhã, semana que vem e todo o sempre. Eu prefiro me cercar de pessoas "pau ferro", que não vão se dobrar por qualquer ventinho nem quebrar a palavra dada a mim. Eu prefiro gente confiável. Gente chata e tediosa, que eu possa prever os hábitos e ações com facilidade.
Eu prefiro poucos e bons amigos, do que muitos amigos em quem eu não possa confiar.
Na verdade, eu tenho medo de quem não consegue suportar um pouco de tédio. Eu tenho evitado esse tipo de pessoa. São pessoas que eu sei que não vão suportar ficar ao meu lado, quando eu precisar de ajuda para atingir algum objetivo. Sem falar que são pessoas que terão apenas objetivos rasos na vida, os quais eu não vou querer perder o meu tempo ajudando... Não serão parceiros de verdade no caminho.
O fato é que só existe caminho quando você define um destino. E o caminho será uma rotina, sim. E você pode escolher entre gostar do seu caminho, encontrando pequenas coisas que te motivem todos os dias, ou odiar o teu caminho, reclamando dele o tempo inteiro.
O certo é que todo caminho terá alegrias e tristezas. Não adianta ficar imaginando que "eu seria mais feliz na minha outra escolha". A vida de casado e a vida de solteiro tem coisas boas e ruins. Trabalhar para uma multinacional ou na praia vendendo coco tem coisas boas e ruins.
Só não dá para não escolher os seus objetivos. Só não dá para não aceitar a rotina que vai te levar até o teu destino. Só não dá para ficar patinando na mesma fase da vida até a velhice.
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