domingo, 1 de maio de 2011

Jornada Extra de Trabalho é Eficiente?

Por séculos, a humanidade foi refém do sol. A falta de tecnologia eficiente para uma iluminação pública noturna fez com que adotássemos hábitos quase que exclusivamente diurnos. Evidentemente que haviam trabalhos indispensáveis à vida que precisam ser operados durante a noite. Mas a oferta esmagadoramente predominante de ofícios se davam durante o dia.

Assim, as pessoas laboravam do raiar do sol até o poente.

Nos meses de verão, creio eu que isto represente até 15 horas úteis, diárias.
No inverno, creio que caia para até 10 horas diárias.

Levando em consideração o desconto do tempo das atividades humanas fisiológicas (comer, urinar, evacuar, etc...) e agregadas ao ofício (locomoção, preparação, etc...), creio que a jornada de trabalho, na antiguidade, não representasse mais que 8 horas diárias, em média. Talvez se trabalhasse um pouco mais no verão, e um pouco menos no inverno.

Porém, chegou a revolução industrial. Metalismo, Capitalismo, etc...
A ganância levou os humanos a desenvolverem cada vez mais tecnologias para que os lucros aumentassem cada vez mais. A iluminação pública foi aperfeiçoada, o relógio foi desenvolvido e popularizado até, enfim, passarmos a dispor - sempre - de pelo menos 16 horas diárias.

A exploração do trabalho sobre o ser humano começou violenta: sem nenhuma legislação ou senso-comum que protegesse o trabalhador, este se via forçado a muito esforço, por pouco rendimento. Uma balança que nem pode-se dizer se estava quebrada ou funcional, pois simplesmente não existia.

Graças à muitos abusos, revoltas, sangue e pressões, a classe trabalhadora conseguiu várias vitórias e, hoje, na maioria dos países, há leis trabalhistas que pré-definem a relação entre o empregador e o empregado.

Porém, em países corruptíveis (como o Brasil) as leis já são falhas em sua concepção. Passando pelo problema de governantes patrocinados por empregadores, as leis sofrem mais abusos ainda. E não há candidato populista que faça algo que preste: ainda hoje vemos a ganância sobrepujando o senso comum, o bom senso e - até mesmo - lógica científica comprovada.

Quero repartir, a partir de agora, os trabalhos em trabalhos físicos, trabalhos sociais e trabalhos mentais.
Quando falo em trabalhos físicos, me refiro àqueles cuja força, destreza e vigor são as bases.
Ex: Pedreiro, Carpinteiro, Marceneiro, Cortar Árvores, Lidar com Gado, Estivador, Esportes, etc...
Quando falo em trabalhos sociais, me refiro àqueles cuja empatia, carisma e aparência são as bases.
Ex: Modelos, Atores, Radialistas, Vendedores, etc...
Quando falo em trabalhos mentais, me refiro àqueles cuja inteligência, raciocínio e percepção são as bases.
Ex: Engenharias,  Informática, Matemática, Estudos, etc...

Claro que nenhum ofício é exclusivamente físico, social ou mental, mas todos têm uma preponderância.

Dito isto, gostaria de enfocar na eficiência da "máquina homem" durante o exercício do trabalho.
Em trabalhos físicos não há muito o que falar: jornadas extras de trabalho levam à fadiga, esgotamento, danos severos ao corpo e até à morte...
Já os trabalhos sociais não possuem demanda para jornadas gigantescas. Uma jornada excessiva de um mesmo trabalhador geralmente é seguida por um período de descanso maior.
Agora, os trabalhos mentais é que quero discorrer...

Trabalhos que demandam concetração, percepção, raciocínio, lógica, inteligência e criatividade, hoje, têm seus períodos de descanso ignorados.
Não é porquê uma pessoa passe quase 9 horas por dia sentada, na frente de um computador, que ela não se canse. O trabalho intelectual, inclusive, chega a ser mais stressante e cansativo que muitos outros trabalhos.
Isso porquê demanda uma concentração ímpar na atividade: Um programa de computação não nasce de uma atividade repetitiva mas, sim, de horas raciocinando todas as demandas, possibilidades e necessidades que o sistema deve atender. Essas horas pensando exclusivamente em uma única coisa geram, sim, uma exaustão mental.

Não quero desmerecer os outros tipos de trabalho. Mas quando acaba a jornada do pedreiro, ele vai para a casa descansar seu corpo. Sua mente, no entanto, está limitada apenas à fadiga corporal.
E nem vou falar de apresentadores de mídia, modelos, atores, vendedores, etc... Acabou o dia na loja, o vendedor vai para casa e ponto. Acabou o desfile, dinheiro na conta e modelo de férias. Acabou o programa, descanso até a próxima gravação. Só...
Agora, um escritor, um programador, um engenheiro/arquiteto... Quando saí do ofício, é muito complicado o ofício não sair dele! O problema, por estar o dia todo na sua cabeça, continua em sua mente...

Posso até citar experiências próprias:
1 - Já descobri solução para problemas em sistemas durante o banho (e anotei o código no vapor do box...);
2 - Já descobri solução enquanto dormia. Acordei, liguei o PC e fui trabalhar nela...

Agora, isso é Saudável?
Não!
A atividade final de uma pessoa não é o seu trabalho. O trabalho é um meio para a satisfação e plenitude da vida da pessoa.
Afinal de contas, já são 2/3 do dia útil de uma pessoa investidos em trabalho. Não é justo que o resto do tempo seja tomado - sem que tenhamos controle.

Agora, isso é Rentável?
Também não.
Não para o funcionário, que acaba trabalhando em horas que não está sendo sequer pago para isso;
Tão pouco para o patrão, que esgota e fadiga sua mão de obra, gerando produtos intelectuais abaixo do potencial de cada um.

Então, vêm a brilhante ideia: Vamos fazer hora-extra ou trabalhar no sábado?
Nossa!
Então, depois de 44 horas trabalhadas durante a semana, somadas às horas de raciocínio fora da empresa, ainda temos mais tempo tomado do descanso para... trabalhar!
Ao não descansar nossa mente, as tarefas passam a tomar mais e mais tempo, os resultados passam a ser mais fracos... e a necessidade de mais horas para resolver os problemas que não foram resolvidos por cansaço, passam a ser supridas com mais horas-extras, tomadas de mais horas de descanso.

Pronto: Bola-de-Neve feita, rolando ribanceira a baixo.

Pensar também cansa. E cansa muito.
Trabalho a dois anos só pensando e digo: Dois dias, apenas, já são pouco para descansar de tanta lógica.
Além de não ser saudável, não é rentável.

E, no final de tudo, nos esforçamos trabalhando para ganhar dinheiro que sequer podemos usufruir decentemente: Ao utilizarmos nossas noites e sábados para "vestir a camisa" (ou seria uma "bola nas costas", ein?), acabamos por ter só os domingos (onde tudo está fechado) para podermos fazer algo diferente...

Complicadíssimo...

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