33 anos.
Esse tempo todo foi o que demorou para eu notar uma coisa interessante sobre a minha pessoa.
Pouquíssimas são as pessoas com quem eu falo no presente.
Explico.
Isso é algo que sempre aconteceu. Desde que eu me entendo por gente isso aconteceu. Mas só agora, nos meus 33 anos, eu notei.
Sabe quando você conversa com uma pessoa e ela fica só respondendo monossílabos para ti? "hum" "Sim". "ahn-ahn". "Certo" "Entendo"...
Você desfia toda uma lógica para a pessoa. Passa por uma argumentação infalível. Dá exemplos indestrutíveis. E conclui em uma apoteose de explodir o cérebro com a nova ideia.
E a outra pessoa, do outro lado da conversa, com cara de paisagem.
.
.
.
Dias.
.
.
.
Semanas.
.
.
.
Meses.
.
.
.
Anos.
.
.
.
Muito tempo depois essa outra pessoa aparece do nada. Você já está pensando em outras coisas. Seus interesses evoluíram. Você estudou mais e até abandonou alguns pontos de vista que - antes muito convincentes - se provaram errados. E essa outra pessoa - que outrora tinha te entregue uma cara de paisagem - diz pra ti algo como: "pensei naquilo que tu disse naquela tarde de outono de 1996 e..."
Então.
Certeza que tu já passou por isso, também.
Estou escrevendo isso, aqui, porque eu tô notando esse padrão com absolutamente TODO MUNDO com quem eu converso.
Talvez meu pensamento seja rápido demais.
Talvez eu note coisas que as outras pessoas não notam.
Talvez as pessoas estejam com a cabeça em outras coisas e acabem não enxergando.
Sei lá.
O FATO é que eu tenho falado somente com o FUTURO das outras pessoas.
Quando eu converso com outra pessoa, eu nunca estou conversando com aquele amontoado de matéria orgânica que está na minha frente no exato momento que eu estou falando.
Inclusive em muitos desses meus textos...
SEMPRE. Mas absolutamente SEMPRE eu falo com o FUTURO da pessoa que está a minha frente.
Eu ficava frustrado por não ter resposta inteligentes. Por sempre encontrar resistência às minhas ideias. Por nunca ninguém pegar o fio da meada do que estou falando e me ajudar a desenvolver a linha de raciocínio.
É uma forma esquisita de solidão.
Então eu notei que as pessoas voltam. De alguma forma o que eu digo não passa inócuo. Muito pelo contrário, as pessoas retém o que eu digo. Talvez porque o que eu falo seja impactante demais. Talvez minha forma meio metódica e organizada de expor os meus pensamentos. Talvez as ideias que eu passe sejam tão fortes, que atordoam as pessoas.
Demora até que a pessoa consiga sair do seu mundo particular.
Demora até que a pessoa consiga colocar na sua mente todos os elementos que eu trouxe para sustentar a minha ideia.
E demora para que a pessoa note com comprovações reais e exemplos próprios o que eu estava tentando passar.
Mas uma hora... Ah! Uma hora as pessoas pensam no que eu digo.
E essa é uma forma interessante de não se sentir sozinho.
Veja que maluquice: talvez nesse exato momento eu esteja na cabeça de alguma pessoa com quem eu nem lembro que conversei!
Demora mas as pessoas voltam.
"Tu tava certo quando me disse que vida de festas não tem propósito e enjoa."
"Tu tava certo quando me disse que o cálculo de atendimento deve ser feito pelo momento de pico, não pela média."
"Tu tava certo quando me disse que economia não é da área de humanas."
"Tu tava certo quando falou do Complexo de Princesa."
E tantas outras histórias que, olha...
Meu desafio atual são dois.
Porque você me conhece, né amigo?
Não adianta mostrar o problema. Preciso propor uma solução.
1 - Exercitar a minha paciência com as pessoas.
Antes eu me desesperava. Ficava chateado. "Porque as pessoas resistem tanto ao que eu falo?" "Porque as pessoas não acham interessante o que eu falo?"
Hoje eu tô ligado. Quando eu falo, eu planto um pequeno vírus na cabeça das pessoas. Precisa do tempo de incubação. Precisa do tempo para infectar de verdade. E, quando a "doença" se manifestar, o processo está completo.
2 - Aprender a falar com as pessoas no presente.
Sei lá. Preciso estudar uma forma mais eficiente de disseminar meus pensamentos. Jogar uma ideia e aguardar muito tempo para que a outra pessoa entenda... para só então prosseguir uma conversa (que já pode estar ultrapassada até esse momento) não é algo que produza bons resultados.
Quem sabe uma hora eu encontre um método para me comunicar com as pessoas à minha volta?
Bem.
Até lá, vamos escrevendo.
Muito.
O que tá escrito fica registrado e as pessoas no futuro sempre podem revisitar a ideia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário