segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Caçadores de Obras-Primas

Então. Fui lá assistir ao filme Caçadores de Obras-Primas.

A primeira coisa que eu vou deixar clara para vocês é que este é um filme brilhante... para quem souber vê-lo.

Desculpem falar isso logo no início. Mas até mesmo eu, um entusiasta da segunda guerra mundial, que estudei e já sabia da existência dos "The Monument Men" e que estava ansioso para rever Bill Murray nas telonas, fiquei decepcionado.


O filme não é uma comédia. Não vá esperando dar boas risadas. Há umas três piadas no filme inteiro. E as referências das piadas são MUITO difíceis de entender. Fiquei eu rindo sozinho no cinema, feito um bobo, de novo.

O filme não é bem roteirizado, não conta com recursos milionários para efeitos especiais dramáticos e, definitivamente, peca até mesmo na recontextualização. Para finalizar, os momentos mais importantes para a história do filme foram... suprimidos!

Eu lembro de uma conversa que eu tive na internet, em um fórum sobre a segunda guerra, com um senhor entusiasta, também. Diz ele que um filme sobre a segunda guerra que não tenha pelo menos duas horas de duração é apenas um romance ambientado na Europa da década de quarenta.

E infelizmente é isso que Caçadores de Obras-Primas é. Um filme barato, cheio de boas intenções, mas com um planejamento fraco e uma execução sustentada apenas pelos excelentes nomes que a compõem.

A partir do próximo parágrafo vou falar abertamente sobre o filme. Se você quiser assistir ao filme, pare por aqui. Mas eu já vou adiantando que tanto faz. Você pode ler tudo o que eu escrever aqui, que o filme não terá muita diferença para você, não.


Bem, vamos começar dizendo que o argumento do filme é muito válido. Aliás, é o que nos leva ao cinema. Como avisa a propaganda do filme, ele é baseado em fatos reais: realmente houve um "The Monument Men". Só que essa companhia era composta por mais de 50 membros. Essa companhia possuía homens e mulheres, especialistas na mais diversas áreas de arte. Essa companhia tinha, sim, um treinamento especial para suas missões. E essa companhia tinha, sim, o poder de determinar aonde os demais pelotões poderiam bombardear ou não. E sim, os demais respeitavam as decisões dos "The Monument Men".

Do outro lado, sim, Hitler ordenou que peças de arte fossem roubadas. Existia, sim, o plano de um museu nazista gigantesco. E o Protocolo Nero também era verdadeiro: Se Hitler morresse, seus soldados deveriam destruir diversas coisas. Pontes, fábricas, prédios, documentos... E obras de arte.

Eu relevei as adaptações a estes pontos reais justamente por ter notado que seria impossível colocarem tantos pontos importantes e reais em uma hora e cinquenta e oito minutos (pô gente... mais dois minutos e dava para levar o filme a sério...). Reduziram toda uma unidade a sete homens. Sete. Mas tudo bem...

Toda a justificativa do filme se encontra em um discurso que o personagem de George Cloney faz para os demais, e que era a justificativa real: Você pode matar pessoas. Haverá dor, mas as que ficarem repovoarão. Mas se você destruir os marcos da cultura dessas pessoas... O registro da história desse povo se perde. As pessoas ficam sem identidade. E não importa quantas gerações sejam colocadas no mundo, elas estarão órfãs de passado.

Mais ou menos o que eu vivo falando aqui para vocês sobre contribuir para o conhecimento humano. Já existem discussões muito antigas, documentadas. Você só precisa lê-las, compreendê-las e tentar contribuir com mais um tijolinho nessa construção.

Enfim.

O roteiro é fraco. Os recursos cenográficos mais ainda. O filme se vale de tomadas próximas e de cenas escuras para poder ser pobre em detalhes. E a trilha sonora... Nossa.. Embora você saia do cinema assoviando a marchinha da segunda guerra, eu tenho certeza que eles poderiam ter feito um trabalho melhor.

O filme começa com o óbvio: o "recrutamento" dos sete caçadores.

Na sequência, mostra os agentes de Hitler tomando obras, carregando elas em caminhões, trens e sumindo na madrugada.

Então, os caçadores de obras-primas chegam na Europa. Pedem ajuda às companhias por onde passam. E ninguém lhes dá ajuda. Eles estão por conta própria.

O grupo se divide para procurar por pistas. Mas isso não fica claro no filme. A cena do "menino franco-atirador" é... completamente desnecessária para o filme!
Aliás, o filme é recheado de cenas sem pé nem cabeça... 

Então, quando não há pistas, a assessora do museu já disse que não ia ajudar e o filme está muito monótono (teve gente que foi embora nessa hora), um dos caçadores vai até uma igreja e morre (de modo IMBECIL) para tentar proteger uma obra de Davi de ser roubada por nazistas.
O filme vira um drama bobo. Os seis restantes prometem recuperar a escultura para o amigo morto.

Passa-se mais um tempo de filme, com cenas desnecessárias. Conversas tolas. 

Então, mais um dos caçadores morre. E morre porque ele pediu para parar uma viagem para ver um CAVALO NO PASTO! O infeliz para no meio de um campo aonde estava para ser efetuada uma emboscada. Leva um tiro nas costas e agoniza até a noite. RIDÍCULO. 

Enfim.

Em uma virada surpreendente e NÃO MOSTRADA no filme, um dos Caçadores encontra um mapa com um soldado nazista preso. Esse soldado tinha um mapa mágico, com cidades marcadas. Um soldadinho de merda que estava ajudando os caçadores nota que as cidades possuem minas. E eles têm a inacreditável percepção de que as obras podem estar nessas minas! E olha só! Elas estão lá!

Então os caçadores encontram e devolvem as obras de arte da primeira mina. E isso faz com que a assessora passe a ajudar o caçador que estava em Paris, tentando obter informações dela. Ela tinha medo que os Estados Unidos roubassem as obras de arte da Europa... O que é ilógico é ela preferir deixar na mão dos nazistas... que iriam destruí-las!

A assessora dá um caderninho mágico, com as localizações de TODAS as obras que não estão nas minas. Sério... Duvido que o apartamento dessa assessora não tivesse sido revistado de cima a baixo antes... Mas tudo bem.

Os caçadores encontram todas as peças e a estátua de Davi é a última peça que eles encontram, em uma área que seria da Rússia, após a divisão da Alemanha. A "emoção" do final do filme é você torcer para os caçadores tirarem a obra antes dos russos chegarem. Pfff....

O filme acaba com os generais perguntando ao Cloney se recuperar obras de arte valeram a pena a morte de dois homens. Se alguém lembraria dos dois, depois de trinta anos.
E trinta anos depois o personagem do Murray leva um neto (?) até a igreja para ver a obra de Davi.

Fim. Acaba aqui. Musiquinha de marcha de guerra. Você sai assobiando ela do cinema.

O tema MERECIA um roteiro melhor. Menos confuso. Mais tempo, mais recursos. Não precisava daquele drama todo.

Se vale a pena? Vale sim. Se você for assistir sabendo da história e com paciência para encarar as duas horas de filme. Senão, não vá.

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