quinta-feira, 29 de maio de 2014

Objetificação da Mulher: Incoerência Feminina

A língua inglesa tem uma expressão para "coisas muito fáceis" que eu gosto muito: "atirar em peixes em um barril".
Desde que eu voltei a escrever eu me propus a falar o óbvio. E ontem duas notícias caíram à feição para o meu blog. Mais uma das eternas contradições (que são muito claras para mim e, acredito, para muita gente, também) desse país foi esfregada nas nossas caras.

Antes de entrar no assunto em si, aqui vai a ressalva sempre necessária: Existe a luta legítima das minorias. Por muito tempo, muitas minorias foram oprimidas. Opressão religiosa, econômica, de raça, de sexo, de sexualidade... Pouco a pouco as sociedades foram se abrindo e oferecendo direitos aos desassistidos. Escravos foram libertados. Mulheres conquistaram seu espaço na sociedade. Hoje casais homossexuais já são tratados com normalidade pela maioria da população.

Um mulato e feminista, provavelmente
homossexual e burro,
para ilustrar esse texto.
O problema, ao meu ver, é quando a minoria já conquistou toda a igualdade que exigia legitimamente no início de sua luta... e passa a exigir direitos especiais. Estão aí as cotas em faculdades para negros e as delegacias da mulher para não me deixarem mentir.

Mas o pior que uma minoria pode fazer, ao meu ver, é reservar-se o direito a certas atitudes... enquanto exige que os demais não as tratem dessa forma. Complicado né? Eu dou um bom exemplo: Nos Estados Unidos negros utilizam a palavra "NIGGER" para chamar um ao outro. É o nosso comum "Negão". Só que nos Estados Unidos, apenas os negros podem falar "NIGGER". Brancos têm medo de falar "NIGGER", até mesmo para amigos próximos, negros. Medo de estarem desrespeitando. Medo de serem processados... E os próprios negros não admitem que os brancos utilizem essa palavra. (Se você for branco, nem sonhe em dizer essa palavra em público!) Mas, como eu já indiquei, entre os negros eles próprios falam "NIGGER" mais do que respiram.

Ok. Nesse caso é só uma palavra. Foda-se essa palavra, eu consigo passar uma vida sem usar ela. (Mas o primeiro negro que me chamar de "alemão" vai levar processo, sim senhor.)

Ontem, pouco antes do meio dia, levei essa notícia do EGO da globo.com no meio das paletas: "Atuais e ex-'Marias Chuteiras' ensinam como conquistar os gados da copa".

Reservem uma cadeira na
Academia Brasileira de Letras!
Revistas femininas "adolescentes" estampam manchetes como essa quase toda semana. "Como conquistar o seu gato", "como chamar a atenção daquele gatinho", etc... Mas o teor das matérias sempre foram próximos da ingenuidade. "Sejam boas meninas", "cuidem da sua saúde", "cuidem da sua imagem", "sejam educadas", etc...
Agora... você leu a matéria, ali? Amigo, enquanto a matéria está ensinando às mulheres como CAÇAREM boleiros, as entrevistadas dão dicas de como serem verdadeiras mulheres-objeto! "Cuide do cabelo", "cuide da unha", "tenha assunto mas não fale demais", "seja atuante em redes sociais para chamar a atenção", "tenha um corpão", "malhe", etc...!
Tem uma menina que diz com todas as palavras que é para as meninas "empinarem as bundas e irem" à caça!

Bem, em um país aonde as mulheres levam a sério a marcha das vadias, esse tipo de pensamento não é tão incomum. 

O problema desse pensamento é quando essas meninas - assumidamente "marias-chuteiras" ou "vadias" - não permitem que as demais pessoas observem que elas são "marias-chuteiras" ou "vadias".

Eu simplesmente não entendo. Eu sei que sou um chato. Eu sei que sou um nerd. É só a verdade. Nua e crua. Se alguém chegar na minha cara e disser "Arthur tu é um chato", eu dou parabéns pela ~inacreditável~ percepção desse cidadão e sigo minha vida. Vou fazer o que? Dar chilique porque alguém me chamou de algo que eu sei que sou?
Entenda: Não há como alguém me OFENDER ao me chamar de algo que eu SOU.

Todo termo só é pejorativo enquanto o ofendido se incomoda com o xingamento. Mas quando o próprio ofendido assume, aceita e incorpora o termo, o teor pejorativo deixa de existir.
Aconteceu com a torcida do Inter. Por muito tempo, a torcida do Grêmio chamou os torcedores colorados de "Macacos", dada a abertura do Internacional para jogadores negros e por ser um clube do povo, com muitos torcedores negros. A resposta colorada foi um tapa com luvas de pelica: O termo pejorativo e racista foi aceito, assumido e incorporado ao Internacional. Meu clube, hoje, tem dois mascotes: o Saci e o Macaco. Ambos mascotes enchem a torcida colorada de orgulho. Tanto que a torcida gremista não consegue mais usar o termo "Macaco" para ofender nenhum colorado.

Mas bem... Com as feministas esse pensamento simples parece não funcionar. Porque ontem, no final da tarde, outra notícia me tomou de assalto e desferiu mais umas três bofetadas na cara: A OLX terá que tirar o termo "Ordinária" do comercial com o Cumpadi Washington.

NENHUMA mídia deve ser censurada ou tolhida.
Nem pelos sonhos ditatoriais-comunistas do PT,
Nem pelos devaneios de minorias que caçam bruxas melhor
que a igreja católica.
Cerca de 50 pessoas (a maioria mulheres) denunciaram a propaganda em questão para o CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação da Propaganda). Segundo as queixas, o termo "Ordinária" é ofensivo à mulher. 

A reclamação é tão descabida que, se você notar bem, a palavra "ordinária" nem é pronunciada completamente. O rádio/Cumpadi é tão chato e inconveniente que o marido "defende" a mulher vendendo o rádio antes mesmo que ele incomode a esposa... O comercial deixa claro que é um equipamento que tem que ir embora rapidamente (agilidade que o serviço do site de vendas propõe).

Mas... isso é a minha visão. De alguém normal. As feministas só conseguiram ver ali uma ofensa gratuita, feita para todas as mulheres do mundo. Algo nojento, que precisa ser extirpado o quanto antes do mundo! Como assim UM HOMEM pode dizer que uma mulher é "ordinária"?
Uma MULHER falando que é "vadia" ou "maria-chuteira", tudo bem! Agora, um HOMEM falar a mesma coisa? É violência! Só pode! "Achei ofensivo, APAGA!"

Ok. Eu não vou me refestelar nessa incoerência. O óbvio já está aqui, registrado.

Meninas feministas, entendam: Se vocês estão lutando por IGUALDADE, significa que o que vocês puderem usar, nós também poderemos. Agora, se vocês querem reservar direitos para o uso próprio, enquanto proíbem as mesmas práticas para os outros... bem... Isso aí é luta por SUPERIORIDADE.

Parabéns! Vocês estão transformando o Feminismo em um novo Machismo, manchando toda a luta digna que suas bisavós, avós e mães travaram.

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