sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

As Verdades do Universo [1]

2-2-2007

A verdade do universo - por Arthur Tavares

A vida possui muitos enigmas. Todos eles estão fraturados e milhões de pedacinhos. E cada pedacinho de cada enigma é intercambiável com os outros pedacinhos dos outros enigmas. Estão tão intrinsecamente ligados que muitas vezes temos excelentes respostas, mas as utilizamos para as perguntas erradas, criando a impressão de que não conquistamos uma verdade, e sim mais uma pista falsa. Mas, de maneira geral, para nossa sorte, a história não mente. Os fatos, quando analisados sem a influencia de emoções, pontos de vista, interesses e má vontade, são tão claros quanto um dia de sol.

Nesse momento encontra-se a primeira verdade do universo. Imutável. Somos todos animais. No alto de nossa estupidez, auto-confiança, em nossos belos automóveis, em nossas casas confortáveis, de qualquer jeito, de qualquer forma, em qualquer momento, somos animais. Ignorantes da maior parte das coisas que acontecem à nossa volta. Mergulhados em problemas pessoais insignificantes e insolúveis. Perdidos no meio da mesquinhez. Lutando para nos diferenciarmos, para sermos aceitos no grande grupo. Criando situações para sempre estarmos bem, sem nos importarmos com quem está ao nosso lado. Brigando a todo momento para esconder e satisfazer nossos instintos. Querendo viver mais que todos a nossa volta. Precisando ter mais do que realmente precisamos para viver. Querendo demonstrar poder para o outro sexo, com o intúito de nos multiplicarmos cada vez mais. Às vezes acho que a China está certa mesmo. Está se tornando cada vez mais imprescindível que tenhamos um controle sobre a natalidade. Vou até mais longe. De todas as sociedades existentes na natureza, a nossa é, talvez, a mais inferior. Ver como se comportam baleias, golfinhos, lobos, manadas de ruminantes, outros primatas e os suricato, me deixam com uma vergonha tremenda da nossa espécie. Aliás, nem precisamos falar de mamíferos. Nas aves, como o pinguim, nos répteis, como os crocodilos, nos peixes, como as piranhas ou os tubarões martelo... as sociedades funcionam de uma maneira tão perfeita, tão sincronizada... Podemos chegar ao cúmulo de exemplificar com insetos e termos a conclusão óbvia: se somos tão inteligentes assim, porque não copiamos o que já dá certo a milhões de anos?

Aliás, esse é o segunda verdade de universo. A nossa espécie não é inteligente. Quando muito, alguns de nós somos conscientes. Muitos, criativos. Mas inteligentes? Raríssimos. É a maior bobagem do mundo estender o conceito de inteligencia como pertinente a todos na espécie. Muito pelo contrário. Somos burros, estúpidos, imbecis. Muitos já erraram o mesmo erro que você está prestes a cometer de novo e, mesmo assim, você acha que está tentando uma coisa absolutamente nova. Einstein falou que a maior prova de insanidade era tentar obter resultados diferentes com os mesmos procedimentos. Temos, do alto de nossa incapacidade de raciocínio, a confiança de que somos originais. Que somos únicos, que somos o supra-sumo do potencial humano. E, logo em seguida, sentamos na frente de uma televisão, jornal, computador, rádio, etc, e absorvemos tudo pelo ponto de vista dos outros. Os veículos de mídia estão cada vez mais nivelando por baixo as pessoas, com seus exímios atores, artistas, jornalistas e editores. Não impressiona que, desde que se propagou a televisão pelo mundo, nunca mais surgiram "Albert Einsteins" ou "Isaac Newtons". Em nossa ânsia de fazer nosso nome se sobrepujar ao dos outros conceituamos que o acúmulo de riquezas é o maior divisor de pessoas bem sucedidas e mal sucedidas. Paramos de correr atrás das explicações, das chaves para entrarmos em novas áreas de conhecimento para passarmos ao nível de meros usuários das novidades do passado. Os mais oportunistas Modificam, atualizam, mesclam ou separam o conhecimento já existente e forçam a entrada dos seus nomes em algum livro, revista ou anuário. Como principal consequência, faz anos que nada realmente novo acontece. Os meios de mídia estão para nós assim como a igreja católica esteve para a Europa na idade média. Desta vez, o dinheiro é nosso Deus maior. O sucesso é sua genitora e os louros representam seus filhos, que morrem e ressuscitam a cada ciclo. Nossos artistas - assim como os da idade média - só podem fazer o que os interesses comerciais mandam. Não existem mais filmes, músicas, poemas ou qualquer outra forma de expressão que não atenda a um público-alvo definido, que não precise investir em publicidade, que não tenha um produtor ou um relações públicas. Nossos templos de "cultura" são visitados hoje como as catedrais recebiam romeiros a centenas de anos atrás.

Nesse momento a gente chega a terceira verdade do universo. Nós não evoluímos com o passar do tempo. Sua inteligência é a mesmo de nero, que pôs fogo em uma capital inteira, na tentativa de evitar um golpe de Estado. Você tem a mesma capacidade mental dos povos que sacrificavam suas crianças para que os Deuses cessassem secas, pragas, doenças, etc, etc... Desde que começamos a explorar o mundo, aprendemos a deixar nosso meio quase sempre da mesma maneira. A sua casa, no sul do Brasil, é praticamente igual a casa de alguém que nunca saiu do Japão, de algum membro tribal da África ou das Américas. Você tem mais em comum com os esquimós do que imagina - ou gostaria. Estamos tão estagnados em nossa espécie, com nosso jeito de viver que, fazem pelo menos 5 mil anos, acreditamos que algum Deus criou todo o universo mas, egocentricamente, ele volta toda sua atenção para o corte no dedo que você teve anos atras. Estamos tão despreparados para qualquer evento que mude nosso planeta que, hoje, o maior temor dos cientistas é que o Himalaia não pare de crescer. Sabe porque? Porque, caso o Himalaia continue crescendo, as monções na índia reduzirão drasticamente. As monções, quando alcançam o índico, aquecem a água do oceano, iniciando a grande corrente oceânica do golfo - que impede que a Europa e América do norte congelem e que o Saara floresça. Essa modificações climáticas acabarão com as maiores potencias mundiais. Pois saiba: Nosso maior problema não é falta de comida, água potável ou o aquecimento global. O mundo não acabará por calor, inundações ou qualquer coisa catastroficamente parecida. Nosso mundo acabará entrando em mais uma era glacial. Os mares retrocederão. Terras a muito submersas - como a lendária Atlântida - reemergirão. E esse é o problema de não evoluir. Temos um medo irracional do novo. Temos pavor de passarmos trabalho. Temos aversão a desbravar, lutar por uma nova situação. E isso se aplica a nossa vida também. Temos medo de sair da nossa posição cômoda. Estudamos pouco, conseguimos um emprego que pague uma quantia razoável e paramos de procurar novas possibilidades. Vivemos nossa vida estudando, trabalhando, esperando por um casamento, uma casa, móveis, eletrônicos, diversão, filhos, futuro pros filhos, netos, viagens, aposentadoria e a morte para sermos felizes. Lutamos para saber o que haverá depois da morte para nos prepararmos para a futura vida. Estamos sempre vivendo o amanhã e o ontem, nos esquecendo que o ontem já passou e o amanhã nunca se sabe... Queremos que tudo seja previsível e chato. Que o mundo e o universo correspondam as nossas expectativas. Que tudo esteja sempre certo, sincronizado, "que os trens cheguem sempre na hora". Vivemos tentando organizar o caos, mas o caos sempre reclama o seu espaço. Afinal, sempre existirão os engarrafamentos, doenças, prêmios na loteria, acidentes, mortes, queda da bolsa, falências e ascensões, sorte e azar inesperados. Só que, quando temos a rotina estabilizada, os ganhos certos, tudo no eixo, entramos em crise também - criando uma das maiores contradições do ser humano. Acabamos procurando por aventuras, por coisas que nos deem emoção novamente. Estupidamente, nunca estamos realmente felizes com o que temos.

Temos, então, a quarta verdade do universo. Você pode ter a ilusão de controle sobre qualquer coisa ou situação, mas, na verdade, você é só uma peça do todo. Pense no maior número possível. Exagere. Bilhões, trilhoes? Tetralhões? Pentalhões? Preferiu criar sua própria designação de número? "Trocentalhões"? Pois bem, esse número é apenas uma pequena parte da mensuração exata de estrelas no universo. Agora, pense que cada estrela pode ter centenas de astros em sua volta, cada um tendo seu próprio meio, podendo criar sua própria gama de vida... Não é o suficiente? Pois bem. Você só pode encostar nas coisas a sua volta porque seus átomos vibram na mesma frequência do objeto em questão. Nós só enxergamos as frequências que nossos olhos podem captar, só ouvimos a frequência que nossos ouvidos captam... E as frequências a que somos sensíveis são apenas uma pequena faixa em todo o espectro infinito possível. Além disso, é bom lembrar que cada pessoa no mundo o vê de uma forma única. Cada um tem sua própria gama de conhecimento, de elações no cérebro que fazem sua personalidade moldar um novo mundo. Portanto, sem sair da terra, pode-se afirmar que existem, hoje, seis bilhões de planetas terras, cada qual a distância de duas pessoas em um trem superlotado. Toda essa máquina faz com que sejamos meras peças, meros números de seguridade social, meros funcionários que apertam um único parafuso a vida toda, como Chaplin em "Tempos modernos". Viver na ilusão de que somos o centro do mundo talvez seja a única coisa que nos salve da insanidade.

Pra ti ver que merda...

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