terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Direito de Errar

Temos o direito de errar, enquanto humanos. É princípio básico de boa convivência. É direito inalienável, para que a vida tenha vasão e qualidade. É garantia de que, ao não julgarmos os outros, não seremos julgados.

Então, chega o capitalismo, nos transformando em máquinas.

Nossa produtividade é medida, avaliada e transformada em metas. Metas irreais cumpridas, não são mais do que obrigação. Metas não cumpridas significam olho da rua e flagelo para buscar outro afazer.

O tempo não é mais nosso. A ida ao banheiro é monitorada, o deslocamento cronometrado e até a pausa para o cigarrinho já foi extirpada, por força de publicidade contra!

Enfim.

Hoje, houve um acidente em uma empresa, cliente da empresa para qual eu trabalho.

A Marfrig é uma grande empresa, frigorífero e curtume.

No reabastecimento de produtos químicos, para tratamento de couro, produtos foram misturados, acidentalmente. Como resultado, um gás tóxico se espalhou por toda a área (que, por sorte, é afastada de residências). Durante a tarde, notícias chegaram seguidamente. Notícias boas, de conhecidos que conseguiram se salvar e notícias ruins, dos conhecidos que não tiveram a mesma sorte.

Muito embora eu não conhecesse, pessoalmente, ninguém na empresa, estou triste. Meus sinceros sentimentos a todos os colaboradores, amigos e familiares, atingidos direta ou indiretamente.

Em todas as empresas que passei, sempre que estou trabalhando no sistema, vejo quantidades, valores e outros dados, sempre imaginando as pessoas que ralam para construí-los.

Insisto que algo no capitalismo está errado. As pessoas têm o direito de errar, sim. E, para que não errem e aumentem a produtividade, o nosso sistema impõe exigências que humanos não suportam. Exigências, essas, que só se justificam enquanto o funcionário está descansado. Como a própria meta geralmente exaure as forças do funcionário, não são incomuns os erros.

Erros tolos, como o do caixa que dá o troco a mais.
Erros como o do médico ou enfermeiro, que esquece uma gaze dentro do operado.
Erros como o do policial que, estressado, reage de modo errado à uma situação.

Erros hipotéticos, como o de quem pode ter recepcionado o caminhão de produtos químicos e apontado o local errado para depósito.
Ou o hipotético erro do entregador, que não viu onde estava descarregando o produto químico.

Somos falíveis. E a pressão para que não erremos não colabora em nada para que sejamos perfeitos.

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