Cultura é cultura. E cultura é legal porque todas as suas manifestações atendem a uma gama gigantesca de públicos. Desde a cultura idiotizante de massa, passando pelas culturas emotivas e passionais, até chegar na cultura reflexiva.
Há defensores de todos os tipos de cultura. Quem aqui não lembra da moça que defendeu tese de que "Funk é cultura"? Quando a obra mexe com as "entranhas" da pessoa, há quem ache que é a melhor cultura. Cultura tribal. Aquela do tambor retumbando no peito. Da pintura explícita revoltando o estômago. Das palavras de alguma poesia que excitam o leitor. Da peça de teatro que leva à gargalhada aberta ou ao choro incontrolável.
Do outro lado, há os defensores da cultura reflexiva. Este que vos escreve, por exemplo. Não há catarse promovida por cultura tribal que supere o prazer de unir duas ideias aparentemente não correlatas, proporcionado pela cultura reflexiva. A experiência é tão fascinante que nós, os que notamos esse fenômeno, sequer consideramos as obras idiotizantes como sendo "cultura".
Essa introdução serve para embasar minha afirmação de que existem filmes bons e filmes ruins. Claro que, "dando o passo atrás", todo filme contribui para o grande cenário cultural. Mas existem filmes que nada agregam. E existem os filmes que te fazem ficar em estado de choque, dada a quantidade de conceitos e referências que ele despeja na sua cabeça.
Quem aqui não questionou a realidade depois de ver Matrix?
Então, esse é o ponto.

Quantos de vocês entenderam "Os Outros" ou "O Clube da Luta" antes dos filmes entregarem a solução dos seus enredos?
Ao publicar cultura reflexiva, os consumidores passam a ter que pensar mais para compreenderem os filmes. Treinam suas mentes para ficarem mais inteligentes. Até o ponto de estarem, eles próprios, gerando cultura mais reflexiva.
Nosso cinema é um exemplo magnífico. Nossa "produção cinematográfica" era composta apenas de pornochanchadas e poucos outros títulos realmente aproveitáveis, pouco tempo atrás. Nossa população, composta de caipiras gerados a partir da miscigenação da escória da Europa com escravos e índios, não tinha capacidade mental para absorver uma cultura mais inteligente do que uma história banal com momentos de nudez e sexo. Então, os grandes filmes de Hoolywood passaram a invadir a nossa seção da tarde. E, aos poucos, esses filmes trouxeram um pouquinho mais de nível ao nosso pensamento. Gradativamente, passamos a esperar e procurar um pouco mais de conteúdo na cultura que nos apresentavam. E, com isso, passamos a pensar melhor nossa própria cultura. Passando por "Central do Brasil" e "Carandiru", chegamos a "O Auto da Compadecida", "Meu Tio Matou um Cara" e outros... Até produzirmos nosso próprio BlockBuster: os dois filmes de Tropa de Elite.
Se você está acompanhando, notou que eu já diferenciei a cultura idiotizante da cultura que eleva o pensamento. E já notou que produzir cultura que instiga o pensamento faz com que o pensamento médio da população suba.
Pessoas aprendem com a cultura. É um modo empírico de ensinar algo que sabemos. De passarmos todos os argumentos para que o espectador conclua algo que nós concluímos. É ensinar a pensar, ao invés de expor a ideia pronta.
Matrix fala do mito da caverna, de Platão. Você já havia notado isso? Agora que eu citei, você vai procurar o mito da caverna para relembrar ou para saber do que se trata? E, depois, vai rever o filme para notar as referências?
Bem, escrevi tudo isso até agora para falar do filme "Sim Senhor". Não lembro se já falei dele, antes. Mas eu tenho feito releituras deste filme. Cruzando com eventos na minha vida. Trabalhando os conceitos expostos pelo autor. Mastigando, deglutindo, digerindo e absorvendo a obra.
Que filme magnífico.
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O tema central do filme poderia ser resumido na frase "Até qual filosofia de auto-ajuda uma pessoa em depressão pode chegar?".
Acho que ficou claro que Carl estava deprimido. Isso foi tão esfregado na nossa cara nos minutos iniciais, que pessoas deprimidas imediatamente se identificam e pessoas sadias chegam a ter raiva de Carl.
E vamos combinar: o que mais há no mundo são pessoas em depressão. Em "O Clube da Luta", Tyler discursa que nossa geração está perdida porque não temos pelo quê morrer. Nós não temos algo que nos une contra um inimigo em comum. Somos seres sociais sem um objetivo social em comum. Nossa qualidade de vida é a melhor da história. Nosso acesso a abrigo, tratamentos de doenças, água potável e alimentos nunca foi tão amplo, na história da humanidade. Nós estamos rumando para uma paz profunda e estável. Uma paz para a qual nós não estamos preparados. Ao obtermos as coisas facilmente, perdemos o sentido de luta. De planejamento. De superação. De confrontar situações de risco.
Nós não temos pelo que morrer, então o consumismo invade nossas vidas para nos dar alguma meta. Mas a brincadeira do consumismo é fácil demais... Ou difícil demais. Uma faixa minúscula pode ter o que quiser, a qualquer momento, tornando o próprio consumismo algo sem sentido. Uma faixa um pouco maior pode se esforçar, trabalhar, ganhar dinheiro e planejar seu consumo vazio, tirando algum prazer no jogo de adquirir pequenos milagres. E uma parcela gigantesca da população simplesmente não vê perspectivas de entrar no consumismo e passa a tomar à força aquilo que não precisa, dos outros que querem e podem ter.
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Você não sabe, mas os relacionamentos não eram tão valorizados há pouco tempo atrás, quanto são hoje em dia. Antes, as pessoas se casavam por conveniência. Casavam para ter filhos, unir famílias, por falta de opção na mesma classe social, etc... Havia pelo que se morrer. Depois da escassez de motivos para se viver, muitas pessoas passaram a viver para morrer por seus maridos e mulheres. A vida em casal passou a dar sentido para as vidas das pessoas. "Trabalho para sustentar minha família", "Vivo para cuidar do meu marido/esposa que cuida de mim", "Vivemos para criar nossos filhos", etc...
Mas, se você olhar o Carl, faz dois anos que ele está deprimido pelo final do seu relacionamento.
E a depressão é ruim porque é recursiva. O final do relacionamento remove todos os planos da pessoa, que entra em depressão, que gera isolamento, que gera falta de contato, que gera solidão, que gera mais depressão.
Então, o Carl encontra um amigo distante, acidentalmente. Por favor, não critique o enredo. Isso acontece todos os dias com todos nós. O que não costuma acontecer é o amigo notar a depressão e fazer algo.
Aí entra o "Yes Man".
Esse programa de auto-ajuda é uma sátira. É claro que é uma péssima ideia sair dizendo sim para qualquer coisa que aparecer pela sua frente. Não faça isso, por favor. Pese cada decisão isoladamente.
MAS...
Por mais que seja um escracho de comediantes, o programa "Yes Man" é interessante. É interessante porque nos deixa claro que TER ATITUDES POSITIVAS OU NEGATIVAS É UMA DECISÃO CONSCIENTE.
O "Sim" e o "Não" estão à mesma distância de pensamento e de pronúncia, de cada um de nós. São igualmente fáceis de dizer. Em português, ambos têm o mesmo número de letras e de sílabas, inclusive.
A diferença entre a atitude positiva e a atitude negativa, é que NA ATITUDE POSITIVA, AS COISAS ACONTECEM.
Exemplo?
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No ano passado eu cheguei a terminar o relacionamento. A distância física e emocional DENTRO do relacionamento me afetou demais. Só que, FORA do relacionamento foi pior. Cinco anos na época. Não é fácil assim para alguém sensível abandonar uma história dessas.
Humilhei-me, supliquei e voltamos.
Agora, há dois meses, foi a vez dela dar o basta. Quase como um sombra, passou a sair com amigos e a se dedicar mais para o mundo e para suas próprias coisas, do que para nós dois. Apenas oficializou a distância que já nos envolvia.
Distância provocada pela falta de capacidade dela em falar comigo. Incapaz de abrir a boca e manter uma conversa sobre um tema qualquer, a ATITUDE NEGATIVA dela assassinou o nosso relacionamento.
"Quer ir jantar fora?"
"Não."
"Quer ir passear?"
"Não."
"Quer ir ao cinema?"
"Não."
"Quer ir na festa?"
"Não."
Com o tempo, tal qual o Carl, o "Não" tomou conta das nossas vidas até matar todo o entusiasmo juvenil que tínhamos.
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Ninguém gosta dos primeiros dias de academia, de corrida ou de qualquer atividade física. Não adianta, é um saco. Ficar repetindo movimentos em aparelhos com muito peso NÃO É LEGAL no início. Temos que nos forçar a fazer aquilo, para obtermos o resultado esperado. Força de vontade.
Ninguém gosta de fazer dietas de emagrecimento. Nossos corpos não se sentem bem com restrições calóricas. Não adianta. Mas temos que exercitar a força de vontade para nos mantermos no programa.
Ninguém gosta de ter que acordar cedo para ir trabalhar. Ninguém, não seja hipócrita. Ir trabalhar é legal, mas cumprir horário é um saco e demanda muita força de vontade. (Por mim, acordaria na hora que meu corpo quisesse, comeria algo e encararia as oito horas de trabalho, só com um intervalinho de meia hora, no máximo.)
Por isso que a POSITIVIDADE do programa "Yes Man" é interessante. Inclinar-se para os "Sim's" da vida abrem portas. É interessante observar com atenção todas as decisões que tomamos durante os dias. Desde aquelas decisões impostas e declaradas, até as decisões veladas que tomamos conosco mesmo.
Poxa, olhe para dentro de si próprio. Veja quantas coisas você decide sozinho, sem nem pensar na pergunta. Assim como a minha ex-namorada decidia por NÃO falar comigo, por NÃO me contar o que se passava em sua cabeça, por NÃO se esforçar em manter um diálogo, por NÃO sair comigo e por NÃO trabalhar nosso relacionamento, muitos de nós estamos dizendo NÃO para vida, nos auto-sabotando e nem notamos!
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Ao nos inclinarmos para o "SIM", passamos a abrir nossas vidas às oportunidades que aparecem. E, amigo, a vida é feita de oportunidades. Oportunidades que você nem sabe que existem, mas que podem dar o sentido que a sua vida tanto precisa. Uma pessoa especial pode estar escondida ali atrás do "SIM" que você anda evitando há tempos. E essa pessoa especial pode ser você mesmo!
Porque, enquanto vamos dizendo "SIM" para as oportunidades que nos são oferecidas, nós mesmos vamos nos mudando.
"Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original."
- Albert Einstein.
O "SIM" nos dá mais contato com coisas novas. O "SIM" no permite vivenciar coisas que estão fora da nossa visão. O "SIM" nos deixa margem para novos "SIM'S".
Aliás, o próprio filme mostra isso. Carl segue o programa à risca e coisas boas passam a acontecer com ele. E ele aproveita essa onde de coisas boas. A figura dele se transforma de um deprimente deprimido (hehe) para alguém jovial, divertido, misterioso e interessante! A mudança é tão drástica que a própria EX DO CARL volta a se interessar por ele!

Poderia ser melhor. Eu sou uma espécie de Dom Quixote moderno, que luto sempre pela realização do ideal Platônico. Só a perfeição me interessa e, por mim, minha "Dulcinéia" leria esse texto, entenderia tudo o que deve entender, deixaria de bobagens, arregaçaria as mangas e passaria a viver comigo de forma completa. Tudo ficaria bem e, eu voltaria a ter pelo que morrer e esse Universo continuaria girando.
Mas, já que o meu sonho se mostra cor de rosa demais para a realidade implacável, resta-me guardar o luto de todo esse Universo que deixou de existir por causa dos "NÃO'S" dela. Resta-me ficar atento à todas as decisões que se apresentarem para mim, estando pronto para forçar-me a entregar os meus "SIM'S" a cada uma delas.
É difícil esse processo de ser arremessado de um Universo em colapso para um limbo e, a partir desse limbo escuro, frio e sem horizontes, encontrar um outro Universo para chamar de "lar".
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