Mais um texto que complementa tantos outros que eu já escrevi, por aqui.
Porque eu falo coisas que, para mim, são óbvias. Mas eu - assim como qualquer mortal - nem sempre percebo que, para os outros, o que é obvio para mim passa como um mistério insolúvel.
Exemplos?
Sempre disse que a educação é o problema do Brasil. Faz pouco tempo que escrevi um texto dizendo EXATAMENTE qual é o problema e como solucioná-lo.
Sempre disse que os políticos roubam. Mas faz pouco tempo que eu escrevi um texto dizendo EXATAMENTE como eles metem a mão no nosso bolso e como podemos nos proteger deles.
Seguidamente eu digo nos meus textos que odeio quem "milita em causa própria". Mas eu vou citando casos aqui e ali, sem explicar na totalidade o problema.
Mesmo porque muitos de vocês sequer compreendem que isso é um problema. Alguns, inclusive, devem achar uma coisa boa e até natural.
Já escutei como contra-argumento que ninguém consegue se envolver com todos os problemas do mundo. Por isso, é natural que as pessoas só se envolvam com as causas que as tocam. Doenças, males da vida em sociedade, criminalidade, drogas, estupros, etc... É normal que a pessoa só volte sua atenção para um problema quando a desgraça bate à porta.
Alguns de nós aceitam a mazela, feito carneiros prontos para o abate. E, por causa dessas pragas passivas, os "militantes em causa própria" são desculpados pela sociedade: "pelo menos eles estão fazendo alguma coisa para resolver o problema!", dizem por aí...
Então, passeatas, ONG's, leis e todo escambau de idiotices são criadas. E, é claro, devido ao movimento gerado, a mídia chove para divulgar.
Vamos ver se eu consigo explicar para vocês o problema nisso tudo.
Você sabe porque existem os advogados?
Tipo, de verdade, você sabe porque VOCÊ não pode falar diretamente com um juiz? Porque se faz necessário que haja um representante entre você e a pessoa que decidirá a questão em que VOCÊ está envolvido?
Não, não é corporativismo. Não se trata de "estudos", de capacitação ou de experiência. Fosse por qualquer um desses motivos, os próprios advogados poderiam se auto-representar perante a lei. E não é o que acontece.
A principal justificativa para a existência de advogados é o distanciamento emocional do caso.
Claro, o advogado se envolve com a questão do seu cliente, enquanto o caso se estende. Mas, como os fatos não aconteceram com o advogado, ele consegue visualizar os acontecimentos com frieza. E essa frieza é fundamental para que se consiga encontrar o melhor caminho e a melhor solução para as contendas que precisaram ser postas perante um juiz.
Distanciamento. Não-envolvimento emocional. Frieza.
Com a cabeça no lugar, o advogado consegue utilizar, provar e sustentar argumentos sólidos. E, amigo, só desavisados acreditam que uma discussão pode ser ganha com um "porque sim" ou com um "porque não".
Tendo isso tudo em vista, pense por um instante na validade do "argumento": "Porque EU VIVI essa situação!"
É, né?
É EXATAMENTE por isso que pagamos pessoas para serem prefeitos das nossas cidades, governadores dos nossos estados e presidente do nosso país. Deve haver alguém responsável por atender aos pedidos. Medir, imparcialmente, o que deve ou não ser feito. Buscar A MELHOR SOLUÇÃO. Sabe aquela solução perene? Que resolverá a situação por gerações a fio? Não qualquer fucking paliativo babaca, que apenas abafe o problema provisoriamente.
O ser humano é uma máquina química de extremo refinamento e complexabilidade. E essa nossa química gera reações em nível de impulso elétrico cerebral, a todo momento. São sensações que "vêm do nada". Essas sensações são transformadas em pensamentos através do nosso complexo sistema de símbolos. Imagens e palavras são formadas no nosso cérebro instantaneamente, a partir de um simples toque. Essas imagens não são "frias" como as de um computador podem ser. Um simples toque pode disparar milhões de pensamentos, conscientes ou não. E o problema maior reside nos "pensamentos NÃO conscientes". O que costumamos chamar de "emoções".
As emoções criam fatores que as fazem preponderar sobre os demais pensamentos. E, via de regra, os fatores das emoções não são os mais importantes para serem levados em conta. E, justamente por não sere conscientes, nem sempre sabemos o porquê estamos agindo dessa ou daquela forma. E os "argumentos" "porque sim" ou "porque não" aparecem.
Agora, pense nisso tudo incluído no contexto da difícil arte de enfrentar o dia-a-dia. Onde o inevitável confronto de interesses acontece a cada segundo. Seja por uma vaga no estacionamento, por um som alto no vizinho ou nas difíceis "decisões de Salomão".
Em um mundo ideal (o meu), as pessoas saberiam separar a razão da emoção o tempo inteiro. Eu faço isso. Foi difícil aprender a fazer isso. Demorou muito tempo, aliás. Mas é extremamente recompensador, garanto. Você nota quando e como você está errado. Passa a fazer as coisas preventivamente, para não errar logo ali depois da curva. Você nem entra em contendas, justamente por viver de uma forma correta. E, quando entra em alguma discussão, geralmente sai ganhando. E de forma fácil.
Emoções atrapalham o pensamento. Fazem com que as nossas decisões nem sempre sejam as mais acertadas.
Imagine, então, o que acontece quando uma pessoa movida por emoção entra em uma discussão. É, não é preciso se esforçar muito para alcançar o quadro geral. Gritos, agressões, argumentos rasos e, é claro, as decisões mais imbecis que o ser humano pode tomar.
E o orgulho humano consegue eternizar qualquer decisão tomada "de cabeça quente". Sim, um dos maiores alteradores de comportamento do ser humano é o seu próprio orgulho. Mentimos e defendemos causas que não acreditamos de cabeça quente. Depois, por puro orgulho, fazemos o impossível para mantermos essa posição adquirida do modo mais estúpido.
E, por último, te desafio a dar o último passo. Imagine quando a discussão atinge duas ou mais pessoas com alto comprometimento emocional.
É o inferno DO INFERNO, materializado aqui na terra. Satã tem medo da criatura que se apossa dessas pessoas, durante as suas discussões.
E, insisto na máquina química (é importante não esquecermos disso): se até as coisas mais simples interferem na capacidade de pensamento racional, o que dizer dos grandes traumas que acontecem nas vidas de todos nós?
Se há pessoas que chegam às vias de fato por causa de um desentendimento no trânsito, o que podemos esperar do raciocínio lógico de pessoas que passaram (elas próprias ou pessoas próximas) por um trauma?
Bem, aqui no Brasil (talvez no mundo todo) nós costumamos apoiar as causas dos "traumatizados pró-ativos". Ou, como eu gosto de chamá-los, dos "militantes em causa própria".
Amigo, entenda: eu sou solidário com o seu problema. Aliás com o problema de qualquer um que venha se queixar para mim. Se uma situação incomoda o suficiente para que alguém se queixe, é porque precisa do mínimo de atenção.
Mas VOCÊ, definitivamente, não é a pessoa mais indicada para resolver o problema social que TE atingiu.
Quando algum "traumatizado motivado pró-ativo" se mete a resolver o problema social que o atingiu, geralmente ele acaba criando mais problemas do que resolvendo. E faz isso na inocência, muitas vezes sem notar que superestima o problema. Passa o dia remoendo a porcaria da causa, gerando milhares de argumentos "cale a boca você", para convencer a todos.
Entenda: Existem problemas, é vital que todos sejam resolvidos e é preciso que alguém faça alguma coisa, sim.
Mas o SEU problema não é maior ou menor do que o qualquer outra pessoa.
TODOS os problemas devem ser resolvidos, sem distinção ou prioridade.
E não é alguém envolvido emocionalmente (como você) que vai conseguir encontrar a melhor saída.
E isso, claro, que eu estou começando no nível mais banal e trivial do "militante em causa própria". É bom lembrar que não existe só o "traumatizado motivado", no Brasil. Nosso país criou (ou foi criado) pelo zé-povinho "exXxperto". Aquele brasileiro típico, que "quer se dar bem em tudo". O brasileiro-típico não precisa nem estar traumatizado... É só o bolso ser favorecido que ele vende a alma para qualquer pobre diabo que cruzar o seu caminho. Imagina militar em causa própria...
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