quinta-feira, 19 de julho de 2012

Leitura e Produção Textual


No meu primeiro semestre da faculdade de Sistemas de Informação, cursei a cadeira de “Leitura e Produção Textual”.

Eu lembro que, na época, eu fiquei irado. “Como assim um universitário tem que ter aulas de português?” 
Achava que era uma forma idiota de completar a grade curricular, aumentando o curso em um semestre, pelo menos. O que, obviamente, faria a universidade ganhar mais dinheiro.
Aliás, sendo bem sincero, a matéria foi fácil. Português básico, mesmo. Leitura, interpretação de texto. Coisa simples.

Mas... Sempre o tal do “mas”, né?

Depois de alguns anos de olhos vendados sobre o tema, já no dia-a-dia do trabalho, eu notei o porquê desta cadeira na faculdade. Não só notei como concordo e defendo a sua inclusão e permanência nos currículos.

Já viu essa notícia?

A língua portuguesa, amigo, não é fácil. E ela não é fácil porque é uma das mais completas que existe. Evidente que o caráter de plenitude de regras faz da língua portuguesa uma ferramenta complicada. Complexa.

As línguas ditas “práticas” geralmente possuem conjugações verbais toscas. As palavras sem acentuação fazem com que você deva ouvir alguém pronunciá-las, antes de saber como se deve falá-las, corretamente. Línguas práticas são mais fáceis de aprender. Quando muitas partes do mundo “falam” uma mesma língua, ela se regionaliza demais, criando diversos dialetos, que se transformam em novas línguas. Cada língua parecida demais com as outras, mas diferente em suas nuances. Diferenças, estas, que só fazem as confusões serem maiores, complicando a comunicação.

Todos esses problemas são derivados de regras fracas ou inexistentes. Assim, cada um acha que pode inventar sua própria regra, diferindo o protocolo de conversação, até que dois povos, antes “com a mesma língua”, não consigam mais se entender.

Com uma língua que possui regras mais rígidas, isso acontece menos. Muito menos. Nosso português contempla até mesmo as chamadas gírias! Aqui no Rio Grande do Sul temos algumas palavras que já não existem em Santa Catarina. Quiçá no Nordeste. Muito menos em Portugal ou Angola. Sabemos, como regra rígida e chata do entediante português, o que é gíria e o que é formal. Sabemos as construções gramaticais padrões, que devemos utilizar com outros povos.

Conseguimos nos comunicar com muito mais precisão. Nossos acentos fazem com que pronunciemos qualquer palavra com perfeição, sem nunca termos a escutado.

Só que, para termos acesso a esta ferramenta poderosa, precisamos dominar as regras. E, convenhamos, são raríssimos – e preciosos – os professores de português que sabem, realmente, transmitir esse conhecimento para os alunos. E isso desde a pré-escola.

Quer um bom exemplo? A vírgula! Eu ainda descubro quem foi o “ananá manco” que proclamou a bobagem que “vírgula significa pausa para respiração”. No mínimo foi algum jornalista ~jênio~ que passou a utilizar as vírgulas como indicação de onde o seu âncora deveria respirar, durante a leitura dos “tele-prompts”.

A título de curiosidade, vírgulas servem para dividir ideias dentro de frases. Sim, as frases podem encadear ideias. Em um mundo confinado em 140 caracteres, pode parecer estúpido falar isso, amigo. Mas, antigamente, tínhamos a liberdade de não só encadear ideias dentro de uma mesma frase, como a de criar apostos dentro da frase, prática que eu gosto muito, colocando pequenos comentários pertinentes que complementam o sentido da frase.

Voltando à minha cadeira na faculdade, hoje acho seu conteúdo imprescindível. Aliás, deveria ser passado bem antes. Já lá no primário, talvez. Umas das formas mais didáticas que eu conheço de ensinar algo é mostrar, desde o início, onde o conhecimento é utilizado. Quando você sabe o objetivo desde o princípio, fica mais fácil saber onde cada conhecimento repassado se encaixa no plano geral. Fica mais fácil ter uma mente crítica sobre o todo. Fica mais fácil desenvolver novos métodos de utilização. Conseguimos evoluir a ferramenta com mais consciência.

E para que serve o português? Pura e simplesmente para nos comunicarmos, amigo! A humanidade desenvolve há milênios diversos debates e conversas. Ou você acha, mesmo, que é a primeira pessoa no mundo que fala sobre qualquer assunto?

Para entrar na discussão global sobre todos os assuntos do mundo e dar sua contribuição, você deve dominar um protocolo de comunicação. Primeiramente, deve saber interpretar o que os outros já disseram. Mesmo porque você não quer ficar repetindo o que os outros já disseram, não é? Não seria mais interessante se inteirar do que já foi dito e passar a pensar sua posição a partir da última conclusão? Então, portanto, você deve saber ler. Depois de saber ler, deve saber escrever. E escrever é muito mais complicado do que ler. Aí, entra manipular o protocolo para transmitir exatamente o que você quer dizer.
Sem vergonha alguma, digo que só fui compreender a função do português na faculdade. E isso me custou alguns anos de incompreensão e desmotivação para aprender a nossa língua.

Vendo a forma como o povo usa nosso lindo protocolo, só consigo achar que a maioria da população também não nota sua função. Aliás, como só notam a função do inglês – cujo domínio abre as portas para um “emprego melhor” – o brasileiro acaba sendo um povo que adora um protocolo estrangeiro, enquanto sucateia seu próprio protocolo. O irônico é que o domínio do português, aqui no Brasil, abre muito mais portas do que o domínio de qualquer outra língua. E quase ninguém nota isso.

Mas... Como explicar que um português melhor dá mais dinheiro, para quem só está preocupado com as vinte e quatro prestações do carnê das Casas Bahia ou com o certificado que possui na parede?


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