sábado, 21 de abril de 2012

Culto ao Topo do Pódio

Nós cultuamos o primeiro lugar. Quem quer que seja, que atinja o primeiro lugar, nós amamos.

Mas, vamos deixar uma coisa clara: nós gostamos, mesmo, de quem ESTÁ no primeiro lugar. Quem mantém-se ali, impávido, imponente e soberano. Quem vence o tempo inteiro. Desta pessoa, neste momento de glória, nós gostamos.

O segundo lugar? O segundo lugar é lixo. É relegado ao passado.

Ayrton Senna cunhou a célebre frase:


Há muitos atletas, em tempos de olimpíadas, que fazem da ida para os jogos, vitórias. Uma medalha conquistada, então? Vão para a TV e dizem que "levar o Brasil ao pódio já é uma vitória". Mas não adianta: Brasileiros só lembram de quem foi medalha de ouro. E, pior: Só lembram na semana da vitória. Passado esse momento de glória, o brasileiro esquece.

Eu gosto de chamar isso de "efeito Guga".

Gustavo Kuerten é um dos maiores tenistas do mundo. Inclusive, ele entrou, recentemente, para o hall da fama do tênis. O cara é bom. Mas não adianta. O Brasil já esqueceu o cara. Não adiantaram mais de 20 títulos importantes na carreira. Todo o suor dele o imortalizou no mundo inteiro. Só aqui, no Brasil, que ele "já era". E, insisto, olha que o Guga foi multi-campeão.

Assim como nosso Futebol de Salão, Futebol de Areia, Judô, Vôlei, Basquete, Natação, Ginástica Olímpica, Iatismo... Poucos são os que notam e fazem perdurar nossos grandes atletas. Nossas conquisatas máximas.

Bem, se condenamos nossos vitoriosos ao esquecimento precoce, o que falar dos que foram muito bons, mas não conquistaram os títulos? Talvez fosse melhor que nós simplesmente esquecêssemos deles, em lugar de fazer milhares de chacotas absurdas.

Falo tudo isso a respeito do primeiro lugar, porque ouvi uma conversa, na rua. Aliás, para manter minha sanidade, quero acreditar que seja, apenas, uma brincadeira.

Na última quinta, o Banco Central reduziu a Selic em 0,75%. Essa redução fez com que o Brasil perdesse o título de país com a maior taxa de juros do mundo, para a Rússia.

Sim, eu escutei exatamente o que você está pensando, agora. Um senhor, de certa idade, disse algo como "não acompanho mais a Selic, agora, não temos mais a maior taxa de juros do mundo."

Não sei mais o que falar a respeito de como se engajar na moda é algo ruim. Como acho absurda a dualidade de quererem "serem únicos e especiais" e, ao mesmo tempo, "serem aceitos e fazerem parte do grupo".

Só sei que, se esse culto ao pódio continuar, vai fazer com que só consigamos prestar a atenção ao holofote mais forte. E isso é um problema, porque o holofote mais forte é só uma das bilhões de luzes que brilham, lá fora, a todo momento. E nem sempre o brilho mais intenso é o melhor.


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