domingo, 1 de abril de 2012

Primeiro de Abril!

Hoje deveria ser o dia da mentira, no Brasil. O dia da pegadinha. O dia de passar os outros para trás.

Hoje - e somente hoje - poderíamos rir da ignorância alheia, ao pregarmos peças uns nos outros.

O problema desse dia é que ele é muito legal. Desde as mentirinhas inocentes das crianças - que talvez sejam as pessoas que mais se divertem, hoje - até complicadas e engenhosas peças que adolescentes e adultos ainda fazem uns com os outros. Esse dia é tão legal para a maioria da população que, passado o tempo, ele acabou se estendendo para o resto do calendário. Para fora das escolas. Para todos os lugares que você possa imaginar.

Eu já tinha visto muitas pessoas, no Facebook, compartilhando uma imagem que trás uma informação interessante:


Legal isso, né? Baita homenagem para todas as mulheres e mães. Sabemos, agora, exatamente o quanto uma mulher sofre, ao dar a luz. Essa escala de dor é fascinante e... PERAÍ! Você já ouviu falar nessa escala de dor? Já viu ela sendo utilizada em algum lugar? No colégio, sua professora de ciências já lhe apresentou essa escala? Já viu alguém citá-la na TV?

É... Meu grande amigo cérebro deixou-se enganar por uns 15 segundos. Como nunca ouvi falar dessa tal "Escala de Dor" e ela me parece importante demais para que eu não tenha conhecimento dela, primeiramente maldisse o sistema educacional, brasileiro.

Bela pegadinha dos nossos políticos. Eles devem estar rindo pelos cotovelos, ao manter o nível da educação tão baixo e ninguém notar. Mal posso esperar pelo dia em que um presidente aparecerá em horário nobre e falará algo como: "Vocês pagam tudo isso de impostos e não recebem nada em troca! Não notaram ainda? Rá Rá! Primeiro de Abril!"

Depois, a curiosidade foi maior. Fui ao pai Google e procurei pela tal "Escala de Dor".
Eis o que encontrei:

Busca acadêmica sobre "Escala de Dor"
http://scholar.google.com.br/scholar?q=Escala+de+Dor&hl=pt-BR&as_sdt=0&as_vis=1&oi=scholart&sa=X&ei=gDt4T9zTCITQgAeoiIyFDw&ved=0CBwQgQMwAA

Mensuração da descrição da dor, pelo site "Saúde em Movimento":
http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=39

Fórum de Dor das Ilhas do Atlântico (seja lá o que isso for):
http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=39

O BlackBook trás uma tabela com todas as tentativas de mensurar a dor (nenhuma delas passa de 10, como dor máxima...):
http://www.blackbook.com.br/download/escalas_de_dor.pdf

Encontrei esse excelente material acadêmico de Portugal, que tenta decifrar a dor do recém-nascido. Há várias citações de escalas de Dor. Novamente, nenhuma passa de 10, como dor máxima.
http://www.actamedicaportuguesa.com/pdf/2010-23/3/437-454.pdf

Por fim, se Portugal é muito longe e você mantém o preconceito bobo de que português é burro, vamos ler o trabalho da Marta Maria Osorio Alves? Ela é de Porto Alegre e estudou na UFRGS:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/10369/000597314.pdf?sequence=1

Bem. Imploro que vocês procurem pela tal "Escala de Dor", cuja unidade de medida é o "del.". Porque eu não fui apto a encontrar algum material sério, acadêmico, citação ou sequer uma segunda brincadeira, que cite tal escala.

Até lá, toda vez que alguém compartilha essa - por enquanto - bobagem, eu dou boas risadas e perco muito do respeito que tenho, pela pessoa. Creio que o idealizador disso também dê boas gargalhadas, ao ver tanta gente caindo nessa mentira...

Rá Rá! Bobo! Primeiro de Abril!

Compartilhando isso, vocês não estão homenageando mulheres e mães. Vocês estão é matando elas de desgosto...



2 comentários:

  1. Arthur, essa escala de dor ( Del.) não existe mesmo. As únicas escalas existentes estão aqui:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Pain_scale
    E a maioria não usa números, pois dor não é algo que possa ser quantificado, e sim qualificado.

    Att, Doutor G

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  2. Arthur, essa escala de dor ( Del.) não existe mesmo. As únicas escalas existentes estão aqui:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Pain_scale
    E a maioria não usa números, pois dor não é algo que possa ser quantificado, e sim qualificado.

    Att, Doutor G

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