sexta-feira, 6 de abril de 2012

Chega de Grades!

Tem um ano, escrevi dois textos.

Um sobre o Massacre na Escola do Realengo.
Outro, muito motivado pelos comentários nesse primeiro texto, sobre a Ineficiência da Polícia.

Nos últimos seis meses, mudei-me e estou morando no centro de Novo Hamburgo. Estou em um apartamento modesto, em um prédio que possui, aparentemente, bom nível.

Mas sabe o que dizem sobre as coisas perfeitas, né? De perto, de perto, nada é normal.
Passado esse tempo, as características e os detalhes do prédio e de seus moradores se mostram. As coisas nunca são como parecem e o dia-a-dia vai matando a ilusão de que em algum lugar ainda possa existir um mundo racional e bom.

Uma vez, assaltantes entraram no prédio. Assaltaram um apartamento. Foi o suficiente para traumatizar pessoas. E pessoas traumatizadas ficam burras. Colocaram dois portões e um alarme eletrônico, na entrada.

Na última semana, algum pobre diabo passou pela frente do prédio, alta madrugada, gritando "pega ladrão". Óbvio que a maioria dos moradores dos apartamentos voltados para a rua abriram as janelas e colocaram suas cabeças para fora, na tentativa de testemunhar o fato. Ou de levar algum tiro. Vai saber o que as pessoas burras pensam...

Eu nem precisei me mexer da cama: Só havia barulho de uma pessoa correndo. E o som da voz dela acompanhava os passos. Além dos passos e do grito, só o som das persianas de PVC abrindo. Alta madrugada, sabe? Aquele momento que todos os barulhos somem? Eu pintei o quadro todo sem precisar sequer ver o que estava acontecendo.

No outro dia, um dos moradores corajosos me confirmou o ocorrido: um jovem estava correndo, sozinho, na rua e gritou ""pega ladrão".

Isso deveria ser a piada. Deveria acabar por aqui. Um texto de como os municípios deveriam ter um local para que pessoas errantes dormissem, comessem, tomassem um banho, efetuassem algum tipo de curso ou trabalho comunitário. Pronto.

Mas a piada não era essa. Na mesma semana, cartazes rústicos foram afixados na entrada do prédio, determinando que os portões deveriam estar sempre chaveados. Tais cartazes sumiram, apareceram e tornaram a sumir. Então, uma "carta" do sindico foi deixada em nossas caixas de correspondência. Nela, o sindico deixava claro que não sabia quem havia retirado por duas vezes os cartazes. Muito mais revoltado com a remoção dos cartazes do que com qualquer possível assalto! Nesta carta, estava a determinação que uma câmera seria instalada na entrada "para nossa segurança".

Ou seja:
1 - Tenho o portão para a rua, que já me tranca.
2 - Tenho a porta do prédio, que já me tranca.
3 - Tenho que digitar uma senha personalizada, que registra hora que eu saio e entro do prédio.
4 - Tenho uma câmera na minha cara, que nem sei quem está monitorando meu acesso ao prédio.

E nenhum - NENHUM - desses itens me protege de um ladrão, que pode me esperar na rua, me fazer deixar ele entrar no prédio e, uma vez aqui, limpar quantos apartamentos ele quiser.

Aliás, hoje eu não confiaria nem em uma rede de proteção mútua, aqui no prédio. Isso porque precisaríamos ligar para a polícia e esperar a ação dessa instituição. A mesma que se escora nas péssimas leis do nosso país para não fazer nada. A mesma que espera por dez denúncias para prender um agressor.

Mas essa mesma polícia, que deveria fazer com que eu não me sentisse um presidiário dentro da minha própria casa, além de não fazer nada para coibir, ainda estimula.

Ontem, saiu uma notícia que me revoltou: A cúpula da Secretaria de Segurança pública de Santa Catarina exonerou Cláudio Monteiro, agora ex Diretor da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (DEIC).


O motivo? Na terça-feira ele deu uma entrevista coletiva, após a prisão de assaltantes de caixas eletrônicos, onde afirmou:


Claro que a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina afirmou, categoricamente, que o motivo é uma sindicância para apurar questões administrativas...

Na boa? Eu quero mais é que TODOS os policiais pensem dessa forma. Aliás, quero mesmo que prendam todos os marginais e bandidos que puderem. Os que não conseguirem prender, que matem, mesmo!

Alô Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul! Tem um bom profissional aí, no mercado! Montem uma oferta irrecusável e tragam o Cláudio para acabar com assaltantes de banco, aqui!

Porque, quando a polícia começar a colocar marginais atrás das grades, eu poderei sair de trás das que me prendem. Talvez, assim, a irracionalidade cesse e, quem sabe, eu não precise viver um Big Brother, toda vez que entro ou saio do prédio onde vivo.

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Edit:

Motivo da exoneração revelado:
http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/2012/04/06/as-causas-da-exoneracao-no-deic/?topo=67,2,18,,,67

Mesmo assim, continuo preferindo o Monteiro do que muito policial, por aí.
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