quarta-feira, 14 de março de 2012

Boicote


Muitos vêm me perguntar porque eu não ataco, diretamente, os problemas que vejo.
Porquê eu estendo tanto minhas palavras, dissertando sobre conceitos.

Primeiramente, eu falo, sim, coisas práticas as serem feitas.

Só que o problema maior nem é fazer algo, na prática.
O maior problema que vejo, em nosso mundo, é o conceitual: As pessoas têm ideias erradas sobre as quais se debruçar, toda vez que aparece alguma decisão para ser tomada.
Essas ideias básicas, passadas de pais para filhos, infectam nossa sociedade como um vírus destrói o corpo humano.

Bem já dizia o K, em MIB 1: "... o pensamento humano é considerado uma doença infecto-contagiosa em muitas galáxias ... "

É aqui que entra a filosofia. A função é simples: gerar bases de pensamento que satisfaçam nossa inquietação, frente a alguma decisão que temos que tomar.
Tornar o abstrato e exclusivo, claro e disponível à todas as pessoas que precisarem.

Isso é filosofia, na prática.

E, para qualquer lado que olhemos, podemos encontrar filosofias.


Três coisas, hoje, me despertaram o desejo de conversar.
Hoje, os professores de Porto Alegre (e RS) começaram três dias de greves, reivindicando melhores salários.
Hoje, 14 de março, é dia do profissional de TI.
Hoje, por volta do meio dia, troquei twitts com a Giane Guerra, apresentadora do Acerto de Contas, Quadro da Rádio Gaúcha a respeito de Economia.

Tudo muito justo. Justíssimo.
Só que... Há muitos problemas a serem comentados... e soluções!

Quero começar falando do dia do profissional de TI. Nós, que trabalhamos criando softwares para atender a demandas de empresas, vivemos um paradigma bem interessante. Nós, profissionais, e nossas capacidades somos, de fato, a matéria-prima para o produto final da empresa.

Não se engane, colega: Energia elétrica, computadores, móveis ergométricos, bom ambiente de trabalho... Tudo isso são só ferramentas. Assim como um martelo precisa do carpinteiro para gerar um móvel, um computador e um bom ambiente de trabalho precisam de um profissional de TI para gerar e sustentar um sistema.
E é isso que os donos das empresas parecem não notar. Eles não notam que o sistema deles é tão bom quanto todas as pessoas que já contribuíram com o software. Desvalorizam profissionais, descartam talentos e, depois, não sabem porque a empresa vai mal.
Os poucos donos que notam essa dependência dos profissionais, logo partem para a parametrização e documentação, torcendo para que essas práticas tornem os profissionais intercambiáveis. pode até melhorar o nível, rapidez na assimilação dos padrões, regras de negócio e detalhes do sistema. Mas nenhum treinamento irá dar ao profissional talento. Capacidade de ser líder. Vontade de correr atrás de mais capacitação, todos os dias.
Não. O que faz com que um profissional cada vez melhor queira crescer mais é remuneração. Quanto mais valorizado o profissional se sente, mais ele pode dar de si.
Com a atual política de salários e forma de tratar os funcionários, a maioria esmagadora das empresas de TI estão gerando multidões de sub-profissionais. Claro, porque quem é bom , de verdade, não está aceitando entrar em uma empresa para ser açoitado todos os dias. Trabalhar em alto nível de lógica, raciocínio e desempenho por mais de 8 horas a fio, para ganhar de R$600,00 a R$1.000,00? Melhor ir ser empacotador, por praticamente o mesmo salário...

Resumindo, só apaixonados ou desesperados aceitam trabalhos mal remunerados.

Boa hora para falar dos professores.
O Brasil é um país muito rico. Arrecadamos em impostos mais e melhor do que qualquer país de primeiro mundo, em proporção. Só que, em contrapartida, todos sabem, somos mal administrados.

Mal administrados em partes. A administração é muito ruim para o povão. Para a massa. Para a classe média, que se fode para pagar impostos. Para a classe pobre, porque, mesmo não pagando impostos, nunca tem dinheiro para nada. Há, ainda, uma zona de "riquinhos" que não são os milionários para quem a política brasileira é feita, mas não são mais os pobretões da classe média. Mas esses "riquinhos", quando vêm uma oportunidade, querem mais é se juntar com os ricaços "lá de cima". Pouco se importam com o pessoal "aqui debaixo". Mas, no fim, a política brasileira é feita para os milionários.


Gente cujas propriedades têm mais extensão do que muitos países, por aí. Gente que cria gado, planta soja,  extrai minério.. e faz mais dinheiro do que o PIB de todos os países da África, juntos. Sim, são os mesmos que, a cada seca ou alagamento, corre para Brasília, para pedir mais linhas de financiamento do BNDES. Que aparecem na TV, com a plantação destruída ao fundo, maltrapilhos, sujos, falando errada, dizendo que "perderam tudo". Ficamos com pena deles, a matéria acaba, eles vestem seus ternos, entram em suas pickups importadas e conseguem mais e mais financiamentos.

Essa fatia da população é rica e burra. Eles têm medo de perder as regalias que possuem. Como têm dinheiro, pagam para eleger políticos que só preservam os seus interesses. Sabe quando falam no jornal da "Bancada do Agro-Negócio" ou "Bancada Rural"? Então. São esses mega-produtores te enrabando em alguma coisa.

Esse povo compra políticos para que eles mantenham a segurança, saúde e educação exatamente como está, hoje, no Brasil. Pouco ou nenhum investimento. Segurança inexistente, saúde precária e educação "para inglês ver".

Desde sempre os salários dos professores são uma merda.

E, como já comentei ali em cima, ou tu é muito apaixonado pelo ofício, ou tu é um desesperado.
O desesperado não quer o trabalho. Precisa é do dinheiro. Ele nem sabe fazer o trabalho, direito. Engana, simula, omite, procrastina e engambela. Só quer saber do salário depositado na conta, até o quinto dia útil do mês seguinte.

Desculpem-me, professores, mas, para cada apaixonado, há uns 9 desesperados.

Para exigir salários melhores, é necessário que os professores sejam melhores. Nossa educação é totalmente obsoleta. Fragmentada. Descontinuada. Céus, um "amigo" professor se vangloria por ser AMIGO dos alunos! Por "mediar" conhecimento! Por "estudar Michel Teló" em sala!

Não me admiro que hajam alunos metendo a mão na cara de professores. Quando os professores se rebaixam ao nível dos alunos, é nisso que dá.

O fato é que os donos da empresa educação (políticos) assumidamente e historicamente não querem valorizar a sua matéria prima. Então, ao invés de termos entusiastas em sala de aula, temos desesperados atrás do vencimento. E estes, ao invés de se qualificarem para exigirem o aumento por real direito, acabam fazendo "grevezinhas".

Coitados dos professores apaixonados. Tenho certeza que estes realmente merecem o aumento que estão reivindicando. E têm cursos sérios em seus currículos. E dão aulas espetaculares.

Mas, no geral, não adianta dizer que nossa matriz curricular é boa. Que nossas escolas formam bons cidadãos e que os professores são dedicados. Porque nada disso é verdade.

Hoje, o Procon de São Paulo interditou por 72hs o funcionamento de três grandes lojas virtuais. Motivo? Desrespeito às leis do consumidor. Produtos entregues fora de data, produtos entregues errados, produtos NÃO entregues... Preços cobrados errados. Falta de segurança nas transações. Demora ou negação para trocar produtos. Negação em resolver casos de defeitos... A lista é longa.

E, mero detalhe, as pessoas muitas vezes nem reclamam, porque não sabem que têm o direito. Sabe como é, não foram ensinados, nas escolas, como o próprio país funciona. Antiga matéria de Organização Social e Política Brasileira. Sabe?
Sim, somos uma multidão de ignorantes, em nosso país. A maioria das pessoas sequer sabe que não pode declarar ignorância das leis, perante um Juiz. Consegue imaginar isso?

Essas mesmas pessoas entraram em salas de aula onde viram as mesmas matérias que seus pais. E, provavelmente, seus filhos estejam vendo o mesmo currículo. Agora. Matéria chata, massante, desconcentrante e que não vai levar ninguém a lugar algum.
Matemática abstrata demais. Passamos 10 anos das nossas vidas fazendo cálculos por fazer, só para passar na prova, passar de ano, passar no vestibular.
Os mesmos 10 anos "aprendendo" nada sobre ciências, sobre artes, sobre educação física... Para nada!
O português talvez seja a língua mais bonita e bem estruturada de todas! Mas, por causa das aulas absurdas, acabamos dando mais valor ao Inglês, língua oriunda de dialetos bárbaros...

Não temos identidade enquanto povo. O que nos une é a seleção brasileira e a música de sucesso, no momento.

Enquanto nós não sabemos nos portar, mega-corporações continuam tirando vantagem da gente.

Fossemos um país de primeiro mundo, ao primeiro sinal de desrespeito por parte de uma empresa, TODOS  NÓS boicotaríamos a empresa.
E, acredite, para um Submarino, Oi, Tim, Vivo, Sky, Net, AESSul, etc... um único dia sem nenhuma venda é um impacto gigantesco.

Só que somos burros. Somos vendidos. Somos desesperados e prostituídos.
Ao primeiro sinal de sucesso, pisamos sobre os nossos iguais.
Não nos damos valor e, depois, exigimos reconhecimento.

Tomara que o Governo Tarso dê o aumento aos professores.
Tomara que os profissionais de TI tenham o que comemorar.
Tomara que os brasileiros aprendam a ser gente...












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