terça-feira, 27 de março de 2012

Warning!


Eu tenho um problema sério com a palavra "Cuidado".
O problema é tão grande que, hoje, quando vou fazer algo e alguém interpela "Cuidado!" perto de mim, largo tudo na hora. Deixo qualquer coisa que esteja fazendo ali, parada, por uma meia hora.
Só quando a maldição - ou a bruxa - do "Cuidado" somem é que retomo minha atividade.


Isso me lembra da vez que perdi - temporariamente, é claro - uns 100 pontos de QI.


Eu estagiava na Secretaria de Educação da prainha. Estava destacado para ajudar em uma escola. Estavam chegando as festas juninas e precisávamos fazer pequenos convites - pintáveis - para que as crianças levassem para casa. Como eu sempre fui rápido: quando todos estavam se perguntando como fazer e quanto custaria, eu já havia pego uma figura para colorir da internet, juntei alguns dizeres em linguagem "Jeca" e coloquei 2 convites por folha A4.

Em menos de meia hora, com gasto de duas resmas de papel e um cartucho de tinta, já tínhamos 2.000 convites! Eba!

Só precisávamos separar as metades, para entregar para as crianças.
Hoje, no alto dos meus quase 30 anos, mandaria os professores ou os próprios alunos cortarem as folhas ao meio. Menos trabalho para mim.
Mas, na época, eu queria - estupidamente - mostrar meu valor de qualquer forma.
Peguei, então, um estilete e uma régua e passei a cortar as duas resmas.


Indicador e dedão esquerdos apoiando a régua, que servia de guia para que a mão direita passasse o estilete em um risco rápido e pesado, cortando de 5 a 15 folhas de cada vez.


Já havia feito muitas vezes isso. Creio que já havia feito o processo mais de dez mil vezes, sem ter errado nenhuma vez antes. Aliás, naquela tarde, eu já havia cortado cerca de 900 páginas ao meio. Estava tudo correndo bem!

Então, alguém (que eu não vou citar aqui, porque, da última vez que a citei o irmão me ameaçou de agressões físicas Oo) chegou perto de mim e proferiu a maldição: "Cuidado com esse estilete, guri...".

Bem, queria eu já saber da maldição do "Cuidado", ali. Ela virou as costas e eu não cheguei a executar mais 10 cortes. Depois de mais de 90% do trabalho pronto, o estilete escapou e acertou a ponta do meu dedão.


Cortou, doeu, fui para o pronto-socorro, desmaiei, fizeram um curativo beeeeeem grande e eu tomei uma anti-tetânica!


Mas o pior ainda não tinha acontecido. "Ganhei" três dias em casa, para recuperar o dedão esquerdo machucado. Mas, nesse tempo, acabei descobrindo que meu dedão esquerdo detém, sozinho, cerca de 100 pontos de QI.

Primeiramente, a dor não deixava eu utilizá-lo. E, na ânsia de evitar a dor, eu notei que não consigo viver sem meu dedão esquerdo. Fazer as coisas mais simples tornava-se uma verdadeira epopeia. Eu simplesmente não conseguia me levantar da cama. Não conseguia abrir portas, usar talheres e desaprendi totalmente como se usa um controle remoto! E olha que eu sou destro!

Nesses dias eu notei o quanto nós usamos a mão menos hábil. Ela é complemento perfeito. Ainda mais para quem tem os movimentos fluídos. Escovar os dentes e usar o banheiro eram trabalhos hercúleos. Tomar banho, nessa época, era impossível. Simplesmente não havia como segurar o sabonete. E, quando conseguia, meu polegar esquerdo insistia em entrar no jato de água, molhando e estragando tudo! Depois da segunda tentativa de tomar banho, desisti. Foram 4 dias até retomar a coragem.


Foram, ao todo, duas semanas até uma recuperação plena. Do segundo ao sétimo dia, me senti um Cro-Magnon. Só que sem usar um tacape ou qualquer outra ferramenta. Porque eu era incapaz.


Quando o curativo de gaze deu lugar a um Band-Aid, já havia recuperado uns 80 pontos de QI. Fazer a maioria das tarefas já era possível.

Que o Pai Odin me guarde, para jamais machucar os polegares, novamente.

Não tenho dicas nem pontos finais para dar às pessoas que machucarem os dedões. O máximo que posso dizer é: Se alguém lhe chamar a atenção, pedindo que cuides o que está fazendo, pare de fazer, na hora. Deixe de lado, até que a maldição se esvaia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário