Quando o dia estava escuro, ela não gostava de sair da cama.
Não porque gostasse muito do sol, ou do calor.
Mas porque, na verdade, o dia cinza, chuvoso, frio e barulhento era o seu preferido. Tão preferido que ela só queria aproveitá-lo. Sozinha.
E ela gostava de estar sozinha. O mundo, lá fora, era uma obrigação. Uma gigantesca obrigação. Uma obrigação grande demais para ser assumida, em um dia tão perfeito e especial, quanto aquele: cinza, chuvoso, frio e barulhento.
Procurou o celular em meio aos lençóis. Sob os travesseiros. Em todo o edredom. "Pléc, pléc, pléc..." "Porra, caiu no chão de novo, caralho!"
"Se caiu para baixo da cama, nem aviso nada!"
Olhou com o canto do olho, ainda protegida pelos tecidos macios da cama. O celular estava à sua mão. Bastava que levantasse um pouco o tronco, girasse e esticasse o braço.
"Não, agora não."
Virou para o lado. A cama, quente, parecia que protegia ela. Ela estava mergulhada em uma banheira quente. Seca, macia, sedosa, cheirosa e quente.
O celular toca. "Maldito despertador..."
Levantou o tronco... FRIOOOOO DA PORRA! "Qué é isso, filha???" - exclama a mãe. - NADAAAAAAAA!
Girou o tronco. Esticou o braço. Não alcançou. Se esticou um pouco mais. A ponta do dedo roçou no aparelho. "Ah Merda!" Um pequeno impulso e conseguiu prendê-lo por entre os dedos.
Encostou na tela. LUZ. MERDA.
Agenda. Marcão. Ligar.
"Alô, Marcão?"
"Alô?"
"Não vou hoje. Tô doente."
"É a quinta vez no mês, não podes mais faltar..."
"É verdade, to doente, não vou!"
"Pelo menos trás um atestado!"
"Não. Vou ficar em casa, quietinha."
"..."
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