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Mas isso é só contextualização. E esse não é um texto político.
Basta saber que eu tinha 18 para 19 anos e ganhava muito mais do que eu imaginava ganhar. Valeu Otávio.
Essas aulas eram itinerantes: Eu ficava um ou dois meses em cada comunidade. Conheci muita gente interessante, nesse tempo.
Uma das mais fascinantes, com certeza, foi a Suzi Mantovani.
Com ela, levei a frente um baita projeto de programa para televisão, que só acabou não se concretizando por míseros R$2.000,00 mensais. Ideia boba de fazer um "reality show de mentirinha". Tipo, pareceria um reality show, teria câmeras, ambiente e sequência de reality show, mas seria um programa gravado, normal. Só que, para dar o ambiente, não poderia haver roteiro: as coisas deveriam fluir no improviso. A ideia seria ter uma equipe fixa de "amigos" que trariam matérias sobre temas diversos, para conversarmos em meu quarto. Assim como todos amigos adolescentes fazem, hoje. A conversa seria ensaiada, mas deveria parecer normal. Falar sobre cultura, esportes, notícias, cotidiano, nerdices, festas, turismo... eventualmente até alguém famoso poderia "me visitar".
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Mas voltemos à Suzi. Ela estava me ajudando a procurar patrocinadores. Como poderíamos falar de qualquer coisa e teríamos um "cenário real", procurávamos por qualquer tipo de parceiro. Quem quisesse colocar sua marca nos intervalos, cenários, merchan direto, menção e até jabá. Qualquer coisa que quisessem nos pagar já estaria automaticamente incluído no roteiro do programa.
Mas o "modus operandi" da Suzi que era sensacional.
Uma das coisas que está na minha memória que mais me faz sorrir quando lembro é de Suzi prospectando pelo telefone.
Ela pegava a lista telefônica e escolhia o número de uma empresa.
Atendente: "Alô?"
Suzi: "Oi querida! Eu to precisando falar com o diretor... com o..."
A: "Com quem?"
S: "Ai! Poxa, o cartão que ele me deu está aqui em algum lugar, o diretor de vocês, que cuida da publicidade da empresa..."
A: "Quem que a senhora quer falar?"
S: "Ah! com o diretor de vocês, que eu encontrei no evento na semana passada, o... o..."
A: "O Sr Carlos?"
S: "Sim! O Carlos! Por favor querida, me deixa falar com o Sr Carlos?"
A: "Um momento..."
Carlos: "Alô?"
Suzy (que, até então NEM SABIA que o Carlos existia): "Cááááááááááááááááááááárrrrlooooosssss! Olá! Tudo bem?? Como é que você está???"
C: "Com quem estou falando?"
S: "Ah! Não acredito que tu não lembra de mim! Eu sou a Suzy! Nos encontramos no evento, mês passado! Tu pediu pra mim te ligar para falarmos melhor! Como é difícil te encontrar no número que tu me deu!"
C (Todo desconcertado por não lembrar): "Ãnh... Sim... Suzy... O que era mesmo que a gente estava conversando, mesmo?"
S: "Ai Carlos, não acredito que tu se esqueceu de mim! Vamos fazer assim, vamos nos encontrar, tu me paga um café e conversamos com mais calma sobre o programa de TV!"
C: "Programa de TV?"
S: "É! Tu me disse que queria participar do projeto a todo custo! Então! To te ligando pra gente acertar os detalhes! Mas vamos fazer isso pessoalmente, é melhor, não acha?"
C: "Acho..."
S: "Ok, amanhã tá bom pra ti? XX:XXhs XXXXX local?"
C: "Sim, tá bom sim..."
S: "Tá ótimo então, Sr Carlos! Até amanhã! Um bom dia para o senhor!"
C: "Até amanhã!"
E, assim, uma reunião era marcada, absolutamente do nada. Pior: em algumas vezes ela dizia que a reunião era para apresentar "aquele rapaz com um grande talento que te falei" - eu...
E ver ela negociando... Parecia uma dança de flamenco. Intensa. Mas que, na primeira oportunidade de atacar uma fraqueza, se transformava em um dramático Tango.
O executivo ficava enredado. Quando menos notávamos, estávamos sendo convidados para festas, eventos, reuniões, visitas, encontros, fechando negócios... Gostaria de ter a experiência que tenho hoje, com a disposição e possibilidades que tinha, naquela época. Fecharia muitos mais negócios do que fechei e teria, sim, conseguido colocar um programa de TV no meu currículo.

Só não fiz porque esse não é o papel que esperam de mim. E eu lembro, quando montei a equipe para o programa de TV, que eu adoraria que cada um fizesse exatamente aquilo que eu havia indicado que seria fundamental para que tudo desse certo.
Mas sentir emoções de épocas passadas dá a impressão de voltarmos no tempo. E isso é tão bom!
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