sexta-feira, 23 de março de 2012

Social

Eram os idos de 2001 / 2002.

Eu dava aulas pelo programa social do Fernando Henrique Cardoso, o Avança Brasil. Já falei, aqui. O FHC tinha um programa social que ensinava e qualificava as pessoas. Vocês votaram no Lula e ele trocou as aulas do Avança Brasil pelo dinheiro direto, do Fome Zero.

Mas isso é só contextualização. E esse não é um texto político.

Basta saber que eu tinha 18 para 19 anos e ganhava muito mais do que eu imaginava ganhar. Valeu Otávio.

Essas aulas eram itinerantes: Eu ficava um ou dois meses em cada comunidade. Conheci muita gente interessante, nesse tempo.

Uma das mais fascinantes, com certeza, foi a Suzi Mantovani.

Com ela, levei a frente um baita projeto de programa para televisão, que só acabou não se concretizando por míseros R$2.000,00 mensais. Ideia boba de fazer um "reality show de mentirinha". Tipo, pareceria um reality show, teria câmeras, ambiente e sequência de reality show, mas seria um programa gravado, normal. Só que, para dar o ambiente, não poderia haver roteiro: as coisas deveriam fluir no improviso. A ideia seria ter uma equipe fixa de "amigos" que trariam matérias sobre temas diversos, para conversarmos em meu quarto. Assim como todos amigos adolescentes fazem, hoje. A conversa seria ensaiada, mas deveria parecer normal. Falar sobre cultura, esportes, notícias, cotidiano, nerdices, festas, turismo... eventualmente até alguém famoso poderia "me visitar".

Resumindo, o programa seria demais. Tipo, em 2001, um "Pretinho Básico" misturado com "Big Brother", só que com roteiro sensato e conteúdo. Legal, né? Ainda vou fazer esse programa ir ao ar, só que não vou ser eu o principal, por motivos óbvios: eu já não passo por adolescente, né? Hehe.

Mas voltemos à Suzi. Ela estava me ajudando a procurar patrocinadores. Como poderíamos falar de qualquer coisa e teríamos um "cenário real", procurávamos por qualquer tipo de parceiro. Quem quisesse colocar sua marca nos intervalos, cenários, merchan direto, menção e até jabá. Qualquer coisa que quisessem nos pagar já estaria automaticamente incluído no roteiro do programa.

Mas o "modus operandi" da Suzi que era sensacional.

Uma das coisas que está na minha memória que mais me faz sorrir quando lembro é de Suzi prospectando pelo telefone.

Ela pegava a lista telefônica e escolhia o número de uma empresa.

Atendente: "Alô?"
Suzi: "Oi querida! Eu to precisando falar com o diretor... com o..."
A: "Com quem?"
S: "Ai! Poxa, o cartão que ele me deu está aqui em algum lugar, o diretor de vocês, que cuida da publicidade da empresa..."
A: "Quem que a senhora quer falar?"
S: "Ah! com o diretor de vocês, que eu encontrei no evento na semana passada, o... o..."
A: "O Sr Carlos?"
S: "Sim! O Carlos! Por favor querida, me deixa falar com o Sr Carlos?"
A: "Um momento..."

Carlos: "Alô?"
Suzy (que, até então NEM SABIA que o Carlos existia): "Cááááááááááááááááááááárrrrlooooosssss! Olá! Tudo bem?? Como é que você está???"
C: "Com quem estou falando?"
S: "Ah! Não acredito que tu não lembra de mim! Eu sou a Suzy! Nos encontramos no evento, mês passado! Tu pediu pra mim te ligar para falarmos melhor! Como é difícil te encontrar no número que tu me deu!"
C (Todo desconcertado por não lembrar): "Ãnh... Sim... Suzy... O que era mesmo que a gente estava conversando, mesmo?"
S: "Ai Carlos, não acredito que tu se esqueceu de mim! Vamos fazer assim, vamos nos encontrar, tu me paga um café e conversamos com mais calma sobre o programa de TV!"
C: "Programa de TV?"
S: "É! Tu me disse que queria participar do projeto a todo custo! Então! To te ligando pra gente acertar os detalhes! Mas vamos fazer isso pessoalmente, é melhor, não acha?"
C: "Acho..."
S: "Ok, amanhã tá bom pra ti? XX:XXhs XXXXX local?"
C: "Sim, tá bom sim..."
S: "Tá ótimo então, Sr Carlos! Até amanhã! Um bom dia para o senhor!"
C: "Até amanhã!"

E, assim, uma reunião era marcada, absolutamente do nada. Pior: em algumas vezes ela dizia que a reunião era para apresentar "aquele rapaz com um grande talento que te falei" - eu...
E ver ela negociando... Parecia uma dança de flamenco. Intensa. Mas que, na primeira oportunidade de atacar uma fraqueza, se transformava em um dramático Tango.
O executivo ficava enredado. Quando menos notávamos, estávamos sendo convidados para festas, eventos, reuniões, visitas, encontros, fechando negócios... Gostaria de ter a experiência que tenho hoje, com a disposição e possibilidades que tinha, naquela época. Fecharia muitos mais negócios do que fechei e teria, sim, conseguido colocar um programa de TV no meu currículo.

Hoje, depois de anos longe desse circuito de prospecção, busca por patrocinadores, clientes, investidores, etc... Fui a uma feira, pela minha empresa. Senti, novamente, a emoção dessa época. Tive vontade de ir de estande em estande de possíveis clientes e fazer tudo o que eu fazia, para conseguir meus patrocinadores.
Só não fiz porque esse não é o papel que esperam de mim. E eu lembro, quando montei a equipe para o programa de TV, que eu adoraria que cada um fizesse exatamente aquilo que eu havia indicado que seria fundamental para que tudo desse certo.

E eu sei que estou fazendo isso pela empresa. Sei que o setor que estou é ideia minha. Outros até podem ter pensado ela, antes. Mas, como eu não tive contato com as ideias dos outros, a ideia que eu tive foi original. Sei que esse setor, quando plenamente em funcionamento, irá destruir os processos errados, eliminar o retrabalho constante e aumentar a qualidade da empresa. Se a empresa já é grande, agora, ficará gigantesca com os processos devidamente mapeados e disseminados.

Mas sentir emoções de épocas passadas dá a impressão de voltarmos no tempo. E isso é tão bom!


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