sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Greve dos Servidores Públicos


Acho que a coisa mais absurda que podemos falar do brasileiro é que somos um povo “do bem”. Quando falamos da característica das pessoas dessa terra, utilizamos adjetivos como “receptivo”, “alegre”, “simpático”, “bem-humorado”, “trabalhador”...
Na verdade, a maior característica do brasileiro não é nenhuma dessas. O que temos para oferecer de sobra é, na verdade, o egoísmo. Brasileiro é um povo completamente egoísta.

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Hoje, quinta-feira, dia 16 de agosto, servidores federais das mais diversas áreas estão em greve. São brasileiros que passaram em concursos públicos e recebem salários de milhares de reais, para efetuar ofícios que, na iniciativa privada, não passariam de algumas centenas de reais.
Mas antes fosse somente o alto salário. Infelizmente, é hábito de muitos destes servidores fazerem o chamado “corpo-mole”. Trabalham estritamente dentro das normas para não serem demitidos. Não movem um mísero músculo a mais do que o que está determinado nas atribuições de seu cargo.
Pró-atividade ou a simples simpatia – sempre citada como marca do nosso povo – não são demonstradas por muitos destes servidores, justamente porque não está escrito em seus manuais de trabalho.

Passa o tempo e esses servidores notam que as pessoas que efetivamente devem cobrar deles... São servidores também! Outras pessoas concursadas, que também não movem um mísero músculo a mais do que o que está em suas próprias atribuições!

Brasileiro é egoísta, lembra? Ninguém dá nada de graça, para ninguém. Nem “bom dia” é dado sem esperar algo em troca..
Assim, um servidor “troca” favores com o outro: “você não fiscaliza, eu não trabalho, e nós dois ficamos de papo para o ar, tomando café e garantindo nosso gordo salário no final do mês!”

Amigo, os servidores que não trabalham nesse ritmo lento são tão poucos... mas tão poucos...

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Mas passa o tempo e a inflação come nossos salários.
A minha categoria (privada), por exemplo, ainda está esperando o embate judicial entre SindPPD-RS e Seprorgs, para receber o dissídio de 2011! E um dos pontos da briga é justamente se o nosso aumento será o base de 2011 (6,66%) ou teremos um aumento real (8,79%). Aumento de 2012? Esperemos novembro para começar as conversas...

Agora, esses servidores federais? Alguns pedem mais de 50% de reajuste! Sim, 50% sobre salários que chegam a 12 mil reais!
Sinceramente, a assembléia e a greve são direitos assegurados e inalienáveis do trabalhador. Mas tenhamos o mínimo de decência no uso deles, por favor!
Os servidores públicos querem fazer greve? Façam. Exijam seus direitos e aceitem o que a justiça determinar como correto, em última instância.
Mas agora vêm os maiores problemas e a razão desse texto:
Exijam seus direitos, mas cumpram corretamente seus deveres, ok?
Porque, servidores públicos federais, vocês são pagos pelos impostos do povo, para cuidarem do nosso país. E vocês só têm o seu bom emprego, porque o resto de nós está ocupado demais trabalhando na iniciativa privada. Lutando para produzir de verdade. Lutando para exportar nossos produtos. Essa exportação é que trás dinheiro para o país. Dinheiro que nossos governantes taxam, sobretaxam e ainda pedem gorjetas. E todos esses impostos servem para pagar a estrutura de trabalho de vocês e os seus vultosos salários.

É. Falei mesmo. Você (servidor público) só tem trabalho porque eu (trabalhador privado) não tenho tempo para fazê-lo. Eu (trabalhador privado) pago para que você (servidor público) mantenha a ordem, limpe a cidade, construa bens públicos, cuide do trânsito, cuide da saúde da população, do saneamento básico e eduque a próxima geração. E, mesmo assim, muitas vezes o trabalho de vocês é tão ruim, que pagamos novamente a trabalhadores privados, pelo mesmo serviço.

Ah tivesse tempo, eu, de ganhar a vida E ajudar o público. Faria de graça.

Mas voltemos aos servidores públicos e sua greve. Por favor, quando ganharem seu aumento (maior que o meu) lembrem-se que é o meu trabalho que dá razão do seu trabalho existir. Coloque-se no seu lugar e, por favor, execute o seu trabalho com eficiência, qualidade e, de preferência, com um sorriso no rosto. Ok?

Afinal de contas, servidor, você também paga os mesmos impostos, para ter os mesmos serviços. E aposto que você não gosta do modo como muitos dos teus colegas te atendem, não é?

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Aí, abro o jornal e vejo que, como protesto, policiais federais estão fazendo operações padrões em aeroportos. Atrasando vôos por causa de inspeções minuciosas.

É só impressão minha, ou eles deveriam fazer operações como essas, todos os dias, em todos os horários, em todos os vôos? Afinal, a operação é PADRÃO, não é? Deveria ser rotineira, para evitar o tráfico de drogas, de armas, seqüestros de menores e fuga de procurados e suspeitos. Mas não. Não fazem o seu trabalho corretamente. E, pior, utilizam o seu trabalho PADRÃO como uma PUNIÇÃO para o trabalhador comum. Que não tem poder de decisão sobre o seu salário, embora o pague, compulsoriamente.
E sabe o que acontecerá daqui a pouco? Algum servidor ou policial virá aqui dizer que “não é bem assim”. Que “o que tu disse não está em lei nenhuma, Arthur” ou afins. Claro que não está. Mesmo porque, se estivesse, você estaria trabalhando de acordo. O que eu estou escrevendo é o moralmente correto e que deveria ser feito. Mas não é efetuado justamente porque nossas leis, estatutos e você próprio, mau servidor, são corruptos e amorais.

Mas, no fim, eu quero ver o salário de todos esses servidores aumentados exatamente na porcentagem que eles estão pedindo. Quero vê-los satisfeitos. Talvez, então, nós vejamos as operações padrões não só no nome, mas no dia-a-dia. Sendo efetuadas da melhor forma possível, por trabalhadores contentes com o que estão recebendo por seu trabalho. Veremos crianças aprendendo de verdade em sala de aula. Veremos as doenças serem curadas, os surtos erradicados. Veremos paz no trânsito. Veremos uma sociedade mais ordeira.

Talvez, pagando o que eles pedem, nosso país melhore um pouco, não?

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